Situação "catastrófica" em Mariupol
Russos e ucranianos se voltam a reunir esta terça-feira para novas conversações em Istambul, na Turquia.
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As autoridades ucranianas estão preocupadas que a já "catastrófica" situação humanitária em Mariupol, cidade portuária estratégica sitiada e bombardeada pelo exército russo desde finais de fevereiro, se agrave ao mesmo tempo que russos e ucranianos se voltam a reunir para novas conversações em Istambul, na Turquia.
Depois de Moscovo ter anunciado na sexta-feira que estava "a concentrar os seus esforços na libertação de Donbass", porto estratégico no Mar de Azov, Mariupol corre o risco de sofrer um "agravamento" da sua situação, advertiu Oleksiï Arestovytch, conselheiro da presidência ucraniana, numa mensagem de vídeo no Telegram.
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky denunciou um bloqueio total da cidade, que o exército russo tem tentado tomar desde finais de fevereiro, e onde cerca de 100.000 pessoas ainda estão presas. "Todas as entradas e saídas da cidade estão bloqueadas (...) é impossível trazer comida e medicamentos para Mariupol", disse Zelensky no domingo à noite. "As forças russas estão a bombardear comboios de ajuda humanitária e a matar os condutores", acrescentou, dizendo que as ruas estavam repletas de "cadáveres" que não podiam ser enterrados.
"A população está a lutar para sobreviver. A situação humanitária é catastrófica", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano na sua conta no Twitter. "As forças armadas russas estão a transformar a cidade em pó.
Segundo um relatório de meados da autarquia da cidade mais de 2.000 civis foram mortos em Mariupol desde o início da invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro. E o destino de centenas de civis que ali se tinham refugiado é ainda desconhecido, quase duas semanas após o bombardeamento do teatro da cidade. Estima-se que, pelo menos, 300 pessoas tenham morrido no ataque mas os números ainda não foram confirmados.
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Combates ferozes no leste do país no domingo
No terreno, os ataques russos pareciam estar a diminuir de intensidade em algumas cidades, tais como Mykolayev. Segund oa AFP, a ofensiva russa recuou significativamente face a uma contra-ofensiva ucraniana sobre Kherson, cerca de 80 km a sudeste, a única grande cidade que o exército russo reivindicou como sua desde o início da sua invasão do país a 24 de fevereiro.
Mas a violência continuou noutros lugares, especialmente no leste do país. No domingo à noite continuavam os combates ferozes perto de Izum. Na aldeia vizinha de Oskil, sete pessoas foram mortas e cinco feridas em fogo de artilharia russa, de acordo com o gabinete do procurador regional. As bombas continuam também a cair em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia.
Em Lugansk, uma pessoa morreu e outra ficou ferida em bombardeamentos russos, disse o chefe da administração regional, Sergei Gaidai. Várias explosões foram sentidas em Kiev, disse o conselheiro do Ministério da Defesa, Anton Guerashchenko. "O inimigo está a tentar fazer um avanço em torno de Kiev e a bloquear estradas", disse a vice-ministra da Defesa, Ganna Malyar, à televisão ucraniana.
Macron alerta para escalada de "palavras e ações"
No domingo à noite, Emmanuel Macron advertiu contra "uma escalada de palavras e ações", entre o Kremlin e os líderes governamentais que se têm manifestado contra a guerra. Numa visita a Varsóvia no sábado, o presidente dos EUA, Joe Biden, atacou violentamente o líder do Kremlin, descrevendo-o como um "carniceiro" e dizendo que não podia "permanecer no poder" após a sua invasão da Ucrânia.
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O Kremlin já considerou estes comentários como "alarmantes" na segunda-feira. "Não vou usar este tipo de linguagem porque continuo a discutir com o Presidente Putin", disse Macron.
A Casa Branca foi rápida a qualificar as observações de Biden. "O que o presidente quis dizer foi que Putin não pode ser autorizado a exercer poder sobre os seus vizinhos ou sobre a região", disse um porta-voz. "Biden não estava a falar sobre o poder de Putin na Rússia, ou sobre a mudança de regime", clarificou o gabinete do presidente norte-americano.
Entretanto as sanções e boicotes à Rússia continuam. Esta segunda-feira a cervejeira holandesa Heineken anunciou que iria temrinar as operações na Rússia, onde tem 1.800 empregados.
Nas cerimónia dos Óscares, este domingo em Los Angeles, foi feito um minuto de silêncio em homenagem à Ucrânia.