Nova escola internacional arranca com aulas em português
Carina Benavente, responsável pelo gabinete de enquadramento dos alunos (à esq.), e Jessy Medinger, diretora da Escola Internacional Gaston Thorn. E o cão Frodo. © Créditos: Chris Karaba/Luxemburger Wort
Na escola internacional Gaston Thorn um grupo de alunos vai aprender as principais disciplinas em português. Uma resposta para os muitos pais imigrantes que gostavam que os seus filhos fossem escolarizados na língua de Camões.
"Estamos todos prontos para começar, até o cão Frodo", diz entusiasmada a diretora da nova Escola Internacional Gaston Thorn, Jessy Medinger. Passeando pelos corredores, o cão com o nome da personagem da saga "O Senhor dos Anéis" é uma das muitas novidades deste projeto educativo.
"Quando faço entrevistas com os alunos eles podem fazer-lhe festas o que ajuda muitos a relaxarem e torna mais fácil a comunicação", afirma Carina Benavente, assistente social que trabalho para o apoio e o enquadramento dos estudantes nesta escola que abre as portas este ano letivo. "Há jovens que chegam muito zangados e tristes e podem sentar-se no sofá e fazer festas no cão e em poucos minutos isso ajuda a regular as suas emoções", revela. "Porque o cão tem um amor incondicional, o que é essencial para os jovens neste períodos da adolescência", sublinha.
Português como língua principal
A 48 horas do arranque do ano letivo distribuem-se livros pelos cacifos e dão-se os últimos retoques nas salas de aulas. A novidade do português como língua-mãe é uma das marcas de água desta escola que se quer afirmar como um viveiro de cidadãos para o mundo digital. "Para já temos quatro alunos que têm o português como língua principal (L1), é um grupo minúsculo, porque o ministério da Educação só há pouco tempo é que aceitou este projeto", revela Catarina Brummel, a professora que vai lecionar o português. O que significa que estes estudantes vão ter cinco horas por semana de aulas em português. Para além da língua, terão aulas de história e de artes em português.
Catarina Brummel, professora de português e espanhol na Escola Internacional Gaston Thorn © Créditos: Chris Karaba
Os alunos "continuam com a escolarização como se fosse em Portugal, de acordo com o sistema europeu", esclarece. "Ficámos surpresos com o número reduzido de alunos que se inscreveram no português, mesmo havendo muitas famílias portuguesas escolhem a secção francófona", sublinha a diretora da escola. "Mas esta pode ser a base para convencer os pais a colocar as crianças a aprender em português", sublinha a professora de português. Até porque a escola permite que "se tenham vários diplomas, como vários da formação profissional".
"O positivo de ter um grupo tão pequeno é que a partir do 6° ano que damos a literatura mundial e portuguesa podem fazer-se muito mais projetos. Queremos que tragam o foco cultural para a sala de aula e mostrar que a cultura portuguesa vai muito para além de Portugal. Podemos recorrer à música para lecionar a literatura, por exemplo, comparando as letras do fado português às da música moderna como o rap", argumenta Catarina.
Até porque há muitas crianças que "falam perfeitamente o português em casa, mas não o sabem ler nem escrever como deve ser", explica esta docente.
Para já ainda não há secção portuguesa, como a francesa, inglesa ou alemã. Mas já é ensinado o português como língua principal. Para nascer uma secção portuguesa terá que haver mais alunos e uma autorização do Ministério da Educação.
"Para o futuro, quando tivermos mais alunos queremos que todas as disciplinas principais sejam lecionadas em português", explica Catarina Brummel.
Ler mais:Novo ano letivo. Conheça o calendário das férias escolares no Grão-Ducado
E se houver mais interessados em aprender a língua de Camões, a partir do próximo ano letivo, há outra possibilidade de lecionar o português também como língua estrangeira para estudantes que não são portugueses.
Digital, música e democracia
"Os três pilares da escola são a música, o digital e a democracia. É muito importante ter alunos que compreendam que têm um poder na sociedade que saibam agir e criar a sociedade connosco e para que o possam fazer damos as competências necessárias", sublinha a responsável.
"O pensamento crítico, a reflexão, saber como trabalhar em grupo e como gerir a minha pequena turma", são algumas das valências fundamentais que querem transmitir. Não podiam faltar as competências digitais "para que não sejam vítimas das redes sociais e das fake news, e desenvolvam esse pensamento crítico", acrescenta. "Depois a música é uma língua universal, independentemente da língua de cada aluno, com a música podem estar juntos e criar a harmonia entre si", conclui. Situada no bairro de Merl, a escola vai contar com um acordo com o vizinho Conservatório de Música para que os seus professores ensinem os alunos desta nova escola internacional.
Ler mais:Regresso às aulas. Optar pelo caminho mais seguro e usar coletes refletores
O que não falta é variedade na origem dos docentes desta escola: "os professores vieram de todo o mundo, temos norte-americanos, irlandeses, belgas, português e espanhóis", sublinha a diretora.
A criação de cada vez mais escolas internacionais foi uma das respostas encontradas para ajudar na integração dos alunos filhos de imigrantes, nomeadamente os portugueses. "A população escolar no Luxemburgo é cada vez mais heterogénea, em termos de línguas faladas, percursos de vida, origens sócio-económicas e culturais", escreve-se na apresentação desta nova escola. Depois "há um forte crescimento demográfico do país com o aumento constante do número de alunos que se inscrevem na escola pública, tanto no ensino fundamental como no ensino secundário".
Para responder a este cenário "há que garantir as melhores hipóteses de sucesso quer aos alunos nacionais, quer aos que acabam de chegar de outros países". Para responder a este desafio "a diversificação e a flexibilização da oferta escolar e gratuita é uma das prioridades do Ministério da Educação".
Depois de terem inaugurado em 2016 as Escola Internacional de Differdange e Esch-sur-Alzette, "uma rede de escolas começou a ser desenhada no país".
Ler mais:Mais de 4.600 alunos frequentam escolas europeias públicas
Seguiu-se em 2018 o Liceu Lënster-Escola Internacional em Junglinster, a Escola Internacional em Clervaux e a Escola Mondorf – les-Bains. Em 2021 nasceu a Escola Internaciobal Mersch Anne Beffort.
Este ano é a vez da capital acolher a Escola Internacional Gaston Thorn com o objetivo de "assegurar uma melhor coesão geográfica da oferta do ensino europeu e propondo uma alternativa complementar ao sistema escolar tradicional". Todas estas escolas "oferecem aos alunos uma alargada oferta linguística, um ensino variado do ponto de vista cultural e uma escola a tempo inteiro gratuita e que pode levar à obtenção do 'Baccalauréat' europeu", diploma essencial para aceder às universidades em toda a Europa.