Relato de jovem ucraniana na capital: "Não vou sair de casa, tenho medo"
A Rússia atacou a Ucrânia esta quinta-feira. Houve bombardeamentos em várias cidades do país e pelo menos oito pessoas morreram. Uma jovem ucraniana em Kiev, onde também houve explosões, relata o que está a acontecer: "A guerra já começou. Estamos todos em pânico".
Pessoas com sacos e malas numa estação de metro na capital ucraniana esta quinta-feira de manhã. © Créditos: Daniel Leal/AFP
Kseniia Chyzhova vive em Kiev. Na manhã desta quinta-feira, a jovem ucraniana de 29 anos acordou em pânico. "Às 6 horas da manhã houve várias explosões. A guerra já começou. Há um ataque militar. A guerra é real. Não é falsa", relatou ao Contacto. A Rússia iniciou esta quinta uma operação militar contra a Ucrânia, com o suposto objetivo de pacificar o conflito armado que ocorre no leste do país desde 2014. "Já houve bombardeamentos por toda a Ucrânia", lamentou a jovem.
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"As pessoas estão a tentar sair. Estamos todos em pânico", acrescentou Kseniia. A ucraniana vive sozinha, mas prefere não arriscar sair à rua. "Não vou sair de casa, tenho medo. Estou sozinha aqui e não há ninguém por perto. Não posso ir para a casa da minha família noutra cidade, já há muitos carros nas estradas e está tudo bloqueado", explicou.
Na sua rua, parecia estar tudo mais calmo por volta das 10h (hora local, menos uma hora no Luxemburgo). "Só se vê pessoas a sair para ir buscar água e comida. É muito assustador", afirmou a jovem. Os supermercados estão a ser esvaziados, as estações de metro estão cheias, as estradas estão entupidas por carros de pessoas que querem fugir da guerra. Agora "as tropas estão a ser mobilizadas, os militares foram todos chamados".
A rua onde vive Kseniia ficou vazia depois do alvoroço do início da manhã. © Créditos: DR
Kseniia procurou saber quais as recomendações do Governo ucraniano para os cidadãos neste momento: "Li fontes oficiais. Fomos instruídos para não entrar em pânico, não bloquear o tráfego nas estradas, a descarregar mapas offline, a procurar os abrigos anti-bombas mais próximos. O metro é agora gratuito e as estações de metro subterrâneas podem ser utilizadas como abrigo em caso de explosões", contou.
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A jovem diz que o sentimento geral no país é de "pânico" e "medo". "Todos os dias temos más notícias. Esperamos pelo melhor e que o bom senso prevaleça. É um momento difícil para o meu país. Não sei como é que isto está a ser visto noutros países, mas agora é tudo ataques e agressões por parte da Rússia", protestou.
Para Kseniia, o maior culpado por esta guerra é o presidente da Rússia. "Putin é louco e muito provavelmente a felicidade do nosso país só existirá depois da sua morte. Ou, através da guerra, um golpe de Estado terá lugar no seu país. Mas há um preço a pagar até esse golpe… O tirano só será expulso após um grande número de mortes", alertou.
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A solução, na perspetiva da jovem ucraniana, passa sobretudo pelo protesto dos próprios cidadãos russos ao conflito. "Só os russos podem parar a guerra. Só o cidadão comum russo nos pode salvar, se fizerem protestos na Rússia. O mundo deve saber a verdade e ajudar-nos. Deve haver protestos em todo o lado", apelou.