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"O velho reator nuclear belga pode pôr em perigo o Luxemburgo"

Roger Spautz da Greenpeace Luxemburgo alerta que o envelhecimento do reator Tihange 3 pode causar um acidente nuclear e atingir o Grão-Ducado.

Os dois reatores nucleares belgas deviam encerrar em 2025, mas o governo belga quer mantê-los a funcionar por mais 10 anos.

Os dois reatores nucleares belgas deviam encerrar em 2025, mas o governo belga quer mantê-los a funcionar por mais 10 anos. © Créditos: D. R.

Os dois reatores nucleares de Doel 4 e Tihange 3 da Bélgica tem 40 anos e deveriam encerrar em 2025, como estava previsto devido ao seu longo tempo de vida. Contudo, o governo belga decidiu prolongar o seu funcionamento por mais dez anos. A decisão final deverá ser tomada depois de junho.

Os estudos encomendados pelo governo da Bélgica e a operadora dos reatores minimizam os riscos de acidentes nos reatores a um nível que não coloca em causa a segurança ambiental e das populações.

Contudo, outros pareceres técnicos independentes, um deles encomendado pela Greenpeace Luxemburgo, alertam para a existência de um perigo real de segurança. "Os riscos mais importantes foram omitidos" dos estudos divulgados, assegura a Greenpeace Luxemburgo.

"Os dois reatores estão velhos, os seus materiais desgastados e a sua segurança fica ainda mais comprometida com o prolongamento do seu funcionamento. Existe um risco real de ocorrer um acidente, e eventualmente uma fuga de material radioativo", declara ao Contacto Roger Spautz, responsável pela campanha do nuclear da Greenpeace Luxemburgo, que na segunda-feira divulgou um comunicado alertando para esta situação.

"Evacuação" do Luxemburgo

Para o Luxemburgo o perigo maior vem, concretamente, do reator nuclear Tihange 3, situado a cerca de 70 quilómetros do norte do país. "Se houver fuga de materiais radioativos deste reator e, com condições meteorológicas propícias, como vento ou chuva, estes materiais podem chegar a grandes distâncias. No acidente em Fukushima, a radioatividade chegou a 80 quilómetros de distância, obrigando à evacuação das pessoas dessas zonas", lembra o ativista.

Roger Spautz estima que o mesmo possa acontecer "no caso de um acidente no reator de Tihange 3, havendo riscos de contaminação dos países vizinhos, como o Luxemburgo, Alemanha e Países Baixos".

No pior cenário, pode haver necessidade de evacuar as populações do norte do Luxemburgo.
Roger Spautz
Greenpeace Luxemburgo

No pior cenário, adianta, pode haver “eventualmente necessidade de evacuar as populações das zonas afetadas, como o norte do Luxemburgo” e os outros países.

O ativista lembra que nos maiores acidentes nucleares da história, o de Chernobyl, em 1986 na Ucrânia, e em Fukushima, Japão, em 2011, devido às condições meteorológicas, os elementos radioativos chegaram a vários países distantes levados pelos ventos e chuvas.

Os materiais radioativos que viajam com os ventos e se juntam à chuva podem contaminar os solos e as águas, colocando em perigo a saúde dos habitantes.

"Catástrofe nuclear"

Para o Greenpeace Luxemburgo, o país tem de reagir à decisão belga de prolongar o funcionamento dos reatores velhos cuja segurança não está garantida, como prova o estudo encomendado por esta organização, por outros especialistas belgas independentes e pelo projeto FlexRisk, que avaliou a segurança das centrais nucleares na Europa.

Há perigo potencial de uma catástrofe nuclear devido ao envelhecimento dos reatores belgas
Estudos científicos independentes

Estas análises científicas independentes alertam para o "perigo potencial" de uma "catástrofe nuclear" devido ao envelhecimento dos dois reatores belgas, que pode conduzir "à evacuação" dos países vizinhos e outros da Europa.

Encerrar os dois reatores como estava previsto é, para a Greenpeace Luxemburgo, a melhor solução, pois o seu tempo de vida estimado está no fim. Existem energias alternativas que podem substituir o nuclear.

Ao continuarem a funcionar por mais dez anos, como deseja o governo Belga, têm de ser tomadas medidas para "garantir a segurança": "há peças e mecanismos dos reatores que devem ser substituídos e deve ser construída uma proteção em redor dos reatores".

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Roger Spautz faz a comparação do envelhecimento dos reatores com o de um automóvel: “Uma viatura velha tem mais problemas, as peças estão gastas e aumenta o risco de acidentes. É o mesmo com estes reatores”.

Luxemburgo reage

A Greenpeace Luxemburgo pediu segunda-feira uma reunião com o ministro da Energia e Ordenamento do Território, Claude Turmes, para debater o prolongamento da vida das duas centrais nucleares.

Manter em funcionamento os reatores pode comprometer a segurança do Luxemburgo
Claude Turmes
Ministro da Energia do Luxemburgo

Claude Turmes já declarou publicamente a sua preocupação com a medida belga de manter em funcionamento os reatores, vincando também que estes podem “comprometer a segurança” do Luxemburgo.

Atualmente, está a decorrer uma consulta pública transfronteiriça sobre a extensão da vida dos dois reatores até ao próximo dia 20 de junho, um processo obrigatório levado a cabo pelo Ministério do Ambiente da Bélgica.

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