Contacto
Ensino

Alunos de algumas escolas luxemburguesas vão poder usar o ChatGPT

A adoção do chatbot pelo programa 'Bacharelato Internacional' vai afetar quase dois milhões de estudantes em todo o mundo e vai envolver seis instituições no Luxemburgo.

© Créditos: AFP

Heledd PRITCHARD

Centenas de estudantes vão começar a utilizar o ChatGPT (Generative Pre-Trained Transformer) no Luxemburgo, depois de o organismo que tutela o Bacharelato Internacional (BI) ter reconhecido o sistema de inteligência artificial (IA) como uma inovação de vanguarda, permitindo a sua utilização para a escrita de trabalhos.

O bacharelato internacional é um diploma de dois anos que dá acesso ao ensino superior, aceite em cerca de 140 países em todo o mundo e em várias universidades mundiais. Abrange o ensino dos jovens entre os 16 e os 19 anos.

Com a nova tecnologia, os estudantes do Luxemburgo vão poder citar a inteligência artificial nos seus textos, "desde que atribuam claramente a informação", disse a um jornal britânico Matt Glanville, alto funcionário do BI, que dirige mais de quatro mil escolas em todo o mundo.

"Do nosso ponto de vista, é emocionante", disse Sherriden Masters, da Escola Internacional do Luxemburgo (ISL, na sigla inglesa), escola de língua inglesa que inclui programas do Bacharelato Internacional. "Dá aos estudantes uma educação realista do mundo em que vão estar no futuro e estamos contentes com isso", afirma.

Ler mais:O que é o ChatGPT e por que se fala tanto dele?

Lançado em novembro do ano passado, o ChatGPT surpreendeu os seus utilizadores com a sua capacidade de interagir, seguir instruções e dar respostas precisas.

O programa responde a perguntas, desafia o utilizador e também admite erros.

Cautela

Este 'robot' divide opiniões: os críticos dizem que o software poderia minar a criatividade e o pensamento crítico, e há o medo de que a ferramenta vá eliminar postos de trabalho, sobretudo, os que requerem capacidades de escrita. O mundo académico - onde a publicação e citação de artigos é fulcral - pede especial cautela.

A prestigiada universidade francesa Sciences Po (o Presidente Emmanuel Macron está entre os antigos alunos) proibiu o uso do ChatGPT. É "estritamente proibido, por enquanto, no trabalho escrito ou oral", disse um funcionário universitário. Os estudantes podem ser expulsos da instituição ou do ensino superior se violarem a regra.

A adoção do chatbot pelo BI vai afetar quase dois milhões de estudantes em todo o mundo e vai envolver seis instituições no Luxemburgo. "Os alunos vão ter de criticar e examinar o que a IA propõe e aprender que nem tudo está certo", disse Joanne Goebbels, diretora-adjunta do Athénée de Luxembourg, que também oferece o diploma, em entrevista. "Eu sei que há riscos. Há sempre o medo de ficar preso num mundo virtual e o risco de que notícias falsas se espalhem ainda mais, mas o nosso papel nas escolas é garantir que os alunos estejam preparados para pensar de forma crítica e comparar fontes".

A verificação da autenticidade do trabalho dos estudantes não é um problema novo, escreve Matt Glanville no site do BI, afirmando que professores sempre tiveram de lidar com estudantes que compram trabalhos via internet ou pedem a outra pessoa que escreva o trabalho.

"O Bacharelato Internacional vai permitir a utilização do ChatGPT para a escrita de ensaios de forma progressiva", disse Nasir Zubairi, CEO da Casa de Tecnologia Financeira do Luxemburgo (LHoFT). "A capacidade das crianças de aprenderem coisas novas através da tecnologia é chocante". O nosso cérebro não se deteriora, apenas se habitua a uma forma diferente, é a forma como o mundo evolui. É uma evolução natural" garante otimista.

Testado e aprovado

O ChatGPT obteve uma nota C+ - uma "nota baixa, mas suficiente" - quando a Faculdade de Direito da Universidade de Minnesota, nos EUA, testou o sistema no mês passado, utilizando a IA para fazer quatro dos exames da Faculdade de Direito. Os exames incluíram mais de 95 perguntas de escolha múltipla e 12 perguntas que exigiam uma resposta alargada.

Ler mais:Já há livros "escritos" por ChatGPT à venda na Amazon

Na Wharton School of Business (Universidade da Pensilvânia), o ChatGPT recebeu um B e B- no exame final de gestão de operações. De acordo com o professor que analisou o exame, as explicações do chatbot foram "excelentes", e as respostas corretas ao responder a perguntas básicas e de estudo de caso, embora tenha cometido erros em cálculos simples.

A Escola Internacional do Luxemburgo testou o robot, deixando-o responder a perguntas e pedindo para gerar uma análise poética. Embora tenha tido um bom desempenho linguístico, os estudantes superaram-no, de acordo com o Sherriden Masters.

Jornalistas, cuidado...

Alguns meios de comunicação também se voltaram para a inteligência artificial. O portal online BuzzFeed, por exemplo, vai utilizar o ChatGPT para melhorar os questionários e personalizar o conteúdo, de acordo com vários media.

Nasir Zubairi está confiante que os empregos não vão desaparecer tão cedo: "Cada setor acaba por ter cada vez mais pessoas, à medida que as empresas se tornam mais produtivas e precisam de mais pessoal", afirmou. "As pessoas pensavam que os multibancos eram o fim do gestor bancário banco", compara.

(Artigo original publicado no jornal Virgule e adaptado por Ana Patrícia Cardoso.)