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Relato de Kiev. "Temos uma mochila de emergência preparada para fugir se for preciso"

Nas primeiras horas de uma operação militar da Rússia na Ucrânia, Paulina Nélen não pretende deixar, para já, a capital e acredita que jogada de Vladimir Putin é tática de pressão contra o ocidente.

© Créditos: AFP

Paulina Nélen, 25 anos, vive em Kiev, capital ucraniana, e ainda está incrédula com os acontecimentos das últimas horas. A Rússia invadiu a Ucrânia durante a madrugada, numa operação militar para "desmilitarizar o país", que já fez dezenas de vítimas.

Para já, não prevê abandonar a sua casa mas está em alerta se a situação piorar. Para esta ucraniana, o cenário era inacreditável até ontem. "Esta quarta-feira, bebia um café com uma amiga e a avó dela ligou a pedir para comprar mantimentos para um mês. Achamos ridículo, não vai haver invasão. Esta madrugada, acordamos com esta notícia e eu não quero acreditar que, em 2022, uma guerra destas está a acontecer". Durante a manhã, "ouviram-se bombardeamentos mas parecem ser em zonas estratégicas, não para atingir civis. Essa é a ideia que temos aqui", conta Paulina.

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Na capital ucraniana a vida continua normalmente, apesar da crescente tensão entre a Rússia e Ucrânia, sobretudo nas regiões fronteiriças de leste. "Em Kiev, é muito fácil esquecer que há um conflito armado. Na verdade, há uma semana mais ou menos, o que começou a ser comunicado foi que não haveria invasão porque já acontecia uma guerra há oito anos. Habituámo-nos a esta tensão. Hoje mudou tudo e volto a repetir que estamos todos em choque, ainda não conseguimos reagir".

Sair de Kiev é uma opção? "Para já, não. O trânsito está o caos, os carros não andam, as pessoas precipitaram-se. Não sairíamos do lugar". Paulina, o namorado e os pais decidiram esperar pelos próximos desenvolvimentos e têm comida e mantimentos para uns dias. Mas, estão preparados para fugir a qualquer momento. "Temos uma mochila de emergência preparada para fugir, se for preciso", diz. Quem opta por sair, a maioria dirige-se para as fronteiras terrestres com a Moldávia ou Polónia, uma vez que o espaço aéreo está fechado.

Com a família por perto, a jovem conta com as redes sociais para ir sabendo dos amigos que ainda estão em Kiev ou outros que já saíram do país. "Toda a gente está ativamente nas redes sociais. É por aí que nos chega a informação mais imeadiata. Sobretudo, Instagram e Telegram (semelhante ao WhatsApp). Estamos todos ansiosos e sei de pessoas que estavam sozinhas e juntaram-se em grupo por temerem viver os próximos dias isoladas".

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Quando confrontada com a ideia vinculada em várias reportagens de que os ucranianos estariam dispostos a defender-se em batalha, Paulina rejeita, para já, essa hipótese. "Ouve-se aqui e ali pessoas mais radicais que afirmam que pegariam numa arma e lutariam. Mas a grande maioria quer proteger os seus e ficar em segurança. Mais uma vez, acredito que em 2022 não se chegue a esse ponto".

Até porque, diz a ucraniana, ainda acredita que a movimentação russa se trata sobretudo de uma "tática de manipulação para levar o ocidente a aceitar as condições de Putin. A Rússia lucra com o pânico generalizado e acredito que não se trate de tomar o país mas de querer ganhar este jogo de pressão. Daí, bombardearem locais onde não estão pessoas. Pelo menos, assim espero, mas está tudo a acontecer demasiado rápido".