Venezuela. Líder do Parlamento autoproclama-se Presidente interino do país
Juan Guaidó considera que o Presidente Nicolás Maduro "está a usurpar o poder". Entretanto, Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, apressou-se a reconhecer Guaidó, convidando outros países a segui-lo.
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O presidente do parlamento venezuelano, o opositor Juan Guaidó, autoproclamou-se hoje presidente interino da Venezuela, perante uma concentração de milhares de pessoas, no leste de Caracas. Pouco depois, Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos, já reconheceu Guaidó no cargo, convidou outros países a segui-lo e sublinhou: "Continuamos a responsabilizar o regime ilegítimo de Maduro perante quaisquer ameaças à segurança do povo venezuelano".
"Levantemos a mão, hoje 23 de janeiro, na minha condição de presidente da Assembleia Nacional e perante Deus todo-poderoso e a Constituição, juro assumir as competências do executivo nacional, como Presidente Encarregado da Venezuela, para conseguir o fim da usurpação (da Presidência da República), um governo de transição e eleições livres", disse.
Juan Guaidó começou por fazer referência a vários artigos da Carta Magna venezuelana e fez os manifestantes jurarem comprometer-se em "restabelecer a Constituição da Venezuela".
"Hoje, dou um passo com vocês, entendo que estamos numa ditadura", disse vincando saber que a sua autoproclamação "terá consequências".
Por outro lado, dirigiu-se ao Presidente Nicolás Maduro, sublinhando que "aos que estão a usurpar o poder, digo, com o grito de toda a Venezuela: vamos insistir até que regresse a água e o gás, até que os nossos filhos regressem, até conseguir a liberdade".
Segundo Juan Guaidó "não se trata de fazer nada paralelo", afirmando que tem “o apoio da gente nas ruas". No entanto, ao mesmo tempo que a oposição se mobilizava nas ruas da capital, também manifestações em Caracas com milhares de participantes que reafirmaram o apoio ao chavismo de que Nicolás Maduro é herdeiro.
As manifestações registam-se depois de, na segunda-feira, ter havido uma tentativa de levantamento contra o regime de Maduro por parte de 27 militares, segundo relatos das agências internacionais. Hoje, durante os protestos, houve quatro vítimas mortais.
Organização dos Estados Americanos também reconhece Guaidó
Entretanto, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, felicitou Juan Guaidó, o líder do parlamento venezuelano, que hoje se autoproclamou “Presidente em exercício” da Venezuela.
“As nossas felicitações a Juan Guaidó, o Presidente em exercício da Venezuela. Ele tem todo o nosso reconhecimento para impulsionar o regresso da democracia ao país”, escreveu Almagro na rede social Twitter, a partir de Washington, onde a OEA está sediada, depois de já ter há alguns dias anunciado que o considerava o “Presidente interino” da Venezuela.
O engenheiro mecânico de 35 anos tornou-se rapidamente o rosto da oposição venezuelana ao assumir, a 3 de janeiro, a presidência da Assembleia Nacional, única instituição à margem do regime vigente no país.
Nicolás Maduro iniciou a 10 de janeiro o seu segundo mandato de seis anos como Presidente da Venezuela, após uma vitória eleitoral cuja legitimidade não foi reconhecida nem pela oposição, nem pela comunidade internacional.
Nesse dia, a OEA adotou uma resolução declarando ilegítimo o seu mandato e agendou e realizou uma sessão extraordinária para analisar “os recentes desenvolvimentos” naquele país latino-americano.
A 15 de janeiro, numa coluna de opinião publicada no diário norte-americano The Washington Post, Juan Guaidó invocou artigos da Constituição que instam os venezuelanos a rejeitar os regimes que não respeitem os valores democráticos, declarando-se “em condições e disposto a ocupar as funções de Presidente interino com o objetivo de organizar eleições livres e justas”.
A Venezuela enfrenta uma grave crise política e económica que levou 2,3 milhões de pessoas a fugir do país desde 2015, segundo dados da ONU.
Esta crise num país outrora rico, graças às suas reservas de petróleo, está a provocar carências alimentares e de medicamentos.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação deverá atingir 10.000.000% em 2019.
Lusa