Contacto
Tiroteio

Tiroteio em Villerupt. "Os portugueses estão com medo"

Na cidade, reina agora a "insegurança". O relato de quem viu o "banho de sangue" e o temor da "vingança".

Guy Amadou relata o pânico, o ferido caído próximo do seu café e o banho de sangue que foi o tiroteio.

Guy Amadou relata o pânico, o ferido caído próximo do seu café e o banho de sangue que foi o tiroteio. © Créditos: D.R.

Nesta segunda-feira, em Villerupt, o tiroteio do qual resultaram cinco feridos, entre os quais um jovem português, ocorrido no sábado ao final da tarde, continuava a dominar as conversas na cidade francesa situada a menos de 10 quilómetros do Luxemburgo.

O suspeito dos disparos, que terá usado uma "metralhadora", foi detido esta segunda-feira de manhã, mas a detenção não descansa os residentes de Villerupt, a pequena cidade onde habitam 10 mil pessoas, entre elas cerca de dois mil portugueses.

Ler mais:Português de 19 anos entre os feridos do tiroteio de Villerupt

O local onde ocorreu o tiroteio é conhecido de todos e das autoridades como ponto de venda de droga, aliás, numa das paredes está escrito quanto custa o preço das gramas de cocaína, de “shit” e de outros estupefacientes.

Um poiso estratégico que fica a poucos metros de distância da paragem de autocarros que partem e chegam do Luxemburgo, nesta cidade que também é próxima da Bélgica e estratégica para este tráfico. Por isso, as autoridades suspeitam que a violência esteja relacionada com os negócios da droga.

“Todos sabíamos o que se passava por ali. Por isso, o que aconteceu no sábado foi e não foi uma surpresa. E ainda hoje toda a gente só fala do tiroteio com preocupação”, declara ao Contacto Sandra D., residente em Villerupt há mais de 40 anos. “Acho que no fundo já esperávamos, mas custa ver que aconteceu mesmo”, admite. Esta portuguesa conta que o tráfico de droga naquele local, bem no centro da cidade, preocupa todos os residentes, entre eles os portugueses. “Eles [os traficantes] estão sempre lá. Uma coisa destas temia-se que podia vir a acontecer”, desabafa.

Aconteceu e com grande violência. “Agora, os portugueses estão com medo”, frisa Sandra D. “Estamos mal. Não nos sentimos nada seguros. Algo assim pode muito bem voltar a suceder”. Por isso, esta residente apela a que haja “mais policiamento, mais vigilância que possa travar o tráfico e a escalada de violência associada” em Villerupt.

“Vingança” pelo “banho de sangue”

“A violência vai voltar a acontecer. Agora vai ser por vingança por causa do tiroteio e dos feridos”, estima ao Contacto Guy Amadou, proprietário do café Au Point Central, situado muito próximo do local dos disparos, na praça Jeanne D’Arc, que esta manhã ainda continuava com polícias, que não abandonaram o local desde o incidente.

Ainda agora, Guy Amadou continua incrédulo com o que testemunhou no sábado passado, “entre as 18h30 e 19h00”. Como era um final da tarde de fim de semana, a esplanada estava cheia de gente.

“De repente, ouvi o que pareciam ser rajadas de vento. Depois apercebemo-nos que eram tiros e um homem vem em direção ao café e cai aqui perto. Tinha levado um tiro no braço. Os clientes entraram todos em pânico e fugiram para dentro do café”, lembra Guy Amadou.

Menor luxemburguês atingido

Por perto, estavam uns socorristas que acorreram ao homem caído, pedindo depois ajuda, relata. “Chegaram os bombeiros e depois a polícia. Entretanto, já nos tínhamos aproximado do local do tiroteio. Havia um banho de sangue no chão. Era horrível”, recorda o proprietário realçando que “nunca tal tinha acontecido em Villerupt”. 

No tiroteio, um jovem português de 19 anos ficou ferido, anunciaram as autoridades, indicando ainda as nacionalidades das restantes vítimas.. Quer o português, quer uma outra vítima, francesa, não correm risco de vida, contudo, os disparos atingiram três pessoas com gravidade, entre elas um menor luxemburguês de 17 anos, que teve de ser operado no domingo de manhã à cabeça, onde foi atingido pelas balas, um francês de 20 anos que ficou ferido no peito, "perto do coração", e uma mulher argelina de 30 anos, atingida na anca.

Para Guy Amadou o problema tem de ser abordado em duas vias: “Além de um maior policiamento para dissuadir o tráfico tem de se apostar na prevenção ao nível da juventude quer ao nível do consumo quer do tráfico”, pede este residente.

Ler mais:Tiroteio na fronteira do Luxemburgo. Município francês pede mais meios

O dinheiro ganho no tráfico da droga seduz os jovens. “Um jovem, pequeno dealer, consegue fazer, pelo menos, 100 euros por dia a traficar. Esse é o problema”, vinca o dono do café. “Outro dia consegui convencer um desses jovens a deixar o tráfico e a ir trabalhar como mecânico numa oficina de um amigo. Não aguentou porque viu o que o dinheiro que ganhava ali era bem menos do que no tráfico. Há que mudar esta forma de pensar dos jovens e isto só é possível com a prevenção”, apela Guy Amadou.

O empresário defende a mesma medida para travar os consumos na adolescência e juventude. “São cada vez mais os jovens a consumir e cada vez mais os jovens a vender e isto tem de acabar”, reforça este residente de Villerupt.

NOTÍCIAS RELACIONADAS