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Burlas na habitação. "Não adiante dinheiro em nenhuma circunstância"

Um T1 a 900 euros ou um T2 a 950 euros no centro do Luxemburgo? As propostas são tentadoras, mas Joana e Maria, que contaram as suas experiências ao Contacto, temeram cair em burlas e não avançaram na negociação. Porém há quem caia. Polícia dá dicas de prevenção a quem quer arrendar casa.

Os preços do mercado de arrendamento dispararam nos últimos meses.

Os preços do mercado de arrendamento dispararam nos últimos meses. © Créditos: Shutterstock

Casas modernas, decoradas com requinte, próximas do centro da Cidade do Luxemburgo e a preços apelativos são um negócio tentador para quem quer arrendar um imóvel, sobretudo numa altura em que o Grão-Ducado atravessa uma crise na habitação. Mas quando a proposta é irrecusável todo o cuidado é pouco.

A baixa oferta e a elevada procura fizeram disparar os preços do mercado de arrendamento nos últimos meses. Uma breve pesquisa pelos sites de anúncios imobiliários mostra que arrendar um estúdio na capital por menos de 1.500 euros é uma tarefa difícil.

Na tentativa de encontrar imóveis arrendados por particulares, a preços mais acessíveis, há quem procure nas redes sociais grupos criados para o efeito. Foi com essa esperança que Joana (nome fictício), recém-chegada ao Luxemburgo, se juntou ao grupo “Luxemburgo Procuro (O verdadeiro)”.

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Aí, Joana encontrou um T1 espaçoso e iluminado por 900 euros. As imagens não eram muitas, mas mostravam o essencial: uma cozinha bem equipada, uma sala acolhedora e um quarto espaçoso. Era tudo o que precisava.

Na publicação, o autor não identificava o local, limitando-se a disponibilizar o seu contacto de e-mail para prestar mais informações. Joana não perdeu tempo e questionou-o quanto à localização do imóvel, bem como quando poderia fazer uma visita.

A resposta do anunciante não tardou. “O apartamento fica localizado na comuna de Belair. O preço da renda é de 900 euros, com despesas incluídas. O apartamento fica no 2.º andar de um prédio com varanda e elevador”, escreveu num e-mail a que o Contacto teve acesso.

Um apartamento com um quarto, num dos bairros mais procurados do Luxemburgo, por 900 euros e com despesas incluídas parecia bom demais para ser verdade. Foi nessa altura que Joana começou a recear estar a entrar num esquema.

E a suspeita adensou-se quando o anunciante lhe disse que o apartamento só estaria disponível para visitas a partir do dia 15 de abril e que era necessário reservá-lo. “Para fazer a reserva deverá enviar-me os seus documentos, assinar o contrato de arrendamento e pagar a caução”, atirou.

Joana temeu estar a entrar numa armadilha e recusou enviar os documentos, bem como pagar a caução antes de ver o apartamento, pedindo ao anunciante uma alternativa. Nunca mais recebeu resposta.

Um T2 por 800 euros

Um moderno apartamento de 78 metros quadrados na comuna de Cessange foi anunciado numa plataforma imobiliária por 800 euros, acrescidos de 150 euros de despesas mensais (total de 950 euros). Na descrição, o anunciante detalhava as características: dois quartos, duas camas, uma casa de banho e ar condicionado.

O anúncio chamou a atenção de Maria (nome fictício), que procurava casa no Luxemburgo há alguns meses. Contactou, então, o autor da publicação e pediu para visitar o imóvel.

Na resposta, o anunciante alegou não poder mostrar o imóvel por estar a viver na Alemanha. “Podemos matar dois coelhos com uma cajadada só, marcando um dia para fazer a visita e assinar logo o contrato”, escreveu no e-mail a que o Contacto teve acesso.

Para tal, pediu a Maria uma série de dados pessoais: nome e sobrenome dos inquilinos, ocupação e salário, morada atual e contactos telefónicos, data de entrada no apartamento, número de ocupantes do imóvel, cópia dos últimos três recibos de vencimento e cópia do documento de identificação.

A jovem acedeu ao pedido e enviou todas as informações, na expectativa de conseguir finalmente arrendar uma casa no Grão-Ducado que pudesse pagar.

No e-mail seguinte, o anunciante pediu que a caução fosse paga antecipadamente para garantir a reserva do apartamento. Maria desconfiou e recusou-se a pagar qualquer quantia sem ver o imóvel.

O Contacto descobriu entretanto que as fotografias usadas nesta publicação foram retiradas de um site alemão e pertencem a um apartamento em Hamburgo. Nessa plataforma, o imóvel é arrendamento por 2.850 euros mensais.

Dicas da polícia

Estes tipo de crimes já chegou ao conhecimento da polícia grã-ducal, que admite ao Contacto estar “consciente da existência de burlas no arrendamento”.

A autoridade não pode, no entanto, apresentar números exatos destas burlas. Em causa está o facto de estes ilícitos “não estarem listados como uma categoria separada nas estatísticas”. Além disso, “é possível que existam anúncios falsos de apartamentos no Luxemburgo que depois sejam denunciados pelas vítimas no estrangeiro”.

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Apesar de não ter dados, a força de segurança está atenta a esta realidade e deixa alguns conselhos para evitar que as vítimas caiam nestas fraudes.

“Esteja atento aos anúncios que parecem bons demais para ser verdade”, diz a polícia, sugerindo que “interrompa qualquer contacto se suspeitar que o anúncio é falso”.

Se lhe pedirem dinheiro, como aconteceu a Joana e Maria, deve recusar. "Não adiante dinheiro em nenhuma circunstância, especialmente se tiver de usar um serviço de transferência, como o Western Union”.

Não aceda também a pedidos de envio de documentos pessoais, como passaporte, bilhete de identidade, carta de condução ou certidão de matrícula do veículo”.

Se suspeitar que está a ser vítima de uma tentativa de burla, relate “o anúncio ao administrador da plataforma para que este seja removido”, sugere a polícia.

Caso não tenha conseguido evitar o golpe, deve entrar em contacto com o seu banco e tentar que a transferência seja bloqueada. De seguida, “faça imediatamente uma reclamação numa das nossas esquadras”, indica a força de segurança.

Sugere-se que reúna toda a informação que tenha em sua posse e que possa ser usada como prova pelas autoridades. “Anote todos os detalhes que recebeu dos burlões, como números de telefone, nomes e endereços de sites, e entregue-os à polícia ao registar a reclamação”.

A autoridade grã-ducal recomenda ainda que “seja cauteloso, especialmente quando se tratam de grandes somas de dinheiro transferidas online”.

O Contacto questionou o Governo sobre se estão a ser tomadas medidas para controlar estes esquemas, mas não obteve resposta até à publicação deste artigo.