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Mãe de Bianka: "Não vais encontrá-la, eu fui ver, ela já não está lá"

Mesmo sem corpo, mãe da criança foi condenada a 30 anos de prisão. No caso da bebé Bianka, muitas coisas continuam por resolver. Mas não parecem haver dúvidas sobre a culpa.

No verão de 2015, as autoridades lançaram uma extensa operação de busca por Bianka nas imediações de um lago em Linger.

No verão de 2015, as autoridades lançaram uma extensa operação de busca por Bianka nas imediações de um lago em Linger. © Créditos: Gerry Huberty

O que teria sido de Bianka? Talvez tivesse sido curiosa e brilhante, cheia de energia e alegria de viver. No ciclo 2.2 (ensino primário), a criança de sete anos estaria agora a aprender a ler, a escrever e a fazer contas, a brincar com os amigos no pátio da escola nos intervalos.

Tudo isto continua a ser uma fantasia, uma bolha de sabão que rebenta demasiado depressa. Porque Bianka já não está viva. A menina morreu no verão de 2015, com alguns dias de vida. Os juízes da 13ª divisão criminal estão convencidos deste cenário.

Há quase oito anos que não há vestígios de Bianka. Não há um corpo nem um local do crime. No entanto, na semana passada, o tribunal condenou a mãe da criança a 30 anos de prisão. Sarah B. foi considerada culpada pela morte da filha. A sentença poderá ser inédita se a arguida não recorrer. Casos semelhantes são raros no país.

Sem os restos mortais da vítima e sem a cena do crime, faltam as provas mais importantes para a resolução de um homicídio. Os juízes tinham principalmente provas circunstanciais à sua disposição. No entanto, no final, não sobraram dúvidas sobre a culpa da mulher. Na sentença, revelam como chegaram à condenação.

Uma última vez

"É evidente que Bianka desapareceu, mas também que Bianka era uma recém-nascida que não era capaz de desaparecer por sua própria iniciativa", disseram os juízes. Consequentemente, era evidente que alguém tinha de assumir a responsabilidade por isto.

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Segundo a investigação, a criança foi vista pela última vez por testemunhas a 15 de junho de 2015, nove dias após o nascimento. Trabalhadores tinham visto Sarah B. numa lagoa entre Pétange e Linger. Disseram que a mulher se comportou de forma suspeita.

Contudo, o desaparecimento de Bianka só foi notado no início de julho, pouco depois de um juiz de menores ter retirado a custódia à mãe da criança. Sarah B. já tinha sido acompanhada pelos serviços sociais durante a gravidez devido à situação em que vivia. Pouco depois do nascimento de Bianka, a mulher voltou a atrair a atenção dos assistentes sociais devido à falta de cuidados com a filha.

Nenhuma pista leva à criança

A 3 de julho de 2015, quando agentes da Unidade de Proteção Juvenil do Departamento de Investigação Criminal foram buscar Bianka, já não havia vestígios da bebé. A mãe recusou-se a dar informações sobre o paradeiro da filha. Foi detida e passou os 14 meses seguintes em prisão preventiva. Até hoje, permanece em silêncio sobre o paradeiro da bebé.

Durante cinco semanas, a polícia virou cada pedra à volta da lagoa perto de Linger. Depois dos mergulhadores também não encontrarem sinais de um corpo, o lago chegou a ser esvaziado. Sem sucesso. Apenas foram encontrados vestígios do ADN da criança numa roupa de bebé e num pano.

As autoridades investigaram Sarah B., foram seguidas inúmeras pistas, gravadas conversas telefónicas, interrogadas testemunhas. O pai da criança chegou a ser identificado. Mesmo a vigilância da mãe, após a sua libertação, não produziu qualquer nova informação. Nenhuma pista levou a Bianka.

Durante semanas, as autoridades procuraram Bianka no interior e à volta do lago "am Wäissebrill", entre Pétange e Linger.

Durante semanas, as autoridades procuraram Bianka no interior e à volta do lago "am Wäissebrill", entre Pétange e Linger. © Créditos: Polícia

Os juízes consideram impossível que a criança esteja com outra família, como a mãe afirma desde o início. Não só não existem provas que confirmem essa situação, como Sarah B. também não tem nem as competências, nem o apoio, nem os meios financeiros para implementar um tal "plano diabólico", de acordo com o tribunal.

Menos de 2,5 quilos

Bianka não foi, contudo, simplesmente engolida pelo chão. Segundo os juízes, existem várias explicações para o facto de os restos mortais humanos da criança nunca terem sido encontrados, apesar de todos os esforços. Afinal, a criança pesava menos de 2,5 quilos e tinha menos de 50 centímetros de altura. Poderia ter sido possível que um predador tivesse encontrado o cadáver ou que a mãe tivesse depositado o bebé num dos caixotes do lixo na área do lago. Apesar dos contentores terem sido esvaziados antes do início da investigação.

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O tribunal não consegue compreender o destino de Bianka. No entanto, os juízes assumem que a desnutrição e a falta de higiene acabaram por levar à morte da criança. De acordo com a investigação, Sarah B. vestia Bianka com pouca roupa, dava-lhe comida insuficiente e inadequada e mantinha a criança em condições pouco higiénicas.

De acordo com uma conhecida da mãe, a criança não emitia sons a 14 de junho de 2015. Nesse dia, a mulher não tinha alimentado nem mudado a fralda à bebé.

Uma mãe sem instinto materno

"O instinto parental é normalmente protetor e carinhoso, mas em Sarah B. este instinto é completamente inexistente", disseram os juízes. A acusada não estava interessada nas necessidades da filha, tinha deixado o hospital prematuramente e recusado ofertas de ajuda como o acompanhamento de uma parteira.

A mulher deveria saber que não seria capaz de cuidar da criança por conta própria. Afinal de contas, os cinco filhos mais velhos já tinham sido colocados numa instituição. A mulher tinha colocado os próprios interesses acima dos da criança, mas quis impedir que a menina tivesse o mesmo destino do que os filhos mais velhos, consideram os juízes.

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Contudo, não conseguem provar que a mulher tenha tido a intenção de matar a filha. Não condenaram Sarah B. por homicídio ou homicídio involuntário, mas por privação de alimentos e cuidados que resultaram em morte. Como já passou muito tempo desde o início do julgamento, os juízes abstêm-se de impor uma sentença de prisão perpétua.

O caso parece estar resolvido. E, no entanto, Bianka permanecerá desaparecida para sempre. E a mãe parece sabê-lo, como mostram as gravações de áudio feitas pela colega de apartamento da mulher. Nelas, ouve-se Sarah B. dizer claramente: "Não vais encontrá-la, eu fui ver, ela já não está lá. Percebes? Ela já não está lá, eu fui ver... Ela já não está lá".

(Este artigo foi originalmente publicado no Luxemburger Wort e adaptado para o Contacto por Tiago Rodrigues.)