Como Bruce Lee se tornou uma inspiração para os manifestantes em França
Os movimentos de protestos em Paris estão a inspirar-se nos protestos de 2019 em Hong Kong que, por sua vez, tiveram a lendária figura do cinema como "mentor".
Manifestantes criam obstáculos para dificultar a passagem da polícia. © Créditos: Gerard Cambon/Le Pictorium via Z
Como se define um movimento de protesto para que este "engane" as autoridades e, ao mesmo tempo, continue a crescer? Por vezes, a inspiração surge nos lugares mais inusitados como... na sétima arte.
"Somos "be like water"(ser como água), como em Hong Kong. Ou estamos a tentar ser", diz à AFP Romain (nome fictício) num beco em Les Halles, enquanto a polícia está no seu alcance, na segunda-feira à noite. "Temos de renovar as nossas ações, para manter a pressão", diz o estudante que está na rua para protestar contra a lei da reforma de pensões que foi aprovada no país.
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É o mesmo dia em que as moções de censura contra o Governo acabaram por ser rejeitadas. Romain e um grupo de jovens que carregam mensagens contra o Presidente da República, Emmanuel Macron, correm de um bairro para outro, incendiando os caixotes do lixo. É o seu "modus operandi", esta forma de atuar em grupo e de forma rápida.
Assim que as autoridades estão mais próximas, o grupo maior divide-se em mais pequenos, fogem para várias direções, abrandam o passo e reagrupam noutro lugar. Lá está, "mover-se como a água", diz o jovem.
Bruce Lee: "ser como a água"
A máxima "ser como água" é uma referência a Bruce Lee, herói cinematográfico de Hong Kong, que os manifestantes da ilha adotaram durante os protestos de 2019 devido a uma lei - entretanto retirada - que teria permitido extradições para a China. As manifestações tornaram-se diárias e contaram com uma tremenda adesão.
Para desafiar as proibições existentes, os manifestantes planearam tudo de forma criativa. "Em Hong Kong, estavam muito bem organizados. Havia manifestantes com roupas escondidas nas ruas para os que se encontravam na linha da frente. Ainda não chegámos lá, mas estamos a tentar diversificar na esperança de que se consiga", resume Romain.
Obstruir as ruas como estratégia
© Créditos: Gerard Cambon/Le Pictorium via Z
Na segunda-feira à noite, para além da fluidez e da ausência de apedrejamento das janelas ou do abrigo dos autocarros, os manifestantes aplicaram uma outra técnica: obstruir as ruas para dificultar a passagem dos veículos das autoridades francesas. Bicicletas, contentores de lixo e paletes de madeira foram utilizados para montar estas barricadas improvisadas que também podiam acabar por ser incendiadas.
Noutros locais, como no Marais ou em frente do Louvre, barricadas mais elaboradas bloquearam a passagem durante várias dezenas de metros.
Entretanto, a Place de la Concorde, onde 292 pessoas foram presas na passada quinta-feira, não será mais palco de protestos. Outras ideias para lugares que poderão ser bloqueados estão a circular online, assim como uma lista de "boas dicas" que foram usadas em Hong Kong, com infografias e videos e explicativos.
Em Hong Kong, os manifestantes tinham tentado paralisar o distrito comercial para que o centro financeiro, que é crucial para Pequim, caísse por terra. A ideia de "atacar o governo na carteira" está também a ganhar terreno nas fileiras dos manifestantes em Paris e em outras cidades francesas, com os manifestantes a bloquearem fábricas, estradas e transportes.
*Com AFP