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OpiniãoLuxemburguês

Importam-se de falar uma língua que os portugueses entendam

As autoridades e organizações do Luxemburgo insistem em falar uma língua que metade da população não entende.

Dos 479 mil trabalhadores do Grão-Ducado, apenas 255 mil residem no país e só 124 mil são luxemburgueses.

Dos 479 mil trabalhadores do Grão-Ducado, apenas 255 mil residem no país e só 124 mil são luxemburgueses. © Créditos: Arquivo

A seca repete-se em todas as conferências de imprensa aqui no Luxemburgo. Primeiro, há que levar com um discurso, que pode demorar horas, em luxemburguês. Como me custa perceber este idioma - que dizem ser uma mistura de francês e alemão - lá fico sentada, muito bem comportada, a fingir que tiro notas. Mas a verdade é que não entendo quase nada. No final repete-se o ritual. Lá me aproximo dos oradores, sim porque na sua maioria são homens, para lhes pedir com a maior educação possível: “Importa-se de repetir, agora em francês? Há quem o faça sem qualquer problema. Cito os casos do primeiro-ministro, Xavier Bettel, ou da ministra da Integração, Corinne Cahen. Também era só o que faltava para uma ministra que tem a tutela da integração! Outros ficam incomodados por terem que repetir. É o caso do ministro dos Negócios Estrangeiros e Assuntos Europeus, Jean Asselborn. Com um ar sobranceiro e irónico lá repete como se eu fosse burra por não aprender essa língua que é o luxemburguês. Confesso que tentei.

Durante três meses, religiosamente, uma vez por semana, lá ia ao Centro Cultural de Bonnevoie para aprender luxemburguês num curso ministrado pela Comuna do Luxemburgo. Admito as minhas limitações. Quando chegámos à hora de aprender os números, que têm uma lógica completamente diferente da nossa língua, confesso que desisti. Parece que estavam a dar-me nós no cérebro.

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Mas porque é que não falam em francês e pronto! Afinal o país tem três línguas oficiais: francês, alemão e luxemburguês. Uma vez, um conhecido político explicou-me. A razão são as câmaras de televisão da RTL. Porque para eles têm que falar em luxemburguês para o canal de televisão do país. Quando cá cheguei, ainda se davam ao trabalho de emitir o telejornal das 20h00 com as legendas em francês, em direto. Agora para perceber alguma coisa tenho que ir ver a versão traduzida ao site da RTL.

Percebo que estejam a tentar preservar a sua língua, que é um dos redutos da sua identidade. Mas o problema é que este país tem metade da população estrangeira. Ou seja, cerca de 50% da população fica, como eu, sem perceber nada quando optam por falar em luxemburguês. Principalmente quem fala línguas de origem latina, como os portugueses – que são só a maior comunidade de migrantes no Luxemburgo - , italianos ou espanhóis. Estão só a excluir metade da população.