"Conciliar dois irmãos inimigos". Aprovado fim dos motores de combustão em 2035
O texto do Parlamento Europeu prevê a redução "para zero" das emissões de CO2 dos novos automóveis na Europa.
© Créditos: Jeff Pachoud/AFP
O Parlamento Europeu aprovou em votação final nesta terça-feira, 14, o projeto de regulamentação que põe fim à venda de novos veículos com motores de combustão interna em 2035.
"Chegámos a um acordo histórico que concilia o carro e o clima, dois irmãos inimigos", saudou a eurodeputada Karima Delli, presidente da Comissão dos Transportes, citada pela AFP.
O texto (que obteve 340 votos a favor, 279 contra e 21 abstenções) prevê a redução "para zero" das emissões de CO2 dos novos automóveis na Europa, a partir de 2035. Para chegar lá, é necessário colocar um ponto final nas vendas de veículos novos a gasolina e diesel na UE a partir dessa data, bem como de híbridos (a gasolina e a eletricidade), em favor de veículos 100% eléctricos.
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Embora os automóveis, o principal modo de viagem dos europeus, representem pouco menos de 15% das emissões totais de CO2 na UE, o novo regulamento deverá ajudar a alcançar os objetivos climáticos do continente, em particular a neutralidade de carbono até 2050.
Este é o primeiro acordo do pacote climático da UE destinado a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa da UE em pelo menos 55% até 2030. O texto também subscreve objetivos provisórios de redução das emissões de CO2 de -55% para automóveis novos e -50% para motas novas até 2030, em comparação com 2021.
"A nossa indústria está pronta a aceitar o desafio de fornecer veículos com emissões zero", disse Sigrid de Vries, diretora-geral da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA). "É essencial que todas as políticas e regulamentos da UE se alinhem com este objetivo e o apoiem", acrescentou a diretora à AFP.
Este regulamento, proposto pela Comissão Europeia em julho de 2021, foi objeto de negociações entre o Parlamento e o Conselho da UE, que chegaram a um acordo em outubro de 2022. O Conselho (representando os Estados-membros) terá ainda de aprovar formalmente o texto para que este entre em vigor.
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Emenda Ferrari
Os fabricantes de "nicho" ou aqueles que produzem menos de 10 mil veículos por ano podem fabricar com motores de combustão até ao final de 2035, ou seja, mais um ano do que o resto da indústria. Esta cláusula, conhecida como a "emenda Ferrari", beneficiará, em particular, as marcas de luxo.
Sob pressão de vários países, incluindo a Alemanha, o texto prevê a possibilidade de uma "futura luz verde" para tecnologias alternativas como combustíveis sintéticos (e-fuels) ou híbridos plug-in, se estes permitirem aos veículos eliminar completamente as emissões de gases com efeito de estufa.
A votação do texto também recebeu críticas, particularmente no seio do PPE, o principal grupo político no Parlamento Europeu, que defendia uma redução de 90% em vez de 100% das emissões de CO2 dos veículos novos até 2030. "A indústria automóvel gera 12,5 milhões de empregos na Europa. Não podemos permitir fazer de aprendiz de feiticeiro com este setor", disse Nathalie Colin-Oesterlé, que se opôs ao texto. "A transição deve ser feita com e não contra este setor, de modo a não gerar dramas humanos e sociais", defendeu.
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A Comissão Europeia deverá apresentar uma outra proposta ainda nesta terça-feira, para estabelecer objetivos de redução de emissões para veículos pesados (camiões, tratores, autocarros, etc...), que estão ausentes do texto aprovado pelo Parlamento Europeu.