UE quer caminhos-de-ferro dos 27 com a mesma bitola
Bruxelas quer que a largura da via férrea passe a ser de 1,435 metros em todo o continente.
© Créditos: Patrik Stollarz/AFP
Em nome da fluidez do comércio, a Comissão Europeia gostaria de ver os principais eixos ferroviários do continente levados à mesma bitola, para evitar transbordos para Espanha, Portugal, os Estados Bálticos ou a Ucrânia.
Como parte da atualização do seu programa de construção de corredores transeuropeus (RTE-T), a Comissão propôs, no final de julho, esquecer as ligações previstas com a Rússia e a Bielorrússia. Em vez disso, pretende integrar a Moldávia e a Ucrânia, trazendo mesmo uma das principais rotas para o porto de Mariupol, que foi destruído e ocupado por Moscovo.
Os 27 Estados-membros deverão adotar o texto em setembro.
De acordo com o texto, que será discutido pelos Estados-membros, Bruxelas quer também que sejam construídas novas linhas ferroviárias com a bitola padrão de 1.435 metros e que as linhas existentes nestes corredores sejam adaptadas a esta bitola, que deverá tornar-se a norma em todo o continente.
Os principais caminhos-de-ferro na maioria dos países europeus já utilizam uma bitola de 1.435 metros entre o interior dos carris (escolhido como padrão na Grã-Bretanha em 1845, e amplamente utilizado em todo o mundo desde então). Esta medida também é conhecida como "bitola-padrão".
Franjas do continente com medidas diferentes
Mas há outras redes com diferentes bitolas nas franjas do continente, exigindo transbordos ou a utilização de equipamento complexo quando os comboios precisam de continuar: a ex-URSS com os Estados Bálticos, Moldávia, Ucrânia, Bielorrússia e Rússia (1,520m), Finlândia (1,524m), Irlanda (1,600m) e Península Ibérica (1,668m).
"A migração para a bitola padrão europeia (...) visa melhorar a interoperabilidade do transporte ferroviário na União e com os países terceiros vizinhos", disse uma porta-voz à AFP.
"As dificuldades na exportação de cereais ucranianos, ligadas às bitolas ferroviárias atualmente incompatíveis, ilustram a natureza crucial destes esforços", salientou.
Trata-se de uma reviravolta na história, já que até recentemente havia planos para construir uma linha de "bitola russa" (1,520m) através da Eslováquia para ligar a Ucrânia a Viena, Áustria. Falou-se, então, em facilitar a importação de mercadorias chinesas por via ferroviária.
Para além das novas linhas, os Estados interessados terão dois anos para apresentar um plano de conversão a Bruxelas, uma vez adotado o novo programa RTE-T. Os países terão "uma margem de apreciação" e poderão decidir o calendário, insistiu a Comissão. Mas terão de justificar qualquer recusa com uma análise socioeconómica.
Objetivo é "criar uma rede europeia unificada"
"O objetivo a longo prazo é criar uma rede europeia unificada", diz o texto europeu. A Irlanda, completamente isolada, não está envolvida.
Na prática, a Espanha já construiu as suas novas linhas e ligou o porto de Barcelona a França pela via padrão. No outro extremo do continente, a futura ligação Rail Baltica deverá atravessar os três Estados Bálticos de norte a sul e ligá-los à rede polaca, utilizando também a bitola definida.
A conversão do resto da rede seria simbolicamente importante, mas difícil de concretizar a curto prazo, segundo a ministra estónia das Infraestruturas Riina Sikkut e o ministro letão dos Transportes Talis Linkaits, citados pela emissora pública estónia ERR.
Embora não se fale de verbas significativas para o projeto, a Comissão está a perspetivar o seu financiamento através dos subsídios europeus, em nome da eliminação de "barreiras à interoperabilidade".
Um problema a evitar é a emergência de problemas de compatibilidade dentro do mesmo país, entre corredores europeus reconstruídos com bitola padrão e linhas de interesse local que mantiveram a sua bitola do século XIX.
Os finlandeses, cuja rede ferroviária só está ligada aos caminhos-de-ferro suecos por uma única linha no norte do país, já manifestaram o seu desacordo. O ministro dos Transportes Timo Harakka, pediu uma derrogação, justificando que a alteração da bitola "não é económica ou operacionalmente viável".