Opinião. A história pode repetir-se
Se olharmos para as sondagens, em Portugal, parece que estamos a ver um filme antigo em reprise.
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A história pode repetir-se, embora muita gente não acredite nisso. Se olharmos para as sondagens, em Portugal, parece que estamos a ver um filme antigo em reprise.
António Costa e o PS entraram no ano de 2015, liderando todas as sondagens para as eleições legislativas de outubro desse ano. Lentamente, a situação foi-se invertendo e a coligação PAF acabou por ultrapassar os socialistas e foi a formação mais votada nas eleições. Não foi além de uma maioria relativa e, por isso, a convergência parlamentar da esquerda viabilizou um governo do PS.
Este ano, a história parece querer repetir-se. António Costa e o PS já tiveram uma vantagem confortável sobre o PSD. Mas, de repente, a situação inverteu-se e Rui Rio e o PSD estão a subir, a tal ponto que a maioria das sondagens já coloca os dois partidos em situação de empate técnico.
Existe este ano um fator que não acontecia em 2015. Antes das legislativas, há eleições europeias, a 26 de maio, que podem constituir uma grande sondagem para as legislativas de outubro. Podem mesmo ser as “primárias” das eleições gerais.
A explicação para isto está, com toda a certeza, na sucessão de casos que tem acontecido à volta do Governo. Por exemplo, as nomeações de familiares para cargos governamentais ou públicos. O PS e o Governo sempre desvalorizaram a questão, mas, como eu disse há semanas, a opinião pública ainda está contaminada por este caso.
O PS já se deu conta disso, mas reagiu tardiamente. No discurso do 25 de Abril, o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, verberou aquilo a que chamou “política de casos” que parece sobrepor-se às políticas públicas de interesse geral. Por exemplo, já ninguém fala na nova política de preços dos passes sociais nas grandes zonas metropolitanas, mas ainda se fala nas nomeações dos familiares.
Rui Rio não tem explorado o escândalo, limitando-se a dizer que se trata de uma questão de ética que nem sequer precisa de uma lei que limite esses abusos. Em contrapartida, o CDS tem pedido ao eleitorado que, só por isso, derrote o PS nas próximas eleições. Mas, pelo que as sondagens indicam, esse pedido não trouxe ganhos de causa aos centristas.
No domínio da governação, o Executivo tem revelado algumas falhas com as respetivas consequências na sua popularidade. À cabeça desses desaires surge o Serviço Nacional de Saúde com uma ministra que se tem revelado inepta para um desafio de enormes proporções. O ministro da Administração Interna também tem estado debaixo de um coro de críticas por não ter resolvido a questão do Siresp e pela sua relação conflituosa com os bombeiros portugueses.
As greves dos sindicatos-relâmpago são outra questão em que o Governo nem sempre tem atuado com a celeridade e eficácia desejáveis.
A par disto, há as reivindicações de alguns setores da administração pública como professores, polícias, magistrados e funcionários judiciais, guardas prisionais e funcionários dos registos e notariados e muitos outros que querem, até às eleições, descongelar as progressões nas carreiras. O Governo, até hoje, foi incapaz de dizer o que podia fazer nessa questão, e o que se torna impossível porque tudo custa muito dinheiro.
Resta ainda outro problema para António Costa. O cabeça de lista do PS às europeias, o ex-ministro Pedro Marques, tem-se mostrado muito apagado, evitando discutir as questões políticas que estão em causa e preferindo os ataques pessoais a Paulo Rangel, o seu rival do PSD. Pouco se tem ouvido sobre a Europa num momento tão delicado.
António Costa já percebeu isto e decidiu ir para a estrada, na tentativa de dar chama à campanha do PS. Pode ser que, nestas quatro semanas, consiga inverter a situação. Mas, se isso não acontecer, o primeiro-ministro averba uma derrota que podedepois refletir-se nas legislativas de outubro.