Ucrânia. Conflito com Rússia “não é inelutável”, diz chefe do Pentágono
Mais de 100.000 soldados russos estão concentrados na junto à fronteira ucraniana desde o fim de 2021, sinal, para Washington, de que uma invasão poderá estar iminente.
O chefe do Pentágono, Lloyd Austin. © Créditos: EPA
Um conflito entre a Ucrânia e a Rússia “não é inelutável”, afirmou esta sexta-feira o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin.
“Ainda há tempo e margem para a diplomacia”, sublinhou numa rara conferência de imprensa no Pentágono com o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas norte-americano, o general Mark Milley.
Mais de 100.000 soldados russos estão concentrados na junto à fronteira ucraniana desde o fim de 2021, sinal, para Washington, de que uma invasão poderá estar iminente.
Mas o chefe do Pentágono defendeu que não há “qualquer razão” para que a atual situação desemboque necessariamente num conflito.
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“O senhor Putin tem, também ele, a possibilidade de fazer o que for necessário”, assegurou, referindo-se ao Presidente russo, que nega qualquer projeto de invasão, mas considera a Rússia ameaçada por uma eventual expansão da NATO a leste e pelo apoio ocidental à Ucrânia.
Moscovo fez depender a redução da ameaça de conflito na região do fim da política de alargamento da Aliança Atlântica, em especial à Ucrânia, e do regresso dos destacamentos militares ocidentais às fronteiras de 1997.
Austin defendeu que a concentração de soldados russos ao longo da fronteira com a Ucrânia chegou a um ponto em que o Putin tem agora todo um leque de opções militares, incluindo ações menores que uma invasão em grande escala.
“Embora não acreditemos que o Presidente Putin tenha tomado a decisão final de usar essas forças contra a Ucrânia, ele tem agora claramente capacidade para o fazer”, declarou o secretário da Defesa norte-americano na conferência de imprensa.
Em Moscovo, o Kremlin indicou que Putin disse ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que o Ocidente não considerou as preocupações de segurança russas, e o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse a uma rádio que a Rússia não quer uma guerra, mas não vê margem para cedência nas suas exigências.
Segundo o chefe do Pentágono, Putin poderá usar qualquer fração da sua força estimada em mais de 100.000 soldados para tomar cidades ucranianas e “significativas parcelas de território” ou para lançar “atos coercivos ou atos de provocação política”, como o reconhecimento de territórios separatistas dentro da Ucrânia.
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Lloyd Austin falava ao lado do general Mark Milley, que indicou que as forças russas estacionadas perto da Ucrânia incluem não apenas tropas terrestres e forças navais e aéreas, mas também meios bélicos cibernéticos e eletrónicos, bem como equipas de operações especiais, e instou Putin a escolher a via diplomática em vez do conflito.
Milley advertiu de que um ataque em grande escala de Moscovo à Ucrânia teria consequências “aterradoras”.
“Se a Rússia optar por invadir a Ucrânia, isso terá um preço, em termos de baixas e outros aspetos significativos”, disse o general, referindo-se também aos custos russos de tal opção.
“Podem imaginar como seria em zonas urbanas densas”, disse o general Milley, prevendo “um elevado número de vítimas” em caso de ofensiva.
“Seria aterrador, seria horrível”, sublinhou, na conferência de imprensa.
O alto responsável militar norte-americano observou igualmente que as Forças Armadas da Ucrânia têm atualmente maior capacidade do que tinham em 2014, quando a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia e interveio em apoio dos separatistas pró-russos no leste do território daquela ex-república soviética.
Os comentários de Austin e Milley foram as primeiras declarações públicas extensas sobre a Ucrânia este ano.
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A própria conferência de imprensa representou uma subtil mudança na abordagem da Administração Biden às comunicações públicas sobre a crise na Ucrânia, que até agora se centravam na Casa Branca e no secretário de Estado, Antony Blinken, que tem liderado os esforços diplomáticos do Governo.
Milley e Austin têm nas últimas semanas mantido consultas regulares com os seus homólogos dos países aliados e da Ucrânia, mas pouco têm revelado do conteúdo dessas comunicações ou sobre as suas perspetivas da crise.