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EntrevistaPresidente de Cabo Verde

"Queremos garantir uma maior inclusão dos cabo-verdianos no Luxemburgo"

O presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, valoriza a importância da diáspora no desenvolvimento de Cabo Verde.

© Créditos: SIP

Cabo Verde passou, em 2008, da categoria de país menos desenvolvido para a de país em desenvolvimento. Atualmente, está entre os países africanos com o maior rendimento per capita. Qual foi a chave para este sucesso? 

São sobretudo as instituições que existem em Cabo Verde. As instituições políticas e económicas são inclusivas e contam com a participação da sociedade civil e do setor privado. Mas há também os valores que todos os cabo-verdianos partilham: de liberdade, democracia, respeito pela lei. Há ainda, mas no plano internacional, o direito internacional, o respeito pelos direitos humanos e o respeito pela integridade territorial dos países, mas também a paz e a solução negociada dos conflitos no plano internacional. E, finalmente, a questão da boa governação.

Para nós, a boa governação é o nosso petróleo. Não temos recursos naturais tradicionais e temos de investir para que todos os cabo-verdianos possam viver bem, com dignidade e trabalhar para fazer o bem. Estes são os ingredientes para o sucesso do nosso país. Temos tambem uma diáspora que tem uma contribuição muito importante em termos de contribuições financeiras, mas também de ideias e as ideias são transformadoras, são muito, muito importantes para a modernização de Cabo Verde.

A pandemia de covid também atingiu as ilhas de Cabo Verde, imagino que em termos de crescimento económico, produtividade e nível de dívida... Quais são as medidas prioritárias para o governo neste momento e será que o Luxemburgo pode desempenhar um papel neste domínio? O que pensa do facto de o Luxemburgo ter recomeçado a servir Cabo Verde como destino turístico?

Bem, agora a prioridade é fazer a reconstrução do país após a pandemia. Estamos a trabalhar principalmente para garantir a diversificação da economia. O turismo é o motor do crescimento sócio-económico do nosso país. Mas temos de diversificar para novas áreas e para a economia azul. Somos 99% mar e menos de 1% terra. E temos de desenvolver todo o potencial que existe no domínio do mar. Há também os domínios das energias renováveis. 

Sim, existe também uma cooperação com o Luxemburgo...

Com o Luxemburgo, temos um grande potencial: sol. Eólica e hidrogénio verde. Há também os domínios da transição digital. Cabo Verde pode ser um centro internacional de investigação, de produção de equipamentos e de formação nestes domínios. Todos os domínios da economia azul, os domínios das energias renováveis, mas também os domínios da transição digital. Com o Luxemburgo podemos aprofundar as relações que são excelentes e que já existem para transformar Cabo Verde em todos estes domínios.

Já referiu a diáspora cabo-verdiana no país. O sistema educativo luxemburguês parece ser um grande obstáculo para a criança de origem cabo-verdiana que quer seguir uma educação clássica, com vista aos estudos universitários. Estes estudantes são muitas vezes direcionados para o sistema modular. O que deveria mudar nesta área? 

Estamos a trabalhar com o governo e a Educação é de facto um obstáculo. Mas podemos tornar possível a discriminação positiva dos cabo-verdianos. Há experiências, por exemplo, nos Estados Unidos, onde lançaram uma educação bilingue, e o desenvolvimento da formação com a língua cabo-verdiana e há uma discriminação positiva. Penso que essa é uma possibilidade de garantir uma melhor integração dos cabo-verdianos aqui no sistema educativo. É muito, muito, mas muito exigente para quem vem de Cabo Verde e penso que é possível e que podemos ver o caminho comum entre os nossos dois países para garantir uma melhor inclusão dos cabo-verdianos aqui no Luxemburgo.

(Entrevista publicada originalmente no Luxemburger Wort. Traduzida e editada para o Contacto por Madalena Queirós.)

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