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Palestinianos contra plano de Donald Trump

"Acordo do Século" vai ser apresentado amanhã e quarta-feira no Bahrein em meio de protestos em toda a Palestina.

© Créditos: AFP

Bruno Carlos Amaral De Carvalho

O plano de Donald Trump para o Médio Oriente não convence os palestinianos. O projeto, conhecido como "Acordo do Século", que vai ser lançado, terça e quarta-feira, pelo genro do presidente norte-americano, no Bahrein, inclui um programa económico de dezenas de milhares de milhões de euros para conseguir a paz na região e dinamizar as economias árabes. “Crearia um milhão de postos de trabalho na Cisjordânia e Gaza. Baixaria a taxa de desemprego de à volta de 30% para apenas um dígito. Reduzirá a taxa de pobreza para metade se se implementar corretamente. Este plano vai duplicar o seu PIB”, afirmou Jared Kushner.

De acordo com o plano, se este fosse implementado, o nível de exportações no PIB da Palestina passaria de 17% para 40%, o abastecimento elétrico contínuo estaria garantido na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e a água potável disponível para cada pessoa duplicaria. O documento refere ainda como objetivos o desenvolvimento do sistema educativo e da assistência médica tendo como metas construir uma universidade, a redução da mortalidade infantil e o aumento da esperança média de vida.

Os Estados Unidos anunciaram que vão apresentar a parte económica do programa na reunião que se celebra esta terça e quarta-feira na capital do Bahrein com a participação de ministros das Finanças e empresários regionais e mundiais. Para além dos representantes norte-americanos, já têm presença garantida a Arábia Saudita, o Egito, a Jordânia e Marrocos. Os palestinianos não vão marcar presença no encontro uma vez que não foram sequer convidados para preparar esta cimeira.

Greve geral contra plano dos Estados Unidos

Em protesto, a Comissão da Marcha do Retorno convocou uma greve geral na Cisjordânia e na Faixa de Gaza para amanhã, terça-feira, quando começa a cimeira. Para além da paralisação geral, foram convocadas manifestações e uma conferência nacional para mostrar a rejeição do povo palestiniano a este plano.

O plano não recolhe o apoio dos representantes palestinianos que entendem a proposta como uma tentativa de “suborno” em troca da aceitação da ocupação israelita. De acordo com Abbas Zaki, membro do Comité Central da Fatah, tudo o que o genro de Trump diz é mentira: “Na minha opinião, é tudo falso. Se recolherem 50 mil milhões de dólares vão para o bolso de Kushner. E em relação aos projetos, vão atrasar-se e causa divisão entre os países árabes”.

O ministro palestiniano das Finanças, Shukri Bishara, também criticou a proposta. “Não precisamos da reunião do Bahrein para construir o nosso país. Precisamos de paz. A proposta de reconstrução económica seguida de paz é irreal, uma ilusão, afirmou Bishara, de acordo com a Europa Press. “Primeiro, dêem-nos a nossa terra e a nossa liberdade”, pediu o ministro.

Já o Hamas é mais frontal e responde que a Palestina não está à venda. Em comunicado, a Fatah, partido do presidente Mahmoud Abbas, apelou a que os países árabes rejeitem a “insultante tentativa de suborno” dos Estados Unidos e pediu-lhes para investirem na Iniciativa de Paz Árabe de 2002, que propõe a paz e o reconhecimento de Israel a troco da retirada das fronteiras de 1967, uma solução para os refugiados e um Estado palestiniano soberano e independente com capital em Jerusalém Oriental.

Ex-dirigentes europeus rejeitam proposta

Em abril, cerca de trinta antigos altos funcionários europeus - incluindo seis ex-primeiro-ministros, 25 ex-ministros dos Negócios Estrangeiros e dois ex-secretários-gerais da NATO - publicaram uma carta em que apelavam ao adiamento do "Acordo do Século", argumentando que é injusto para os palestinianos. Os signatários pediram à Europa que rejeitasse a proposta. "Chegou o momento de que a Europa defenda os nosso parâmetros de princípios de paz em Israel-Palestina", dizia o documento.

"Infelizmente, a atual administração dos Estados Unidos afastou-se da tradicional política dos Estados Unidos", denunciavam os signatários que acrescentaram que o reconhecimento de Jerusalém como capital de uma só parte do conflito é uma demonstração de parcialidade. Os Estados Unidos "mostraram uma preocupante indiferença perante a expansão colonial israelita", concluíram.