Contacto
Editorial

Opinião - Mais uma descida aos infernos

Passos Coelho desceu aos infernos, com o súbito agravamento das taxas de juro sobre a dívida portuguesa, e com as agências de rating a aumentarem a pressão sobre Portugal. E tudo aconteceu na pior altura, o que já leva o primeiro-ministro a manifestar o seu desagrado para com os mercados.

O chefe do Governo, quando ainda contava com a companhia de Vítor Gaspar nas Finanças, tinha jurado que o regresso aos mercados para o financiamento do sector público iria acontecer em Setembro de 2013.

Na pior das hipóteses, diziam eles, na última semana do mês. Dias antes dessa semana psicológica, os mercados subiram o juro da dívida para valores superiores a sete por cento, as agências de rating reclassificaram o risco português para o nível de "lixo" e a gestora do maior fundo de investimentos do mundo alertou os seus clientes para os riscos de aposta na dívida pública portuguesa.

Por coincidência que não será inocente, tudo aconteceu quando a troika se encontra em Portugal para duas avaliações do cumprimento do programa de assistência financeira. Previa-se que se acordassem também as linhas fortes do programa cautelar, para vigorar, depois de terminado o programa de assistência, no Verão do próximo ano. Mas tudo correu mal.

Que razões levaram a esta reacção sísmica dos credores e dos mercados? – é esta a pergunta que muita gente faz neste momento. Não é muito difícil encontrar algumas explicações.

Em primeiro lugar, está a crise governamental que levou Vítor Gaspar à demissão e à sua substituição por Maria Luís Albuquerque. Ainda por esses dias, foi a demissão de Paulo Portas que levou tempo de mais a resolver.

A isto podem juntar-se os chumbos do Tribunal Constitucional e o facto de ser o próprio Presidente da República a desconfiar da constitucionalidade de algumas das medidas de austeridade decididas pelo Governo.

Finalmente, a mais grave de todas as causas vem da economia que não reanima, embora o Governo tenha feito grande propaganda de alguns casos pontuais. A isto junta-se o aumento do desemprego, com efeitos crescentes de retracção na procura interna.

A própria delegação da troika já disse que não esperava que as medidas de austeridade provocassem efeitos tão devastadores na economia.

Mas há ainda outra razão para explicar esta situação. A troika não tem confiança na nova ministra das Finanças e pensa mesmo que o futuro de Maria Luís Albuquerque será breve, no Governo. A ministra não consegue desembaraçar-se do escândalo dos swaps. Pelo contrário, todos os dias fica mais amarrada a novas denúncias e às suas próprias contradições.

Também o estilo de Paulo Portas não tem agradado aos credores internacionais, sobretudo, em Bruxelas, onde é considerado "muito emocional e muito infantil”, de acordo com o desabafo de uma fonte da Comissão Europeia.

Portas responde, fazendo circular em meios jornalísticos a ideia de que um dos culpados é o presidente do Eurogrupo e ministro Holandês das Finanças. Segundo fontes próximas de Portas, tem sido Jeroen Djasselboem, com algumas declarações públicas e com rumores que faz passar para os jornais, a veicular a ideia de que Portugal e o seu Governo não são fiáveis.

Passos Coelho não tem grandes expectativas em relação às eleições autárquicas do próximo domingo. Mas espera, pelo menos, não perder por muitos. E esta semana vai dramatizar o discurso, fazendo crer que um bom resultado eleitoral do PSD é fundamental, para que Portugal possa recuperar a confiança internacional.

Tudo indica que, se o presente está a ser mau, o futuro será ainda muito pior. A solução para os graves problemas portugueses continua eternamente adiada.