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Escândalo sanitário

Pizzas contaminadas. Fábrica da Buitoni em risco de fechar

A unidade industrial de Caudry, no norte de França, esteve no centro de um escândalo sanitário no ano passado.

© Créditos: Denis CHARLET/AFP

Fonte: AFP

A Nestlé France anunciou esta sexta-feira a suspensão da atividade na fábrica de pizzas Buitoni em Caudry (norte), que esteve no centro de um grave escândalo sanitário no ano passado, devido a uma queda nas vendas.

A unidade industrial produzia pizzas congeladas da gama Fraîch'Up, suspeitas de causar a morte de duas crianças e a intoxicação de dezenas de outras pela bactéria Escherichia coli (E.Coli).

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A fábrica reabriu parcialmente em meados de dezembro, após um encerramento de nove meses, mas apenas a linha de pizzas pré-cozinhadas, não afetada pelo escândalo, foi autorizada a recomeçar.

"O mercado das pizzas congeladas caiu 20% num ano", um declínio que "teve um impacto ainda maior na marca Buitoni", disse à AFP um porta-voz da Nestlé France.

"Apesar de todos os esforços para assegurar que a fábrica retomasse a produção nas melhores condições possíveis em dezembro de 2022, a diminuição das perspetivas de encomendas obrigou a Nestlé France a reagir", acrescentou.

Até agora, a empresa apenas anunciou aos funcionários, numa reunião na quinta-feira, uma "suspensão temporária" da atividade com efeito imediato, mas esta poderá levar a um encerramento permanente.

Os cerca de 200 funcionários manterão os seus salários enquanto esperam por uma decisão sobre a fábrica, referiu o porta-voz da Nestlé France.

Apena 450 de 3.500 toneladas de pizza encomendadas

"Muitos colegas estão devastados", disse à AFP o delegado sindical da Força Operária (FO), Stephane Derammelaere, referindo-se a muitos trabalhadores com mais de 50 anos de serviço e casais onde ambos os membros são empregados pela Buitoni.

"Não esperávamos que os distribuidores nos batessem com a porta", afirmou. As encomendas das pizzas são apenas de 450 toneladas neste momento, longe das 3.500 inicialmente previstas para 2023, sublinhou.

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"Penso que acabou", concluiu o sindicalista, indicando que o "veredito" da Nestlé está previsto para 30 de março.

O presidente da câmara de Caudry, Frédéric Bricout, pediu à Nestlé, "um grupo global que faz milhares de milhões em lucros, para substituir a produção de pizzas por outro produto em Caudry", contou à AFP.

Numa declaração coassinada com o presidente do conselho regional de Hauts-de-France, Xavier Bertrand, o edil exigiu uma reunião com a Nestlé France "a fim de conhecer" as suas "verdadeiras intenções" para Caudry.

A Saúde Pública de França (SPF) e a Direção de Combate às Fraudes (DGCCRF, na sigla em francês) foram alertadas em fevereiro de 2022 por um ressurgimento de casos de insuficiência renal em crianças, ligados à contaminação por E. coli.

A 18 de março, a Nestlé recolheu as suas pizzas e fechou as duas linhas de produção, e a 1 de abril, a prefeitura proibiu toda a atividade no local, uma vez que as autoridades sanitárias estabeleceram uma ligação entre o consumo das pizzas Fraîch'Up e vários casos graves de contaminação por E. coli.

"Contaminação da farinha" é causa "mais provável"

Após buscas na fábrica de Caudry e na sede da Nestlé no Hauts-de-Seine, foi aberto um inquérito judicial em meados de maio, nomeadamente por homicídio involuntário de uma pessoa e ferimentos involuntários a outras 14.

Em julho, o presidente da Nestlé France, Christophe Cornu, anunciou a criação de um "fundo de apoio às vítimas".

A Nestlé France disse que colheu mais de 2.000 amostras e detetou as bactérias em pizzas produzidas entre outubro de 2021 e 16 de fevereiro de 2022.

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De acordo com as análises internas da empresa, "a hipótese mais provável" é a de "contaminação da farinha".

Outras causas possíveis foram também apresentadas, tais como condições precárias de limpeza e higiene, após vários avisos à empresa no passado e acusações dos funcionários.

Inspeções efetuadas pelas autoridades sanitárias nos últimos anos tinham relatado "a presença de roedores" e a "falta de manutenção e limpeza das áreas de fabrico, armazenamento e passagem" na fábrica, de acordo com o despacho da prefeitura de 1 de abril.