Já fui vítima de violência doméstica
Estas são apenas algumas das frases e dos comportamentos a que fui sujeita.
"Vais sair assim vestida? Com esse decote e com as pernas à mostra? Achas bem?"; "Não sejas estúpida!"; "Não gosto daquela tua amiga, acho que devias deixar de te encontrar com ela!", "aquele ali, de certeza que já dormiste com ele!".
Estas são apenas algumas das frases de que me lembro ouvir. E que nunca devia ter ouvido. Principalmente porque estão a ser ditos por alguém de quem nunca pensaríamos ouvir coisas destas.
Porque são claros sinais de agressões verbais e desconfianças a que nunca deveremos estar sujeitas/os. Depois vai tudo em crescendo até que, um dia sem perceber como, nem porquê, levamos uma estalada na cara. E só então percebemos onde estamos metidas/os.
O mais importante é sair da situação, denunciar e procurar ajuda. Para não acabarmos a viver um pesadelo que pode não ter fim.
E depois há aqueles episódios graves, que queremos esquecer, em que não nos apetecem momentos de intimidade, mas que acabamos por os ter porque somos pressionadas/os. Mas quando isso acontece não estaremos a ser sujeitas/os a uma espécie de violação? Talvez, o mais importante, seja perceber o que nos levou a ceder nestas pequenas coisas. E nunca mais voltar a deixar que aconteça.
Saiba interpretar os sinais
As agressões podem começar por pequenas coisas, que aparentemente não têm qualquer significado. A Câmara de Paris divulgou uma régua a que chamou "le violentomètre" (violentómetro) com o objetivo de lutar contra a violência feita às raparigas nas escolas. E foi ao consultar este documento que descobri, que afinal já tinha sido vítima de violência doméstica. Vezes demais.
A régua que mede a escala de violência doméstica enuncia as situações a que devemos estar atentos e dizer não. Há violência quando ele/ela te ignora nos dias em que está zangado. Há violência quando ele/ela faz chantagem quando te recusas a fazer alguma coisa. Há violência quando rebaixa as tuas opiniões e os teus projetos. Há violência quando te rebaixa em público. Há violência quando te manipula. Há violência quando está com ciúmes permanentemente. Há violência quando controla as tuas roupas, a tua maquilhagem e as tuas saídas. Há violência quando vê as tuas mensagens, emails e aplicações. Há violência quando insiste que envies fotos íntimas. Há violência quando te isola da tua família e amigos.
Mas depois há o momento em que devemos pedir ajuda e proteger-nos
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Estás em perigo quando te empurra ou te bate. Estás em perigo quando te toca nas tuas partes íntimas sem o teu consentimento. Estás em perigo quando ameaça publicar as tuas fotos íntimas. Estás em perigo quando te obriga a ver filmes pornográficos. Estás em perigo quando te obriga a ter relações sexuais. Estes são alguns dos comportamentos a que temos que estar alerta.
As autoridades que fizeram este violentómetro ecordam que o consentimento é concordar de forma consciente, livre e explícita num determinado momento por uma situação precisa. Tem direito à sua escolha quando quiser e pelas suas razões. Não tem que se justificar nem submeter-se a pressões.
Se acha que está a ser vítima de violência doméstica pode ligar para o número 2060 10 60 ou recorrer ao mail info@helpiline-violence.lu.