Marcelo: o grande derrotado
A tradição manteve-se e os partidos que provocam crises políticas são sempre sancionados pelo eleitorado.
© Créditos: Hugo Delgado/Lusa
António Costa foi o grande vencedor das eleições legislativas que tiveram muitos derrotados. Um deles, foi Marcelo Rebelo de Sousa que borregou nos seus planos, em toda a linha.
Costa conseguiu uma maioria absoluta, na qual já não acreditava. Na última semana de campanha, deixou mesmo de a pedir ao eleitorado, mas o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista, com estratégias erradíssimas, continuaram a agitar esse papão. Isto é, fizeram a campanha que António Costa, prudentemente, tinha abandonado.
A partir de agora, Marcelo terá mais dificuldades em impor, ou mesmo influenciar a agenda política.
Mas o grande derrotado da noite eleitoral foi, sem dúvida, Marcelo Rebelo de Sousa. Foi uma derrota que já se vinha anunciando, desde a vitória de Rui Rio, nas eleições internas do PSD. Marcelo queria outra liderança, para o seu partido, mas falhou.
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Para a noite eleitoral, o Presidente da República tinha dois planos. Primeiro, queria uma vitória do PSD e consequente derrota do PS. Se isto falhasse, como aconteceu, tinha um plano B que seria um resultado que permitisse um bloco central, preferencialmente, liderado pelo PSD. Na véspera das eleições, ainda fez uma intervenção pública, pedido "mudanças profundas". Mas o eleitorado não lhe deu ouvidos e a maioria absoluta do PS derrotou também este segundo plano.
A partir de agora, Marcelo terá mais dificuldades em impor, ou mesmo influenciar a agenda política. É certo que vai ficar à espera de qualquer desgraça ou momento menos feliz do Governo, para aparecer, como foi o caso dos incêndios de Pedrogão. Mas a impaciência da sua personalidade é conhecida e pode traí-lo, levando-o a dizer o que não deve, fora de tempo.
Mas há mais derrotados. A tradição manteve-se e os partidos que provocam crises políticas são sempre sancionados pelo eleitorado, nas eleições seguintes. Bloco de Esquerda e Partido Comunista chumbaram o Orçamento de Estado e provocaram eleições antecipadas. O resultado está à vista. E com a modéstia das votações conseguidas no domingo, é bem provável que caminhem para o desaparecimento parlamentar, como aconteceu já ao CDS.
No Bloco, ainda pode acontecer alguma regeneração, como a escolha de outra direcção que consiga inverter este caminho para o cadafalso. No PCP, acho que tudo se vai manter. A culpa do mau resultado vai ser atribuída ao Povo que não entendeu a justeza das propostas do partido. Por isso, Jerónimo vai manter-se, numa teimosa agonia que só pode ter um fim.
O jovem que liderava o CDS já desapareceu. Quando chegou à liderança, previ este final. Eu e muito mais gente. Ele resistiu até onde pode, mas enterrando o partido. É jovem de mais para perceber que as instituições são mais importantes que os egoísmos das pessoas.
(Este autor escreve de acordo com o antigo Acordo Ortográfico.)
Sérgio Ferreira Borges, professor e jornalista
É professor de jornalismo, no Centro Protocolar de Formação de Jornalistas e em várias universidades. Como jornalista, trabalhou em jornais, rádios e concluiu a sua atividade, na EuroNews, a televisão pan-europeia de notícias. Foi assessor de imprensa e chefe de gabinete, da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.