Expansão da central de Cattenom. Luxemburgo está contra e vai ficar "vigilante"
Ministro da Energia diz não ter indicação de que serão mesmo construídos dois reatores EPR2 e garante que o governo segue "com grande atenção as discussões em França".
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O reator número 3 da central nuclear de Cattenom está pronto para voltar a funcionar este mês, depois de um ano de reparações para combater o fenómeno da corrosão sob tensão.
Mas já há a possibilidade de a central poder vir a acolher dois reatores de nova geração (EPR2) no futuro, segundo o desejo manifestado pelo autarca local, Bernard Zenner.
Ainda que seja para já apenas uma possibilidade, o Governo luxemburguês já fez saber junto das autoridades francesas que se opõe a uma eventual extensão da central. A informação foi dada pelo próprio ministro da Energia, Claude Turmes, numa resposta parlamentar na semana passada.
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"De acordo com a sua posição antinuclear, o Governo informa regularmente o Governo francês da sua oposição à utilização da energia nuclear. Por conseguinte, também se opõe à Projetos EPR2, e em particular à sua possível localização no site Cattenom", refere a resposta dada às questões colocadas pelos deputados do DP, Gusty Grass e Max Hahn.
Os parlamentares quiseram saber também qual é a probabilidade de "ocorrer de facto uma extensão da central nuclear de Cattenom. No entanto, segundo a resposta do ministro, o Governo luxemburguês "não tem" nesta fase "qualquer informação sobre isso". De qualquer forma, Turmes garante que o executivo do Grão-Ducado "acompanha com grande atenção as discussões em França".
"Na reunião da Comissão Mista Franco-Luxemburguesa de Segurança Nuclear, em junho de 2022, a parte luxemburguesa questionou os representantes da Autoridade de Segurança Nuclear (ASN) sobre esta possibilidade, e recebeu a resposta de que nenhum pedido de autorização para construir reatores EPR2 tinha sido apresentado à ASN até à data", assegura o ministro.
Manter a vigilância
O Executivo luxemburguês "permanece vigilante" face ao desenvolvimento de infraestruturas para exploração de energia nuclear, refere Turmes, assegurando que o Grão-Ducado "não hesitará em intervir" junto do Governo francês se for necessário.
Numa outra resposta parlamentar, neste caso aos deputados do LSAP, Mars Di Bartolomeo e Dan Biancalana, o ministro da Energia comenta a iniciativa lançada na União Europeia por França, para uma aliança de países em torno da promoção do nuclear como alternativa energética ambientalmente sustentável.
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Para o Governo luxemburguês, "a energia nuclear não é segura, sustentável nem competitiva". Além disso, prossegue o ministro na resposta, "o tempo necessário para construir reatores faz com que esta tecnologia não esteja qualificada para fornecer uma resposta para a emergência climática nos próximos anos".
Por tudo, o Executivo "não tem qualquer intenção de aderir a esta aliança" promovida por França, mantendo a sua oposição ao nuclear e defendendo a transição energética na Europa através das energias renováveis.
Luxemburgo e Portugal: "amigos das energias renováveis" e contra o nuclear
Claude Turmes dá como exemplo do caminho firmado pelo Grão-Ducado, em matéria de transição energética, a carta dirigida à Comissão Europeia e à Presidência do Conselho da UE a 16 de março deste ano, assinada em conjunto com a Áustria, Dinamarca Alemanha, Irlanda, Portugal e Espanha.
Apesar de reconhecer do direito dos Estados-membros decidirem livremente sobre o seu cabaz energético, a missiva defende "que um sistema baseado inteiramente em energias renováveis é a única opção sustentável para alcançar a neutralidade climática em 2050".
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À margem de uma reunião de 28 de março dos homólogos da Energia, em Bruxelas, Claude Turmes participou num encontro dos chamados "amigos das energias renováveis", com representantes da Bélgica, Dinamarca, Estónia, Alemanha, Irlanda, Letónia, Países Baixos, Espanha, Suécia e Reino Unido, Letónia, Países Baixos, Portugal, Espanha e a Comissão Europeia.
Com estes mesmos parceiros, o Grão-Ducado mobilizou-se contra o reconhecimento em muitos documentos europeus da energia nuclear como fonte de energia sustentável, como defende a França e a aliança de países entretanto criada.
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"O Luxemburgo apoia igualmente o recurso interposto pela Áustria junto do Tribunal de Primeira Instância da UE no sentido de anular do regulamento delegado (UE) 2022/1214 (...) que, em última análise, permite que a energia nuclear seja classificada, sob certas condições, entre as tecnologias elegíveis no contexto das atividades económicas sustentáveis", remata o ministro na resposta parlamentar.