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Paralisação

França a meio gás. Grevistas cortaram energia e fecharam escolas

Dois em cada três franceses ainda se opõem ao plano do governo para as reformas.

© Créditos: AFP

Fonte: Redação

De acordo com os sindicatos, a greve nacional que prometia "parar França" está a ter uma mobilização sem precedentes. No entanto, os números apontados ao meio-dia, mostravam uma taxa de adesão de 39%, menor do que a 19 de janeiro (46,3%), mas maior do que nos outros dias de greve que se seguiram.

O líder do CFDT, Laurent Berger, diz que foi alcançado "o objetivo, que era mostrar a determinação do mundo do trabalho", uma vez que o governo "não pode permanecer surdo" a esta mobilização contra o adiamento da idade legal da reforma de 62 para 64 anos.

Dois em cada três franceses ainda se opõem ao plano do governo, segundo os inquéritos. O novo projeto de lei vai a votação no Parlamento no domingo, 12 de março.

Philippe Martinez, da CGT, assegurou que "este vai ser o dia mais forte de mobilização desde o início do conflito", alertando o Executivo contra "uma intervenção pela força (que) só irá desencadear um incêndio". Em Paris, verificaram-se confrontos pontuais entre manifestantes e o contingente policial foi mobilizado para garantir a segurança na capital.

De acordo com os números que têm sido avançados em Nice, contam-se seis mil maanifestantes (números da autarquia), mas a CGT fala em 30 mil; em Bayonne, entre 13.000 e 23.000; entre 20.500 e 55.000, em Grenoble, e entre 7.000 e 16.000 em Tarbes, nos Pirinéus.

Em Marselha, a CGT registou 245.000 manifestantes (em comparação com os 205.000 de 31 de janeiro), mas serão 30.000, segundo a Câmara Municipal (40.000 a 31 de janeiro).

As autoridades antecipavam, segundo fonte policial, entre 1,1 e 1,4 milhões de participantes no total, dos quais 60 a 90 mil em Paris.

Rescaldo

Ao início da tarde, não saía combustível das refinarias francesas e 80% dos comboios tinham sido cancelados.

Na região parisiense, muitos comboios suburbanos circulam lentamente, com um comboio em cada três nas linhas RER A e B e nas linhas H, K e U. As linhas J, L, N e R e 90% no RER E e na linha P foram muito afetadas. Para quarta-feira, o tráfego vai permanecer "muito perturbado".

Notaram-se muitos bloqueios de estradas, de Perpignan a Miramas (Bouches-du-Rhône) via Poitiers ou Rennes, onde os manifestantes bloquearam um grande eixo rodoviário causando "numerosos danos", de acordo com a Câmara Municipal.

Do lado dos professores, cerca de 33% aderiu aos protestos, segundo o Ministério da Educação, bem abaixo do número avançado pelos sindicatos.

Dos 2,5 milhões de funcionários públicos estatais, 24,4% (ou seja, um em cada quatro) estavam em greve ao meio-dia, segundo o Governo, em comparação com menos de 5% que aderiram à greve no dia 16 de fevereiro.

A mobilização afetou também 11% dos dois milhões de funcionários públicos locais e 9,4% dos 1,2 milhões de trabalhadores hospitalares, de acordo com os números do Ministério da Função Pública. Ainda longe dos números de janeiro: a 19 de janeiro, 28% dos funcionários públicos do Estado, 11,3% dos agentes territoriais e 9,9% dos agentes hospitalares fizeram greve.

"O objetivo do movimento é afetar o capital"

Em Arkema, três fábricas estão encerradas, em Pierre-Bénite (Rhône), La Jarrie (Isère) e Saint-Auban (Alpes de Haute-Provence), de acordo com a direcção e a CGT.

"Em Saint-Auban-Arkema, o compressor que traz o etileno de Fos-sur-Mer foi parado (... ), o que significa que o acesso ao etileno no gasoduto do eixo oriental da petroquímica em França - que vai de Marselha à Alsácia através do vale do Ródano, Lyon, o Jura, até Carling - será forçado a parar nos próximos dias.

As "paragens de produção na indústria química não afetam muito o público em geral, mas afetam os acionistas e, para nós, o objetivo do movimento é afetar o capital", disse à AFP Emmanuel Lépine, da CGT.

No sector farmacêutico, o coordenador da CGT da Sanofi, Jean-Louis Peyrin, estimou uma taxa de participação entre 15 a 20%, entre trabalhadores e técnicos, e menos entre gestores.

Já no setor da energia, houve cortes de eletricidade "selvagens" causados por grevistas que afetaram mais de 4.000 utilizadores desde terça-feira de manhã, em Boulogne-sur-Mer, no Pas-de-Calais e Neuville-en-Ferrain, no Norte, visando áreas industriais e comerciais, disse a Enedis e a CGT.

Em Boulogne-sur-Mer, estes cortes, provocados entre as 8h00 e as 8h30, numa estação de abastecimento da cidade e em vários pontos de distribuição, privaram ainda cerca de 1.500 pessoas de energia ao início da tarde, de acordo com a distribuidora de eletricidade. "A Enedis condena veementemente estes atos" e pretende "apresentar uma queixa", disse Serge Martin, diretor territorial da Nord-Pas-de-Calais, à AFP.

Uma França paralisada, "é obviamente mau para os nossos cidadãos", e "os primeiros a serem penalizados, quando temos greves, são os franceses mais modestos", criticou segunda-feira à noite a primeira-ministra, Elisabeth Borne, defendendo a reforma que vai garantir a sustentabilidade de "um dos pilares do nosso modelo social".

Uma nova reunião do intersindical está marcada para a noite para serem acordados os novos passos.

*com AFP