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Guerra Ucrânia

Shifflange. Quase 30 gatos recém-chegados da Ucrânia procuram donos no Luxemburgo

Durante uma semana, Jennifer Pauwels visitou refúgios de animais abandonados pelos donos, na Ucrânia. Na ida, levou 15 toneladas de rações e medicamentos para doar. A equipa trouxe os gatinhos para o seu centro em Shifflange para serem adotados.

Jennifer Pauwels e o marido Sacha André com alguns dos primeiros gatinhos, chegados em março da Ucrânia, e que já foram adotados.

Jennifer Pauwels e o marido Sacha André com alguns dos primeiros gatinhos, chegados em março da Ucrânia, e que já foram adotados. © Créditos: Guy Jallay

Desde há duas semanas que 28 gatinhos, a maioria ainda bebés e recém-chegados da Ucrânia, saltitam pelo centro de animais de Jennifer Pawels, em Shifflange.

Estes pequenos animais foram abandonados pelos seus donos em fuga das bombas e ataques russos, e recolhidos por voluntários que os levaram para um refugio na cidade romena de Suceava, a 30 quilómetros da fronteira ucraniana. Foi lá que a luxemburguesa à frente de uma equipa de 11 motoristas voluntários os foi buscar, depois de previamente terem feito a quarentena e recebido todos os tratamentos necessários para poderem viajar até ao Luxemburgo.

Jennifer Pauwels, na missão de resgate na Ucrânia, junto a um dos cães que foi abandonado pelos donos, em Bucha.

Jennifer Pauwels, na missão de resgate na Ucrânia, junto a um dos cães que foi abandonado pelos donos, em Bucha.

Agora onze dos gatinhos salvos nesta missão foram batizados com os nomes dos motoristas que os transportaram da fronteira da Ucrânia atá ao Grão-Ducado. “Sascha, Roland, Payam, Martin, Farid, Slim, Guy, Leslie, Sonia, Nico e Jenni”, assim se chamam os animais recém-chegados, numa homenagem a quem lhes permitiu ter uma nova vida. Aliás, todos os animais resgatados são batizados por Jennifer Pauwels com nomes que tenham algum significado para os bichinhos.

Na viagem, iniciada a 4 de abril, a dona do abrigo de Shifflange levou ainda cerca de 15 toneladas de alimentos e medicamentos conseguidos através de uma campanha solidária de fundos para estes animais e que encheram quatro carrinhas. A maior parte dos bens foram entregues no centro “Save By The Vet”, em Suceava, mas também em refúgios de animais na Ucrânia.

Novo lar para a semana

Os quase trinta gatos, o mais novo tem três meses e a média cerca de um ano de vida, aguardam por uma nova família que os acolha no Grão-Ducado. E, não será difícil pois já existem várias reservas de futuros donos, como conta ao Contacto Jenifer Pauwels, numa conversa entrecortada por latidos dos cães, e pela vivacidade dos gatos na sua casa.

Na próxima semana, alguns deles já irão para um novo lar no Luxemburgo, sendo entregues às primeiras famílias que se inscreveram neste centro para os adotar e devolver-lhes uma vida serena e apagar os traumas sofridos. “Já há famílias portuguesas que se mostraram interessadas em adotar estes animais”, frisa a dona do abrigo realçando a “grande solidariedade” dos residentes.

Com a chegada de novos “hóspedes”, o centro conta agora com 80 animais à procura de donos, sobretudo gatos entre apenas 10 cães. Alguns, que já tinham chegado em março da Ucrânia trazidos por um voluntário mudaram-se para casa de Jennifer e do marido Sacha André, pulando e brincando pela residência. Dos dez gatos chegados da Ucrânia em março, cerca de metade já foi adotado.

Imagens da missão de resgate na Ucrânia

A preparar nova missão

Desta vez, na sua missão de salvamento, a luxemburguesa conseguiu trazer quase uma trintena de animais abandonados, mas como vinca, são centenas os que se encontram nos três centros de abrigo que visitou na sua missão de resgate na Ucrânia, e lhe partiram o coração. Por isso, já está a tratar dos processos para uma nova viagem de resgate que quer realizar com o marido, Sacha André, presidente da Associação para a Proteção dos Animais em Schifflange (APAS), em Junho, pela altura do Pentecostes.

“A grande maioria dos animais que chegam aos abrigos são animais de estimação que foram deixados pelos donos, e isso vê-se perfeitamente no seu comportamento. Há mais cães do que gatos, pois acho que é mais fácil na fuga viajar com um gato do que com um cão. Estes animais precisam de ser salvos, de encontrar novas famílias e por isso, quero voltar”, vinca Jennifer Pauwels.

No abrigo romeno “Save by the Vet”, em Suceava, continuam a chegar bichos quase todos os dias, alguns cães tinham chegado da devastada cidade de Bucha. A capacidade deste refúgio romeno está esgotada com 130 cães e vinte gatos”. Mais uma vez, será de lá que virão os próximos refugiados de quatro patas para o Grão-Ducado.

A dor dos animais

As imagens dos animais refugiados nos centros de abrigo à espera de serem salvos emocionam todos, ainda mais quando esta realidade é vivida no próprio local. “No início, chorei muito ao ver as pessoas a fugir com os animais da guerra e, quando se chega a estes refúgios e se vê estes cães e gatos, alguns feridos o sentimento de ajuda e a vontade de os salvar é muito forte”, confessa Jennifer Pauwels.

Em Suceava, a equipa luxemburguesa separou-se, a maior parte dela regressou ao Grão-Ducado com os 28 gatinhos a bordo, devidamente acomodados e com toda a documentação necessária para a longa viagem, enquanto Jennifer Pauwels e outros membros, continuaram a sua missão. Seguiram viagem até à Hungria, onde passaram a fronteira para a Ucrânia, entrando em Uzhhorod. Nesta região, a equipa esteve em três refúgios que acolhem animais oriundos de diversas partes do país em guerra.

Num deles, “dias antes da minha visita tinham chegado cães abandonados na zona de Kiev”, conta. Num dos centros, Jennifer Pauwels ajudou a financiar “a evacuação de 40 gatos e 10 cães” para fora da Ucrânia, com os donativos angariados no Luxemburgo.

Uzhhorod ainda se mantém uma zona calma, mas igualmente com cães e gatos perdidos que são levados para os refúgios, onde escasseia o espaço e os mantimentos, com a esperança de que muitos possam ser recolhidos pelos centros de abrigo do outro lado da fronteira.

A campanha angariou cerca de 10 mil euros que serão exclusivamente utilizados para salvar animais da Ucrânia, quer seja no país em guerra, nos centros junto à fronteira, mas também no Luxemburgo, onde Jennifer Pauwels está a “ajudar os refugiados que conseguiram trazer os seus animais”.