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Usar máscara ou não, eis a questão

O debate sobre a utilização de máscaras de proteção marca o atual combate à pandemia da covid-19. Obrigatória para uns, nem tanto para outros, a questão tem gerado dúvidas entre a população mundial e até entre os membros da comunidade científica.

© Créditos: AFP

Alvaro Antonio Silva Da Cruz

As opiniões dividem-se e o debate voltou a instalar-se com o anúncio recente de vários países que determinaram o uso de mmáscaras obrigatório em locais públicos. Por seu turno, a Organização Mundial de Saúde (OMS) insiste que devem ser usados essencialmente por pessoas infectadas e profissionais de saúde.

Com o agravar da crise sanitária, vários países mudaram de discurso e nas últimas semanas recomendaram o uso de máscaras. A mudança de estratégia mais surpreendente ocorreu nos Estados Unidos, quando o Presidente, Donald Trump, anunciou que as autoridades de saúde aconselham, agora, que todos os cidadãos cubram o rosto ao saírem de casa.

As diferenças do uso de máscara entre Oriente e Ocidente

Na Ásia, o uso de máscara é comum em grande parte dos países, tanto para proteger as pessoas saudáveis como as doentes, com resultados positivos em muitos deles. Já no mundo ocidental é mais invulgar e a maioria da população nem sempre a sabe usar. Esta é uma das razões que levaram a Organização Mundial da Saúde a desaconselhar o seu uso de forma generalizada.

O único país do ocidente que a tornou obrigatória desde o início do covid-19 e está a obter resultados encorajadores é República Checa. A experiência neste país começa a ser estudada pelo resto da Europa e já há outros a rever as suas posições. Na Áustria, o primeiro-ministro, Sebastian Kurz, decretou desde 1 de abril o uso obrigatório de máscara para trabalhadores e clientes de estabelecimentos alimentares. Mas países como Bulgária, Eslováquia e Eslovénia também já adotaram o uso generalizado de máscara.

Entre a comunidade cientifica ainda não existe um concenso, mas a maioria das organizações internacionais estão a adotar posições a favor da recomendação generalizada do uso de máscaras.

Portugal poderá também adoptar uso generalizado de máscara

Marta Temido, ministra da Saúde portuguesa, anunciou recentemente que a Direção Geral da Saúde (DGS) pediu um parecer sobre o uso generalizado de máscaras para evitar a propagação da covid-19, tendo sido aconselhada a equacionar a medida. “A DGS pediu um parecer ao coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Luta contra as Resistências Microbianas e esse parecer vai no sentido de equacionar o uso mais amplo das máscaras.”

“Sabemos que em algumas circunstâncias a correta utilização de máscaras é importante, mas esta deve ser acompanhada por um conjunto de outras medidas para ter um efeito suficientemente protetor”, vincou.

Uso de máscara no Luxemburgo destinado só a certas profissões

A associação grã-ducal de defesa dos direitos dos doentes, “Patiente Vertriedung”, também reivindica máscaras de proteção para toda a população do Luxemburgo para limitar a propagação da pandemia.

A mensagem transmitida à população pelo Ministério da Saúde é a de que a máscara não é 100% segura, argumento que no entender da associação de defesa dos direitos dos doentes se prende com o facto de as autoridades pretenderem evitar alarmismos e também para evitar uma redução do ‘stock’ de máscaras reservado aos profissionais de saúde.

No país, são já muitos os especialistas a apelarem ao uso dessa proteção face à covid-19, o que leva a “Patiente Vertriedung” a exigir do Governo que disponibilize “uma certa quantia de máscaras por cada agregado familiar”, tendo em conta que os hospitais “têm agora uma reserva suficiente”. A organização defende ainda e lembra que “vários países generalizaram a obrigatoriedade do uso de máscaras respiratórias para conter o novo vírus.”

O Contacto falou com Laura Valli, assessora da ministra da Saúde, Paulette Lenert, que foi clara quanto às recomendações dos responsáveis luxemburgueses.

“A polémica quanto à utilização das máscaras subiu de tom nos últimos dias, mas o Ministério da Saúde entende que estas devem ser apenas utilizadas por um grupo restrito de pessoas e profissões, essencialmente as ligadas ao setor da saúde”, precisou.

Tipos de máscaras e a sua eficácia

A máscara cirúrgica, que cobre a boca e o nariz, é usada principalmente por médicos e assistentes. Quando se tosse ou espirra, a maior parte das gotículas expelidas permanece na máscara, mas de todas é a menos eficaz. Além das máscaras cirúrgicas, há também as que filtram o ar, feitas a partir de fibra de celulose com elementos filtrantes e uma válvula expiratória. De acordo com as normas da União Europeia, estas máscaras são divididas em várias classes de proteção e possuem o chamado fator FFP (Filtering Face Pieces – Peças Faciais Filtrantes, em português). São as melhores, mas também mais caras e raras.

Máscaras com nível de proteção FFP-1 são melhores do que as cirúrgicas, mas não oferecem a proteção desejada contra o vírus. Apenas as máscaras da classe FFP-3 protegem as pessoas de vírus, bactérias, fungos e, quando usadas corretamente, até de substâncias altamente tóxicas.

Mas o Instituto Robert Koch, responsável pelo controle e prevenção de doenças na Alemanha, aconselha, também, o uso de máscaras FFP-2, consideradas suficientemente eficazes. No entanto, além do uso de máscaras, para que a eficácia seja total no combate ao vírus, é fundamental que todos respeitem e cumpram as medidas de higiene, evitem os contactos, mantenham a distância social e sobretudo fiquem em casa.

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