Equipa de cientistas liderada por português testou eficácia de nova vacina contra malária
Os resultados deste projeto de investigação iniciado há 10 anos são animadores.
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Há boas notícias na batalha contra a malária. Uma equipa internacional liderada pelo português Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, testou o potencial de uma nova vacina contra a malária em 24 voluntários, com resultados que “abrem caminho a uma estratégia de vacinação eficaz”.
Há muito que cientistas em todo mundo tentam encontrar uma vacina eficaz contra os resistentes parasitas Plasmodium, transmitidos pela picada de mosquito, mas sem sucesso. A dificuldade em encontrar resultados de sucesso deve-se à complexa biologia dos parasitas da malária, cujo ciclo de vida inclui várias etapas que ocorrem quer no mosquito, vetor da doença, quer no hospedeiro mamífero, incluindo um estágio obrigatório e assintomático de desenvolvimento no fígado humano.
A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles. Só em 2018, a malária foi a responsável pela morte de 400 mil pessoas.
O projeto de investigação que envolve investigadores holandeses do Radboud University Medical Center e do Erasmus MC, começou em 2010 e contou com um financiamento garantido pela Fundação Bill & Melinda Gates de mais de três milhões de euros, noticiou o Público.
Os resultados do ensaio clínico de Fase 1/2a da potencial nova vacina contra a malária, denominada PbVac foram publicados, esta quarta-feira, na revista científica Science Translational Medicine.
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“Embora nenhum dos indivíduos vacinados ficasse totalmente protegido contra a doença, os resultados mostraram uma redução muito significativa de 95% na infeção hepática dos voluntários imunizados em relação aos indivíduos controlo, não imunizados. Este estudo abre caminho para desenvolvimentos adicionais da vacina PbVac e similares, no sentido do desenvolvimento de uma estratégia de vacinação eficaz contra a malária humana”, indica um comunicado do iMM citado pela agência Lusa.
Segundo os Miguel Prudêncio, o estudo “fornece a validação clínica de uma nova abordagem de vacinação contra a malária, e abre possibilidades para a sua otimização no sentido da criação de uma vacina eficaz contra a malária".
Parte das experiências, todas coordenadas pela equipa portuguesa, foram também realizadas em Espanha, nos Estados Unidos e na Holanda.
“Mostrámos que a vacina era segura, que os voluntários toleraram bem as imunizações e não mostraram efeitos secundários relevantes”, lê-se . Mas os resultados também dão sinais promissores da eficácia desta estratégia que parece ter sido capaz de bloquear a invasão do parasita nas células hepáticas.
O estudo, baseou-se na ideia inovadora de usar parasitas de roedores, chamado Plasmodium berghei, que não são patogénicos para os seres humanos, como base para uma nova vacina contra a malária. Assim, os parasitas de roedores foram geneticamente alterados para ficarem “mascarados” com uma proteína do seu homólogo que infeta humanos, o P. falciparum.
Após a validação pré-clínica da imunogenicidade e segurança do PbVac para uso humano, os investigadores avançaram para um ensaio clínico que envolveu 24 voluntários saudáveis, induzidos a várias picadas de mosquitos,para verificar a segurança e a eficácia protetora do PbVac na clínica.
Os resultados mostraram que o PbVac é seguro e bem tolerado, com uma diminuição muito significativa de 95% na infeção hepática por P. falciparum - o primeiro estágio da infeção por malária em humanos - em voluntários imunizados.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2017, cerca de 219 milhões de pessoas foram infetadas com Malária em todo o mundo, 435.000 morreram e mais de 90% das vítimas são africanas.
Estima-se que em 2018 a doença tenha causado mais de 400 mil mortes, 380 mil em África e 270 mil de crianças menores de cinco anos.
O último relatório anual da OMS, divulgado em dezembro passado, revela que seis países africanos concentravam quase metade das infeções no mundo: Nigéria (25%), República Democrática do Congo (12%), Uganda (5%), Costa do Marfim, Níger e Moçambique (4% cada).