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Quatro anos muito difíceis para Montenegro!

Nos próximos tempos, Montenegro não terá grandes problemas. Exceto o facto de não ter assento parlamentar e isso lhe inviabilizar os confrontos com o primeiro-ministro.

O social-democrata Luís Montenegro foi eleito o 19.º presidente do PSD com 73% dos votos, vencendo as eleições diretas a Jorge Moreira de Silva, que alcançou apenas 27%, a 28 de maio de 2022.

O social-democrata Luís Montenegro foi eleito o 19.º presidente do PSD com 73% dos votos, vencendo as eleições diretas a Jorge Moreira de Silva, que alcançou apenas 27%, a 28 de maio de 2022. © Créditos: Manuel Fernando Araújo/Lusa

Com a eleição de Luís Montenegro, o PSD resolveu a questão da liderança que se arrastava desde as últimas legislativas. Resta saber até quando dura esta solução.

A vitória foi inequívoca. O homem de Espinho conseguiu mais de 70 por cento dos votos expressos, deixando Jorge Moreira da Silva a uma distância enorme. Até aqui, tudo bem, mas falta um pormenor que não é despiciendo: a abstenção atingiu valores recorde. Às urnas, foram menos de três mil militantes.

Ele (Luís Montenegro) disse que o Governo de António Costa não conseguiria cumprir a legislatura.

Nos próximos tempos, Montenegro não terá grandes problemas. Excepto o facto de não ter assento parlamentar e isso lhe inviabilizar os confrontos com o primeiro-ministro. Talvez seja esta a razão, porque se apressou no apaziguamento da relação de indiferença que mantinha com Paulo Mota Pinto, o líder parlamentar. Depois das eleições internas, já lhe teceu vários elogios e deu a entender que conta com ele, para fazer a oposição parlamentar a António Costa.

Tem uma promessa para cumprir, feita durante a campanha eleitoral. Ele disse que o governo de António Costa não conseguiria cumprir a legislatura. Logo, Portugal seria chamado a votos, antes de 2026 e o PSD teria de se preparar para os disputar, com hipóteses de vencer.

Pode ser que tenha razão, mas, por enquanto, sem qualquer cataclismo à vista, a possibilidade de o governo cair, antes do fim da legislatura, parece estar unicamente dependente dos caprichos e estados de alma de António Costa. Ou, em última análise, do PS.

Isto quer dizer que, nos próximos quatro anos, Luís Montenegro tem de batalhar muito. E contrariando aquela sua vontade de antecipar o fim da legislatura, alguns dos seus adversários internos vão dizendo que ele, Luís Montenegro, é que terá dificuldade em permanecer tanto tempo na liderança do PSD. Dizem mais, que ele é um líder de transição que não conseguirá passar, sem se queimar, todos os anéis de fogo que o esperam.

O primeiro, será já no próximo ano, com as eleições regionais na Madeira. Vai vencê-las, o que não parece muito difícil. Mas, terá de formar novo executivo e ninguém acredita que tenha uma maioria absoluta que lhe permita governar, em solidão. Contará com o CDS e, quem sabe, com o Chega, ou com a Iniciativa Liberal. Serão acordos interpartidários que lhe poderão causar algum desgaste.

Este é apenas o primeiro teste. Em 2024, terá eleições para o Parlamento Europeu e, no ano seguinte, serão as autárquicas. Tudo provas que Luís Montenegro terá de superar, para chegar a 2026 intacto e ser ele próprio candidato a primeiro-ministro.

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)

Sérgio Ferreira Borges, professor e jornalista

É professor de jornalismo, no Centro Protocolar de Formação de Jornalistas e em várias universidades. Como jornalista, trabalhou em jornais, rádios e concluiu a sua atividade, na EuroNews, a televisão pan-europeia de notícias. Foi assessor de imprensa e chefe de gabinete, da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

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