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O altar ego de Carlos Moedas

Logo que o preço foi conhecido, a indignação soltou-se e envolveu o Patriarcado de Lisboa, a Câmara de Lisboa e o Presidente da República.

O presidente da câmara municipal de Lisboa, Carlos Moedas.

O presidente da câmara municipal de Lisboa, Carlos Moedas. © Créditos: Lusa

Uma infra-estrutura de grande envergadura devia acolher o Papa Francisco, para uma celebração, das Jornadas Mundiais da Juventude, em Agosto. Mas quando se soube o preço, aquilo transformou-se no altar ego, de Carlos Moedas.

Mais de cinco milhões de euros é quanto vai custar o altar-palco, do Parque Tejo, onde se pretende que o Papa Francisco celebre uma eucaristia.

Logo que o preço foi conhecido, a indignação soltou-se e envolveu o Patriarcado de Lisboa, a Câmara de Lisboa e o Presidente da República, enquanto o Governo assobiava para o lado e fingia nada ouvir.

E a sociedade civil também se deixou envolver, refutando o preço elevado da infra-estrutura. Houve excepções, é certo, mas a maioria dos portugueses criticou o exagero do projecto.

Veremos se as reuniões que se anunciam para reanálise do assunto conseguem demover o inchado ego de Carlos Moedas.

No meio de tudo isto, Carlos Moedas, o homem que quando chegou à Câmara Municipal criticou os gastos com esta empreitada, mudou de ideias e defendeu acerrimamente os elevados custos, para acolher o chefe da Igreja de Roma.

Mas as coisas não ficam por aqui. Feitas as contas, tudo o que será edificado para ficar afecto a este acontecimento custará mais de 160 milhões de euros. E, claro, sem contar ainda com as derrapagens de custos que acontecem sempre, neste tipo de empreitadas.

Carlos Moedas insiste que o preço não é tão exorbitante como parece, à primeira vista. Trata-se de uma infra-estrutura de grande utilidade para a cidade que depois das Jornadas Mundiais da Juventude terá outras utilizações. É um argumento sem grande sucesso, porque Lisboa tem outros equipamentos sociais que já acolheram diferentes acontecimentos de escala planetária. Além disso, vários especialistas já provaram que é possível construir o tal altar-palco, com muito menos dinheiro, mas com muito menos ostentação, claro.

Depois de toda esta discussão, parece que Carlos Moedas quer a obra de pé, para lhe associar o seu nome, mesmo sem lápide. Será a sua obra de regime, que lhe proporcionará, quem sabe, outros voos, para mais elevados patamares. Pelo menos, é isso que eu penso.

Diferentes personalidades, como o próprio Presidente da República, dizem, com razão, que tamanho gigantismo e tanta ostentação não se compaginam com a vida austera do Papa Francisco. Um franciscano que todos os dias vai pelo seu pé almoçar ao refeitório do Vaticano, transportando o seu tabuleiro e sentando-se junto dos operários que cuidam da manutenção da vetusta instituição.

Veremos se as reuniões que se anunciam para reanálise do assunto conseguem demover o inchado ego de Carlos Moedas. Corrigir um erro é sinal de inteligência e respeito pela razão.

(Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.)

Sérgio Ferreira Borges, professor e jornalista

É professor de jornalismo, no Centro Protocolar de Formação de Jornalistas e em várias universidades. Como jornalista, trabalhou em jornais, rádios e concluiu a sua atividade, na EuroNews, a televisão pan-europeia de notícias. Foi assessor de imprensa e chefe de gabinete, da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.