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Crime

Atriz portuguesa revela abuso sexual em criança por familiar

Em entrevista, Melânia Gomes confessou ter sido vitima de um familiar e de como ninguém a apoiou na altura. "Achavam que eu era criança e ia esquecer".

© Créditos: Instagram

Melânia Gomes é atriz, apresentadora de televisão e uma das atuais caras da SIC, onde faz parte do elenco da telenovela 'Sangue Oculto'.

No sábado passado, 18 de março, foi a convidada do programa de entrevistas "Alta Definição", onde acabou por revelar um acontecimento traumático da sua infância que lhe moldou toda a vida.

Melânia revelou a Daniel Oliveira que tinha sido abusada sexualmente por um membro da família, quando tinha entre 5 a 7 anos, durante umas férias. "Eu reprimi, volta e meia tinha flashes, imagens que me apareciam concretas, situações, cheiros, tudo muito sensorial, tudo muito forte. E da mesma forma que vinha, ia. Tinha as mais variadas reações, ou batia na pessoa com quem estava, ou chorava, ou ficava sem reação nenhuma", começou por lembrar. A atriz de 38 anos garante que "foi preciso bastante tempo para eu trabalhar isto. Fiz psicoterapia, fiz tudo. Fiz muita coisa para poder enfrentar o que aconteceu".

Melânia deu detalhes das férias e de como este familiar a abordava, sobretudo, quando estava sozinha. "Ia dar-me banho, para ver se eu me estava a lavar bem, ou quando eu estava a dormir, ou estava a brincar, sempre sozinha. Aquilo foi estranho, foi gradual. E as coisas foram escalando, mas embora eu não tivesse conhecimento sexual, há uma intuição que te diz que aquilo não devia estar a acontecer e que não queres que aquilo aconteça" disse.

Por isso, a menina assustada ligou à mãe a pedir para voltar para casa. É aí que lhe conta o que aconteceu e não teve aquilo que precisava. "Estava à espera de uma reação da minha mãe sempre rodou a baiana na escola com qualquer coisa que fosse. Mas nunca ninguém fez nada com a esperança de que eu era pequena e ia esquecer", conta. "Há muito aquela ideia que o que acontece de mal às crianças elas vão esquecer e não vão. A mente até pode reprimir, mas a vida vai-te pondo coisas pelo caminho que te levam a ter de enfrentar e a fazer as pazes com isso", garante, por experiência própria.

E deixa a crítica para que se proteja mais as crianças e se acredite quando estas ganham coragem para falar, porque a maioria dos abusos acontece nos seios familiares, com pessoas próximas, e muitas vezes, os menores não sabem o que se está a passar e não têm como se defender.

"O pedófilo normalmente é manipulador, carinhoso, sabe iludir a criança de forma lúdica. 'Vamos fingir que sou médico, que isto é um tratamento e um exame'. Para a criança, até se sentir mal, é uma brincadeira. É roubar a inocência", relata na entrevista, entre lágrimas. "A pessoa que abusa, abusa de uma inocência, de uma confiança e é intimidante. Estamos a falar de crianças ou até mesmo de adolescentes que acreditam que aquela pessoa pode matar os pais… estão a ser vítimas, a ser abusadas e ainda são elas que protegem os pais…", disse num excerto da conversa também partilhado por Daniel Oliveira.

Ainda assim, Melânia nota que teve a capacidade para "não se sentir culpada, não quis que aquilo acontecesse. Mas há muitas crianças que não sabem, porque estamos a falar do corpo, porque há reações que são superiores a nós e que eles podem utilizar isso contra ti próprio. Não está certo, não é suposto. Não quero imaginar quando isto acontece anos e anos", contou a Daniel Oliveira.

Morte libertadora

Quando o abusador morreu, Melânia começou o seu processo de cura. "Parece que foi preciso a pessoa morrer para ter força para falar. Eles ficam sempre num sitio tão negro e tão assustador que tu muitas vezes ignoras e tentas seguir a tua vida. Nem falas. Por isso é que os prazos para fazer as queixas me deixam revirada. Cada pessoa tem o seu tempo, cada caso é um caso".

A raiva talvez nunca vá embora. "Não lhe aconteceu nada. Eu sofri tudo sozinha. Eu pedi ajuda e ninguém me deu. Resolvi mas àquela pessoa não lhe aconteceu nada. E não sei a quantas mais pessoas terá feito o mesmo. É importante falar, é importante denunciar e as coisas deviam ser mais facilitadas porque é preciso muita coragem para falar sobre isto", garante.

Mãe em alerta

A cara da SIC é mãe de Mafalda, três anos, e não facilita quando o assunto é segurança. "A minha filha nunca vai dormir fora, não fica na casa de ninguém, só nos avós. E tem esta formação: se ela acorda de noite, ela conta-me tudo", disse. E para além disso, a atriz também faz questão que "ninguém ande de boleia no banco de trás com a minha filha". Pequenos gestos que garante serem essenciais para não temer que a história se repita.

Trazendo o assunto para o presente, a atriz confessa-se assustada com "este movimento que agora existe dos 'coitadinhos destes pedófilos, que termo pesado, vamos usar 'pessoas atraídas por menores'. Não! Quem precisa de apoio são as crianças, que são inocentes e merecem respeito".

Contato para situações de abuso sexual de menores

Rede CARE - apoio a crianças e jovens vítimas de violência sexual Telefone: 225502957 E-mail: care@apav.pt

Linha de Apoio à Vítima da APAV Telefone: 116 006, de 2.ª a 6.ª feira, das 09h às 21h