'Granfluencers'. Idosos fazem furor no TikTok
Têm milhões de seguidores e fintam todos os preconceitos associados com a idade.
© Créditos: Jonathan Cooper/Unsplash
Do alto dos seus 89 anos, Dolores, também conhecida como @dolly_broadway no TikTok, afirma estar a "viver a sua melhor vida", que ilustra através de vídeos divertidos que faz para milhões de subscritores. Tal como ela, várias pessoas séniores afirmam-se na plataforma, afastando preconceitos.
Dolores Paolino, uma americana com 2,4 milhões de fãs e uma silhueta marcada pelos anos, destaca-se na rede social emblemática da geração Z.
Ler mais:Luxemburgo. 71% dos idosos utilizam a internet diariamente
Sorridente e bem vestida, nada detém esta senhora, que pode ser vista a dançar ao som de êxitos dos Abba, a beber cocktails em bares ou ainda a exaltar as vantagens de um vibrador.
"A idade de hoje não tem nada a ver com a idade de antigamente", declarou à AFP Serge Guérin, sociólogo e especialista em envelhecimento. "As pessoas mais velhas não precisam apenas de medicamentos e de calma, podem também estar em grande forma."
Sobretudo porque estão mais conectadas à Internet. Segundo o instituto americano Pew Research Center, se em 2010 apenas 10% dos americanos com mais de 65 anos estavam registados nas redes sociais, em 2021 eram 45%.
Na Europa, outros "granfluencers", como começam a ser chamados do outro lado do Atlântico, comprovam também esta força da idade.
"Os idosos não devem ser um assunto tabu"
É o caso da alemã @erikarischko (1,3 milhões de subscritores), uma entusiasta da boa forma física de 83 anos, da francesa @studiodanielle (2,3 milhões) com os seus vídeos humorísticos, ou de Nicole Tonnelle, aliás @nicoletonnelleyoutubeuse, uma antiga esteticista de 72 anos que defende o "envelhecer bem".
Esta reformada, já ativa no YouTube e no Instagram, lançou-se no TikTok há seis meses. No início, as pessoas diziam: "O que é que esta velhota está aqui a fazer?", recorda, explicando que ainda há poucos influenciadores seniores em França, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos.
Ler mais:Luxemburgo é um dos países da UE onde as pessoas se reformam mais cedo
Hoje, com quase 140 000 seguidores, Nicole dá conselhos de beleza às mulheres da sua geração e faz desde tutoriais de maquilhagem a provas de roupa. É também uma forma mais tranquilizadora de abordar o envelhecimento.
"Não é fácil ver o rosto, o cabelo e o corpo mudarem, mas quanto mais cuidarmos de nós próprios, melhor nos sentiremos", declarou à AFP. "Ser bonita não é uma questão de idade."
Esta atividade permite-lhe complementar a sua modesta pensão graças a algumas parcerias remuneradas. Além disso, dá visibilidade aos idosos, que, segundo crê, estão pouco representados na Internet e nas redes sociais.
"Os idosos não devem ser um assunto tabu. Sim, nós existimos, e até ao fim das nossas vidas!", defende.
O idadismo, ou seja, todos os preconceitos e discriminações ligadas à idade, está presente nas nossas sociedades, "onde a fragilidade, a doença e até a morte são muitas vezes escondidas", diz Serge Guérin.
"É revigorante interagir com os mais jovens"
Nos Estados Unidos, alguns vídeos da célebre Lillian Droniak, @grandma_droniak, de 93 anos e com 9 milhões de subscritores, estão a causar furor ao abordar esta questão. Os vídeos mostram-na a antecipar o seu funeral, desde a lista de convidados até à roupa ou ao batom que gostaria de usar.
Na Califórnia, quatro amigos homossexuais com idades compreendidas entre os 66 e os 79 anos (Mick, Jessay, Bill e Robert) também estão a ter uma ascensão meteórica com a sua conta @theoldgays, criada no final de 2020 e que conta já com quase 11 milhões de seguidores.
Ler mais:Trabalha-se uma vida e a pensão não chega para viver no Luxemburgo
Uma série de coreografias, figurinos por vezes extravagantes, por vezes discretos, mas por detrás deles, o desejo de estabelecer uma ligação entre gerações - o TikTok no papel de "denominador comum" - e, para além disso, o de ser um farol para os homossexuais que precisam de orientação.
"É extremamente revigorante interagir com os mais jovens, o que nunca acontece", diz um deles, Bill Lyons, 79 anos. "Eles ouvem os nossos conselhos, alguns consideram-nos mesmo seus avôs."
Os vídeos são o seu "legado", disseram à AFP numa entrevista em vídeo a partir da sua casa em Cathedral City.
Por seu lado, Jay Martin, de 69 anos, também vê nisto uma forma de continuar a existir na sociedade: "Pensei que ia passar os meus últimos anos na obscuridade, mas agora é como se fôssemos imortais."