"Não quero regressar a Portugal". As razões que desfazem o sonho dos emigrantes
O país natal está a desiludir os emigrantes portugueses em muitos aspetos, levando-os a adiar ou a desistir do regresso de vez.
Emigrar sempre foi um sacrifício alimentado pelo sonho do regresso para muitos portugueses. Por mais anos que se viva no país de acolhimento e mesmo tendo uma boa experiência, a ideia de voltar para Portugal está sempre presente. É o que revela um estudo recente, onde mais de 70% dos emigrantes portugueses afirmam que querem voltar ao país.
No entanto, há quem vá desistindo ou adiando o sonho. Para os mais velhos, ficar junto dos filhos e netos é uma das principais razões que os levam a não regressar de vez à terra natal. No caso do Luxemburgo, hámuitos que optam por passar temporadas em cada país. E referem ainda o melhor funcionamento do sistema de saúde e mais apoios sociais no Grão-Ducado.
Para as gerações mais novas o que país natal oferece é pouco comparado com os países de acolhimento. No caso de alguns, o regresso está adiado por causa do percurso escolar dos filhos. Esta é a razão apontada por 6% do total de 300 emigrantes que participaram no inquérito da Sedes - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, divulgado recentemente pela Agência Lusa.
Principais razões
A verdade é que Portugal está a desiludir os emigrantes, e as causas são várias aponta o estudo, desde os baixos salários à corrupção instalada no país.
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Os baixos salários que o país oferece são o principal motivo de adiamento do regresso. Isso mesmo dizem 62% dos emigrantes que responderam ao inquérito.
A corrupção e o compadrio são a segunda razão de peso: 30% dos inquiridos apontaram-nas como a razão para ainda não terem regressado ao seu país natal. Além dos baixos salários, 27% realçam a falta de oportunidade profissional em Portugal, enquanto 19% denotam a falta de reconhecimento social das suas competências e funções profissionais, quando comparado com o que lhes é dado no país de acolhimento.
O mau sistema de saúde também condiciona o retorno, assim justificam 22% dos emigrantes inquiridos. Mas não só. Os serviços administrativos portugueses (16%), o sistema político (11%) e o sistema jurídico (11%) são outras áreas portuguesas que deixam a desejar e pesam na decisão de continuar emigrado. Finalmente, 6% aponta a falta de apoio no regresso a Portugal.
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O inquérito
O inquérito coordenado pela investigadora Christine de Oliveira abrangeu 300 portugueses residentes no estrangeiro, 60% dos quais com idades compreendidas entre os 40 e 65 anos e 26% entre os 26 e os 40 anos.
Quanto ao período de emigração dos inquiridos, 40,5% são oriundos da nova vaga de emigração e 18% emigraram nos anos 1960/1970. Já 11,3% dos inquiridos são lusodescendentes.
Para Christine de Oliveira este estudo, que se insere no âmbito das atividades desenvolvidas pelo Observatório das Comunidades Portuguesas, iria permitir "trazer um saber mais científico e menos empírico a questões que se colocam há vários anos", segundo declarou à Lusa em maio.
(Com Lusa)