Zelensky em bunker. "Nós não somos russos, nunca seremos russos, essa ideia vai falhar"
"Ontem, o mundo não fez nada. Agora, pelo menos, muitos países ouvem-nos", disse Zelensky, numa entrevista rápida e sob tensão a uma equipa de reportagem da Sky News na Ucrânia.
© Créditos: Twitter Sky News
"Ontem, o mundo não fez nada. Agora, pelo menos muitos países ouvem-nos", disse Zelensky, numa entrevista rápida e sob tensão a uma equipa de reportagem da Sky News e transmitida esta quinta-feira à noite pela SIC.
A imagem do presidente da Ucrânia, vestido com roupa informal, é a de alguém sempre a olhar por cima do ombro - enquanto respondia às perguntas da jornalista ia também respondendo aos sinais dos funcionários - Volodymyr Zelensky é o alvo número um das tropas russas e não pode permanecer muito tempo no mesmo local.
Na resposta à primeira pergunta hesitou uns segundos antes de responder, como se não a comprendesse, ou talvez porque quem tem o seu país em guerra, não tem tempo para falar de sentimentos. Zelensky é um homem em ação e isso está-lhe estampado no rosto, não é o medo, nem o cansaço, o semblante transmite sobretudo uma aura de comando. "Como se sente?", perguntou a repórter, e o Presidente do país que Putin invadiu há precisamente duas semanas, respondeu: "Penso que sinto o mesmo que todos os ucranianos ... estamos fortes", afirmou.
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"O apoio está longe, a Europa e os EUA estão muito longe desta tragédia"
Volodymyr Zelensky parece zangado, ou melhor, admirado, como se o mundo, na sua perspetiva, não tivesse a noção exata do que está a acontecer e do que ainda está por acontecer. E insiste nos pedidos de ajuda, na união de países.
"Não podemos pôr fim a isto sozinhos, só se o mundo se unir em volta da Ucrânia. O apoio está muito longe, as pessoas da Europa e dos EUA estão muito longe desta tragédia", justificou. Só assim se percebe que não vejam aquilo que ele vê e antevê, parece querer dizer.
"Não quero que combatam aqui (EUA e UE), mas há pessoas, há países que podem ajudar, que se podem unir", ressalvou.
"Não vou ser eu, não esperem que seja eu a pedir imensas vezes por uma zona de exclusão aérea", disse. E vaticinou: "Acreditem, se a situação se prolongar vão avançar para uma zona de exclusão aérea, mas entretanto terão perdido milhares de pessoas", disse o Presidente ucraniano.
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"Bloquearam as maiores cidades, não querem que as crianças recebam água e comida"
Sobre a ajuda que tarda em chegar - como o pedido do país de adesão à UE - Zelensky fala do tempo que lhe falta: "Há muitos passos burocráticos - nós não temos esse tempo", esclareceu.
Contra Putin, tudo. "[As tropas russas] bloquearam as maiores cidades, não querem que as crianças recebam água e comida", disse, acrescentando que a ideia é "tratar os ucranianos como animais".
Sobre acabar com a guerra, Zelensky não tem ilusões: "Vai ser muito dificil, mas eu vou tentar. Isto não é um conto de fadas, é uma decisão de dois povos, de dois países, de dois presidentes e um deles é Putin".
"Há muitos países que a Rússia pode ocupar, essa é a ideia do nazismo"
Sobre a possibilidade de Moscovo exgir que deixasse o seu cargo para acabar com a invasão, o Presidente ucraniano é claro: "Se ele me pedir para sair e que assim acaba com a guerra, eu tenho a certeza de que se eu deixasse o meu cargo, o meu país e o meu povo, seria muito difícil unir as pessoas, o exército, unir toda a nossa nação e, por isso, eu acho que a minha decisão foi a acertada. O tempo o dirá", respondeu.
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"Nós não somos russos, nunca seremos russos, essa ideia vai falhar, podem ocupar-nos, todos os grandes países podem ocupar pequenos paises, há muitos países que a Rússia pode ocupar, essa é a ideia do nazismo", disse Zelensky, para logo sair apressado, para outro lugar, em mais uma tentativa de ludibriar as tropas russas que o querem ver morto.