Crise de fé. O catolicismo está a perder importância no Luxemburgo
A espiritualidade ainda faz parte da vida dos residentes do país, mas o número de pessoas que se identifica com as religiões tradicionais caiu drasticamente na última década.
As crenças religiosas, em geral, e o catolicismo, em particular, estão a perder peso na sociedade luxemburguesa. © Créditos: AFP
As crenças religiosas, em geral, e o catolicismo, em particular, estão a perder peso na sociedade luxemburguesa. Um estudo divulgado esta quinta-feira, pelo Statec, mostra que a percentagem de pessoas que se identifica com as crenças e práticas religiosas tradicionais, sobretudo o catolicismo, caiu drasticamente entre 2008 e 2021, passando de 75% para 48%.
De acordo com o instituto de estatísticas do Grão-Ducado, a importância atribuída à religião também diminuiu no mesmo período, descendo de 42% para 24%. Em contrapartida, a percentagem de ateus e de pessoas que disseram não ter "nenhuma religião" aumentou acentuadamente, com mais de 20% a declararem-se ateus.
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Mesmo assim uma percentagem superior continuou a manifestar crenças espirituais. Segundo o Statec, mais de 40% das pessoas referiram acreditar num espírito ou poder superior e 15% disse crer na existência de um deus.
Mais de dois terços dos residentes do Luxemburgo não atribui importância à religião: 40,9% disseram que esta não tem qualquer importância e 35,4% afirmaram não ser importante, por comparação com 18,4% que a consideraram relativamente importante e 5,3% que a definiram como muito importante.
Religião católica continua a dominar
De acordo com o estudo, menos de metade dos inquiridos afirmou sentir-se incluído num culto ou tradição religiosa (48%, face a 52% que referiu o contrário). Entre os 48% que disseram sentir-se parte de uma cultura religiosa, a esmagadora maioria (85,3%) identificou-se como católica.
No total da população inquirida no Luxemburgo, o percentagem de pessoas que se assumia como católica, no período em análise, era de 41%.
Afastamento da religião foi acontecendo ao longo dos anos
O inquérito revelou também que dois terços dos inquiridos (67%) pertenciam a uma confissão religiosa quando tinham 12 anos de idade, o que revela que o afastamento da religião foi acontecendo ao longo dos anos. Segundo o Statec, o peso do fator idade na diminuição da ligação à religião situava-se nos 19%.
"O sentimento de pertença religiosa, particularmente no caso do catolicismo, que é dominante, explica-se menos pela fé e mais pela socialização (educação e adaptação às normas culturais), sendo que por vezes as pessoas se definem como 'pertencentes sem acreditar'", explica a análise do instituto de estatísticas luxemburguês.
Entre aqueles que assumiam ter uma crença religiosa, 63% declararam ser religiosos praticantes, enquanto um terço afirmou ser não praticante.
De resto, os dados do Statec revelam que 59% dos inquiridos não frequentavam cerimónias e cultos religiosos. Por outro lado, cerca de um quarto disse ser frequentador com alguma regularidade (semanal, mensal ou anual). Já 15,5% admitiu só frequentar os espaços de culto religioso para participar em determinados rituais ou festejos.
A importância de Deus
Em 2020, cerca de 60% dos inquiridos respondeu que Deus não era importante nas suas vidas, um número muito superior aos 39% com opinião semelhante, em 2008.
Neste período, a ausência de prática religiosa subiu de 52% para 60%, sublinha o Statec.
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No entanto, quando questionados sobre como autoavaliavam a sua relação com a religião, 37,6% consideravam-se como sendo pessoas religiosas, ao passo que mais de 44% não se definia como tal e 18% declaravam-se abertamente ateus.
Apesar disso, 40,1% disseram acreditar em Deus, contra 34,3% que manifestaram a opinião contrária e 20% que afirmaram não saber - 5% não responderam.
Vida depois da morte
Quase um terço dos inquiridos (30,7%) disse acreditar na vida depois da morte, enquanto 39,8% respondeu o oposto e 26,5% afirmou não saber.
Em relação à existência do paraíso, a esmagadora maioria mostrou-se cética, com 58,5% a dizer não acreditar e 17,8% a responder afirmativamente. No caso do inferno, foram 66,9% os que disseram não acreditar na sua existência, face a 10,1% que afirmaram crer.
Já relativamente à reencarnação, 61,8% mostrou-se descrente, enquanto 23,6% disse que acreditava.
Uma percentagem significativa de inquiridos, entre os 10% e os 20%, respondeu não saber às questões colocadas sobre o paraíso, o inferno e reencarnação da alma.
Mais de 40% acredita num poder superior
Com ou sem religião, acreditando ou não num deus, os dados revelados esta quinta-feira, pelo Statec, mostram que a maioria dos residentes vivia com algum grau de espiritualidade, no período estudado.
A análise do instituto divide os inquiridos entre aqueles que consideraram que existe um deus (14,9%), os que afirmaram acreditar num espírito ou poder superior (41,1%), os agnósticos (18,6%) e os ateus (21,4%).