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Villerupt

Tiroteio na fronteira do Luxemburgo. Município francês pede mais meios

Os representantes do poder local e da polícia dizem-se abandonados pelo Estado no combate ao tráfico de droga que assola a região.

Um homem encapuzado disparou de dentro de um carro este sábado e deixou três pessoas em estado grave

Um homem encapuzado disparou de dentro de um carro este sábado e deixou três pessoas em estado grave © Créditos: Sébastien BOZON /AFP

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Fonte: AFP

No dia seguinte ao tiroteio que fez cinco feridos em Villerupt (Meurthe-et-Moselle), uma zona fronteiriça que favorece o desenvolvimento do tráfico de droga, os sindicatos da polícia e os representantes do poder local queixaram-se de terem sido abandonados pelo Estado.

Ao início da manhã, os habitantes de Villerupt acordaram atordoados. A polícia científica abandonou o local este domingo, mas alguns vestígios de sangue no chão ainda eram um lembrete do episódio violento da véspera, que deixou três pessoas em estado grave e duas outras ligeiramente feridas, enquanto o agressor se colocou em fuga.

Os disparos tiveram lugar ao pé de um dos poucos blocos de edifícios do centro de Villerupt, perto da igreja, de uma padaria e de uma tabacaria, a menos de 300 metros da esquadra da polícia.

Neste ponto de tráfico, bem conhecido da população e das autoridades, os preços das drogas estão escritos nas paredes: 80 euros por um grama de cocaína, 60 euros por 10 gramas de haxixe, 80 euros pela canábis.

"Ultimamente, os traficantes tiram as cadeiras de campismo e pousam as balanças para pesar a droga nas janelas dos nossos serviços técnicos", lamenta à AFP o presidente da Câmara, Pierrick Spizak (PCF), de 35 anos. "O que aconteceu era, infelizmente, de esperar, e não é por falta de aviso", declarou.

Proximidade da Bélgica e do Luxemburgo agrava tráfico

Em 2016, os distritos policiais de Villerupt e Longwy, situados a 20 quilómetros de distância, foram fundidos, com efetivos permanentes. Para cobrir este território alargado, foi inaugurado em janeiro de 2017 uma nova esquadra, em substituição da anterior, completamente degradada.

"Na altura da inauguração, tínhamos pessoal, mas foi sol de pouca dura", recorda Serge de Carli (PCF), presidente da comunidade de comunas de Longwy. Segundo o presidente da Câmara de Villerupt, a esquadra tem atualmente 25 agentes a menos do que o que seria necessário.

"A República defende a equidade dos cidadãos, em direitos e deveres. Considero, tal como Pierrick Spizak, que a situação aqui é injusta, nomeadamente no que diz respeito à segurança pública", afirma de Carli.

Ler mais:Vários feridos em tiroteio na fronteira do Luxemburgo

Para estes eleitos, os problemas de tráfico na zona são acentuados pela proximidade imediata da Bélgica e do Luxemburgo, a poucos quilómetros de distância.

"Estamos num eixo Norte-Sul, a partir de Amesterdão, e somos confrontados com um certo número de realidades, nomeadamente o tráfico de droga", explica Serge de Carli. "Temos traficantes de droga que se instalam aqui, que vêm arruinar a vida dos habitantes. Estamos completamente sozinhos face a tudo isto."

Ao mesmo tempo, a proximidade do Luxemburgo e os seus salários mais elevados atraem trabalhadores e a população está a aumentar localmente: Villerupt ultrapassou recentemente a marca dos 10.000 habitantes pela primeira vez em 20 anos.

No entanto, embora a riqueza seja produzida no Grão-Ducado, as necessidades quotidianas dos trabalhadores transfronteiriços manifestam-se do lado francês e os meios, nomeadamente de segurança, não estão disponíveis.

Traficantes "aproveitam falta de cooperação entre os países"

Há anos que o território pede ao governo que obtenha do Luxemburgo uma retribuição fiscal, à semelhança do que já existe em benefício dos municípios belgas, sem sucesso até à data.

Nestas condições, as queixas acabam por se acumular nas prateleiras das esquadras.

"O território é demasiado grande e são necessários reforços: o stock é enorme, com mais de 11.000 processos pendentes", afirma Abdel Nahass, secretário de zona adjunto do sindicato Unité SGP Police FO.

"Os traficantes estão a brincar com as fronteiras. Perceberam que há falta de cooperação entre os países e aproveitam, não há nada mais fácil", sublinha.

O território sofre igualmente de falta de atratividade aos olhos dos funcionários públicos: os polícias recrutados em Villerupt acabam geralmente a sua formação e vão-se embora logo.

"A rotação é muito elevada e é difícil reter o pessoal. Estes postos de trabalho deveriam ser melhorados", afirma David Ghisleri, diretor regional do sindicato Alliance.

"Poderíamos facilitar o acesso à habitação, oferecer bónus aos agentes que ficam vários anos, como se faz na região de Paris", acrescenta. "Haveria muitas alavancas a ativar se os poderes públicos encarassem o problema de frente. Mas não é necessariamente o caso do Estado."

Contactada pela AFP, a prefeitura não respondeu.

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