Jack Teixeira. O lusodescendente que está a pôr a América em alvoroço
O militar de raízes açorianas foi detido na quinta-feira e pode ser acusado ao abrigo da "Lei da Espionagem".
© Créditos: Stefani Reynolds/AFP
Como os Açores e a fuga de informação de documentos secretos do Pentágono estão relacionados? Através de uma pessoa: o militar Jack Teixeira, 21 anos, cujo avô é de São Miguel, ilha açoriana.
O lusodescendente - que não tem nacionalidade portuguesa - foi detido na quinta-feira pelo FBI por ser o alegado líder do grupo online que partilhou documentos confidenciais dos EUA sobre a guerra na Ucrânia.
De acordo com o jornal The New York Times, os documentos foram divulgados ao longo dos últimos meses no "Thug Shaker Central", grupo fechado na plataforma Discord. Um membro do grupo que se identificava por "O.G." começou a divulgar informação confidencial. As autoridades seguiram o rasto online até concluir que se tratava do militar Jack Teixeira.
O grupo online tinha 20 a 30 membros, a maioria jovens e adolescentes, e foi formado durante a pandemia da covid-19. As trocas de mensagens focavam-se em armas, videojogos e comentários racistas. Teixeira era um cristão que frequentemente falava de Deus e orava com os membros.
A fonte que falou com a AP disse que, quando o The New York Times publicou pela primeira vez uma história sobre os documentos na semana passada, os membros do grupo estavam numa videochamada com "O.G.". "Basicamente, o que ele - Teixeira - disse foi: 'Lamento muito pessoal, rezei todos os dias para que isso não acontecesse. Eu orei, e orei, e agora cabe somente a Deus decidir o que acontecerá a seguir'", avançou a fonte.
O jovem militar é especialista do ramo de informações da Guarda Aérea Nacional e estava destacado na 102ª Ala de Inteligência da Base da Guarda Nacional Aérea Otis, parte da Base Conjunta Cape Cod, em Massachusetts.
Como parte das suas funções profissionais, teria tido acesso a informações altamente sigilosas.
O momento da detenção de Jack Teixeira pelas autoridades norte-americanas. © Créditos: AFP/WBZ via CBS
A detenção do lusodescendente "em ligação à investigação a uma suposta remoção, retenção e transmissão não autorizada de informações classificadas de defesa nacional" aconteceu "sem incidentes", confirmou o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland. As imagens do momento mostram isso mesmo, com Teixeira a não oferecer qualquer resistência.
O segundo Edward Snowden?
Quando questionado sobre como um militar tão jovem - de apenas 21 anos - poderia ter acesso a documentos altamente confidenciais, o porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, disse que era da natureza dos militares confiarem nos seus membros muito jovens grandes níveis de responsabilidade, incluindo questões significativas de segurança.
Soldados recém-saídos do ensino secundário foram lutar no Iraque, Afeganistão e outras zonas de combate, muitas vezes usando informações ultra-secretas e programas para atingir adversários.
"Nós confiamos aos nossos membros muita responsabilidade desde muito cedo. Pense num jovem sargento de pelotão de combate e na responsabilidade e confiança que depositamos nesses indivíduos para liderar as tropas em combate", disse Ryder.
Num caso que relembra a fuga de informação provocada por Edward Snowden (o denunciante que divulgou várias informações confidenciais da Agência de Segurança Nacional norte-americana em 2013), Jack Teixeira deverá ser acusado ao abrigo da "Lei de Espionagem", avança o The New York Times.
Esta "criminaliza a remoção, retenção e transmissão de documentos classificados que possam ser usados para prejudicar os EUA ou auxiliar um adversário estrangeiro, explica a publicação norte-americana".
O lusodescendente pode agora ser condenado a 10 anos de prisão por cada documento divulgado - que, no total, equivale a prisão perpétua.