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Instituto Português de Formação Profissional é uma escola portuguesa, com certeza... - 12.12.2012

Sem barulho nem alarido, Nélson Gomes e José Carlos Santos acabaram por conseguir abrir um Instituto de Formação Profissional no Luxemburgo. A ideia da escola portuguesa no Grão-Ducado não agradou à ministra da Educação, mas o Ministério "des Classes Moyennes" autorizou a Nélson Gomes a abertura do Instituto Português de Formação Profissional.

Nélson Gomes começou por dar aulas em casa. O sucesso foi tal que convenceu o aluno José Carlos a mergulhar no projecto de um instituto de formação

Nélson Gomes começou por dar aulas em casa. O sucesso foi tal que convenceu o aluno José Carlos a mergulhar no projecto de um instituto de formação © Créditos: Domingos Martins

Os dois portugueses não escondem a ambição de tornar o recém-criado Instituto numa Universidade. Enquanto tal não chega, vão ministrando cursos que podem ser úteis aos mais de 30 % de portugueses desempregados no Grão-Ducado.

Emília Camilo chegou ao Luxemburgo há cinco meses directamente de Vila Franca de Xira, nos arredores de Lisboa. Em Portugal trabalhava num infantário.

Quando chegou ao Luxemburgo começou imediatamente a trabalhar "naquilo que todas as mulheres portuguesas fazem aqui: nas limpezas", diz Emília.

Um emprego que lhe caiu do céu, porque quando chegou, não falava uma palavra de francês. Agora, com o emprego na mão, Emília resolveu aprender um "bocadinho" de francês no Instituto Português de Formação Profissional (IPFP), no Luxemburgo.

"Não é fácil aprender uma língua, na minha idade. Há muito tempo que larguei os estudos e isto custa um pouco, mas para nos integrarmos temos de fazer um esforço", refere Emília ao CONTACTO.

A empregada de limpeza é uma das muitas alunas que frequenta o curso de francês no IPFP. Por 200 euros por mês, Emília tem duas horas diárias de aulas.

"Venho às aulas antes de ir trabalhar. Agora vou limpar escritórios e uma creche. E se me dá licença, tenho de ir, senão perco o autocarro e chego atrasada ao trabalho", diz Emília.

O Instituto de Formação Profissional abriu em Outubro e neste momento tem três turmas de francês, cada uma com 25 alunos.

"Há muitos institutos de línguas no Luxemburgo. A novidade dos nossos cursos é que nós damos as aulas em português e assim é muito mais fácil para quem quer aprender", afirma Nélson Gomes, médico de profissão e um dos sócios e fundadores do IPFP.

O médico psiquiatra chegou ao Luxemburgo há cerca de ano e meio. É filho de imigrantes portugueses em França e este ano começou a dar aulas de francês em casa.

"Comecei a dar aulas em minha casa no mês de Agosto. Imaginei que ia ter uns dez alunos, mas no final tive de fazer uma turma de 20 alunos", recorda Nélson Gomes.José Carlos Santos, o outro sócio do IPFP, foi um dos alunos de Nélson Gomes.

José Carlos, 34 anos, chegou em Agosto ao Luxemburgo depois de trabalhar vários anos numa empresa de remodelação de farmácias. Como tantas outras em Portugal, a empresa fechou, e sem nada para fazer, resolveu acompanhar a namorada na viagem para o Luxemburgo.

"Eu vim para o Luxemburgo porque a minha namorada teve uma proposta de emprego aqui. Vim à procura de qualquer coisa para trabalhar e como precisava de aprender francês comecei a ter aulas em casa do Nélson, em Setembro. Foi durante o curso de francês que nos surgiu a ideia de montarmos um instituto aqui no Luxemburgo".

De casa de Nélson Gomes para o segundo piso de um prédio de escritórios no boulevard de la Pétrusse, na capital, foi um "pequeno salto".

O negócio dos cursos de formação destinado aos portugueses que vivem aqui no Grão-Ducado corre tão bem que aos dois portugueses não faltam ideias para expandir o IPFP.

"O objectivo é desenvolvermos uma universidade com aulas em português, para os portugueses que aqui vivem e que não têm acesso a qualquer tipo de formação, por causa da barreira linguistica. As aulas vão ser em português, mas vamos ter módulos em francês, luxemburguês e alemão para que as pessoas possam integrar-se rapidamente no mercado de trabalho, e queremos sobretudo apostar em áreas que ainda hoje continuam a ter saída profissional, como é o caso das engenharias", afirma Nélson Gomes.

Enquanto a universidade não chega, por agora o IPFP aposta em cursos mais simples. Para além do curso de francês, o curso de estética é a grande mais-valia do instituto português.

"Neste momento temos 54 alunas inscritas no curso de estética. Todos os cursos que nós ministramos dão direito a um certificado de participação que é reconhecido pelo Estado luxemburguês. No caso do curso de estética, dada a elevada procura desta formação, gostaríamos que, no futuro, o nosso curso outorgasse a carteira profissional, que é exigida aqui no Luxemburgo para exercer a profissão. Por enquanto preparamos as nossas alunas para que elas se possam candidatar à obtenção da carteira em França ou na Bélgica. Nós somos a única entidade aqui no Luxemburgo que dá este tipo de curso em português. A 'Chambre des Métiers' tem o mesmo curso, mas apenas em alemão, e para as candidatas portuguesas, é um bocadinho difícil, para não dizer impossível", explica José Carlos ao CONTACTO.

O curso de estética é ministrado por módulos e as alunas podem optar por fazer o curso completo ou escolher apenas algumas técnicas.

Do curso constam os módulos de técnicas de depilação, unhas de gel, maquilhagem, pedicure e manicure, massagem, francês (A1 e A2), primeiros socorros e empreendedorismo e gestão

.O preço do curso de estética, completo, é de 2.877 euros (pronto pagamento) ou 240 euros por mês. Só o módulo de unhas e gel, por exemplo, custa 800 euros.

"O curso é, como é fácil de imaginar, sobretudo prático e precisamos de pessoas que estejam dispostas a servir de modelos para as nossas alunas. Agora estamos a lançar o serviço de depilação, e outras áreas do curso, destinado a pessoas que queiram cá vir experimentar os nossos serviços. Tudo isto é supervisionado pela nossa monitora do curso, que é uma esteticista profissional, e os preços que praticamos são muito abaixo dos praticados no mercado", explica José Carlos.

Neste momento, o IPFP tem ainda a funcionar cursos de Informática, Design Gráfico e Alemão. Mas para o ano que vem o IPFP já tem programada a abertura de cursos de luxemburguês, inglês, português, de jornalismo e de treinadores de futebol (ver caixa).

"Os nossos cursos são reconhecidos pelo Estado luxemburguês, mas não dão direito à obtenção de carteiras profissionais ou de diplomas nas áreas que ministramos, porque nós damos cursos de formação profissional contínua. Atribuímos um certificado com uma nota, e ponto final. E também não temos nada que ver com o Instituto de Emprego e Formação Profissional em Portugal. Faço questão que isso fique muito claro. O que nós aqui fazemos é dar formação em português que ajude as pessoas a entrar no mercado de trabalho no Luxemburgo. Até agora está a correr muito bem e a nossa publicidade é sobretudo feita pelos alunos que passam por aqui. São eles os nossos melhores cartões de visita", conclui José Carlos Santos.

Domingos Martins

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