Xavier Bettel: "Quero continuar como primeiro-ministro"
O atual líder do Governo garantiu que medidas como a redução de horas de trabalho "não vão acontecer" enquanto estiver no poder.
© Créditos: Anouk Antony
Durante a entrevista de Ano Novo na RTL, o primeiro-pinistro do Luxemburgo, Xavier Bettel, reafirmou o desejo de permanecer como líder do Governo, após as eleições que se realizam este ano.
Bettel quis, assim, acabar com os rumores de que poderia ter outro cargo no radar. Apesar da existência de "ofertas de emprego interessantes", seria "irresponsável causar um período de instabilidade política", afirmou. No passado, Bettel já recusou ofertas importantes como, por exemplo, o cargo de Presidente do Conselho Europeu, que lhe foi sido oferecido pelo presidente do Conselho da Europa, Charles Michel.
"Se eu tiver a oportunidade de ser primeiro-ministro após as eleições, aceitarei o meu mandato", anunciou. Mas lembrou que ainda não é tempo de campanha eleitoral. "Temos um mandato até às eleições. Ficaria feliz se conseguíssemos evitar uma atmosfera de campanha eleitoral interna no seio do governo". A coesão baseia-se numa relação de confiança que deve ser "respeitada", acredcentou. "Não somos uma fusão de três partes (Partido Democrático (DP), Partido Socialista (LSAP) e déi Grén (Os Verdes)). Nós temos três DNA's diferentes", disse ainda.
Se as previsões da Sonndesfro, encomendadas pela RTL e Luxemburger Wort, se confirmassem e o DP ficasse em segundo lugar, Xavier Bettel afirmou que está preparado para assumir um cargo ministerial - mas não ficaria particularmente satisfeito. "Devo admitir que preferia ser primeiro-ministro. Mas é claro que o espírito de equipa também é válido quando não se é líder".
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Apesar da relação competitiva que os dois protagonistas terão no período que antecede as eleições, Bettel tem uma boa relação com a atual vice-primeira-ministra e a favorita para o cargo de líder do governo, Paulette Lenert (LSAP).
Na pandemia de covid-19, tornaram-se parceiros. "Eu transmitia as más notícias e a Lenert tranquilizava as pessoas. Éramos um bom par", lembra.
Temas de debate e alguns "nãos"
Durante a entrevista, embora Xavier Bettel não quisesse comprometer-se com temas relevantes para as eleições, alguns tópicos foram falados, como a redução do tempo de trabalho, "index" limitado, construção de habitações e reforma fiscal.
Havia também a questão de uma possível redução do horário de trabalho que o LSAP pretendia na coligação governamental, mas Bettel não partilha do entusiasmo. "Não haverá redução das horas de trabalho connosco. Penso que deve continuar a ser feito 'à la carte'. Se eu quiser trabalhar mais ou menos, posso falar com o meu chefe".
Segundo Bettel, os sindicatos pediram ao governo para excluir a ideia de um índice "limitado" das negociações tripartidas. © Créditos: Alain Piron
Em relação à tão esperada reforma fiscal, que também é apoiada pelo LSAP, Bettel reafirmou a vontade de continuar à espera de mais margem de manobra financeira no futuro. "Quem quiser prosseguir uma política social deve também ter os meios para o fazer", acrescentou. "Sou um daqueles que sabem que tem de se ganhar dinheiro antes de o gastar", reforçou.
Bettel também se opôs a um limite do "index". "A sua implementação exigiria uma maioria política", que não é, atualmente, o caso, segundo o Chefe do Governo. Além disso, os sindicatos não estão preparados para discutir a questão, defendeu. "Os sindicatos pediram-nos antes da última tripartida para não discutirmos o tema", explicou o primeiro-ministro.
Conversas telefónicas com Putin e Zelensky
Para além da política interna, Bettel também falou da guerra na Ucrânia. Do ponto de vista do Luxemburgo, o primeiro-ministro espera que a dinâmica de solidariedade que tem prevalecido se mantenha. O pior, na sua opinião, seria que os relatórios do país normalizassem a guerra. "A guerra está para durar e nós temos a obrigação internacional de continuar a apoiar a Ucrânia."
Bettel ficou hesitante quanto às declarações do Presidente francês Emmanuel Macron de que, num cenário em que a Ucrânia e a Rússia se sentassem na mesa de negociações, a Rússia precisaria de "garantias de segurança". "É difícil. Ou ganhamos a guerra ou negociamos. Não sou um perito, apenas vejo que é uma situação difícil".
A esperança de Bettel é que as duas partes entrem em negociações por si próprias, mas acredita que isso é pouco provável no momento atual. O "ímpeto das negociações há muito que se perdeu", diz, mesmo que um lampejo de esperança fosse visível no início, quando ainda estava em contacto com as duas partes em conflito.
Em relação às chamadas telefónicas alternadas com o Presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, e o Presidente Vladimir Putin, Xavier Bettel explicou à RTL que não se arrependeu de as ter realizado.
*Artigo original publicado no jornal Luxemburger Wort e adaptado para o Contacto por Ana Patrícia Cardoso.