Pais dos alunos sentem- se enganados - 19.06.2013
Maria de Fátima Rodrigues não quer acreditar. Deu 600 euros para o curso da filha de 23 anos. Convencida pelo facto de os cursos serem reconhecidos pelo estado luxemburguês, Maria de Fátima deu de bom grado o dinheiro à filha para frequentar o curso infantil e de unhas de gel. Há quinze dias chegou às instalações do IPFP e deu com a cara na porta.
Em Dezembro o IPFP tinha três turmas de francês e 54 alunas inscritas no curso de esatética. Agora fechou as portas © Créditos: Domingos Martins
"Ela já trabalha na creche há muito tempo, mas como não tem diploma e como viu a publicidade a dizer que a formação era reconhecida pelo estado luxemburguês, ela arriscou. Ao menos tinha um diploma. Ainda teve dois sábados de aulas, mas os formadores não a convenceram. Aquilo que lhe disseram já ela sabia. Ao fim dos dois sábados, nunca mais apareceu ninguém para dar o curso. Depois foi lá há duas semanas e a escola já estava fechada", conta Fátima Rodrigues ao CONTACTO.
"Aqueles senhores nunca tiveram uma única palavra a dizer, que não arranjavam pessoas que dessem as aulas, nem nunca nos informaram sobre a falência da escola. Enganaram-nos bem enganados. Quiseram receber o dinheiro e fugiram. Não sei que charlatão é este. A sala estava cheia de pessoas. Eles burlaram muita gente e vieram para cá para estragar a imagem dos portugueses aqui no Luxemburgo".
Fátima Rodrigues diz que a filha está numa "crise de nervos muito grande e já apanhou uma diarreia e tudo". "Caímos todos no mesmo buraco", desabafa.
Maria José Silva Nunes também tem uma história parecida.
"O meu filho queria ir aprender luxemburguês, mas só se inscreveu depois de ter chegado um amigo de Portugal. Foram os dois inscrever-se no IPFP. Pagaram 250 euros cada um. Ao fim da quarta aula, telefonaram-lhe a dizer que a escola ia abrir falência".
E pergunta: "Então, quando aceitaram a inscrição já sabiam que aquilo ia falir. Porque é que aceitaram? Quando os dois rapazes se inscreveram o curso já tinha começado, mas disseram-lhes que podiam fazer um bocado do segundo curso e no final até me disseram que mandavam o diploma para casa, ainda que não tivesse acabado o curso. Acha normal?"
O caso dos cursos do IPFP "reconhecidos pelo estado luxemburguês" já chegou às mãos do Ministério da Educação.
Fonte do Ministério garantiu ao CONTACTO que o "senhor Pinto Gomes estava a fazer coisas que não eram certas".
"Ele dizia que os cursos eram reconhecidos pelo Estado Luxemburguês, mas os cursos não são válidos. São apenas cursos de formação profissional contínua e os diplomas atestam apenas a participação no curso e nunca uma certificação passada pelo Estado luxemburguês".
O Ministério esclarece ainda que a autorização que Nelson Gomes possui do Ministério das Classes Moyennes" é apenas "uma autorização para abrir um estabelecimento comercial e não lhe confere o direito de passar diplomas de cursos".
O Ministério da Educação garantiu ao CONTACTO que a partir do momento em que tiveram conhecimento do caso, chamaram o médico e pediram-lhe para retirar o "reconhecido pelo estado luxemburguês" dos anúncios, mas não puderam fazer mais nada porque "ele dizia o que queria às pessoas oralmente e não há nada escrito", refere a mesma fonte.
Ainda segundo a fonte contactada pelo CONTACTO, Nelson Pinto Gomes tem um diploma de psicólogo reconhecido pelo Ministério da Educação do Luxemburgo.
O sindicato OGB-L também já está a par do caso dos cursos do IPFP. Lita Santos, delegada Sindical do OGB-L, diz que não só havia muitos filhos de trabalhadores nos cursos do IPFP, como também muitas mulheres dos serviços de limpeza que queriam aprender francês para conseguirem uma vida melhor. "Agora", diz a delegada sindical, "ficaram sem o dinheiro e sem o curso".
Domingos Martins