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O relógio francês oferecido à corte portuguesa agora destruído por 'bolsonaristas'

O relógio foi oferecido por Luís XIV à corte portuguesa e é uma peça rara, havendo apenas outro exemplar semelhante no Palácio de Versalhes.

© Créditos: DR

Fonte: Redação

Os apoiantes do ex-presidente Jair Bolsonaro que invadiram no último domingo o Planalto, em Brasília, destruíram um relógio do século XVIII que foi oferecido pela corte do rei francês Luís XIV ao rei português D. João VI e levado para o Brasil pela corte portuguesa, em 1808.

O objeto estava exposto no terceiro andar, onde fica localizado o gabinete presidencial e foi uma entre as muitas obras de arte destruídas ou danificadas durante a invasão.

A peça foi construída pelo relojoeiro francês Balthazar Martinot, com design de André-Charles Boulle - ambos pertencentes à corte de Luís XIV, o "Rei Sol" - e tinha sido objeto de restauro em 2012.

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O relógio é uma peça única, havendo apenas um outro exemplar do autor mas em tamanho mais pequeno, exposto no Palácio de Versalhes, em Paris.

"O relógio de pêndulo do Século XVII foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto", refere o site da Presidência da República do Brasil, num comunicado à imprensa.

Uma peça de valor "fora de padrão"

A mesma nota acrescenta que "o valor desta peça é considerado fora de padrão", sendo, por isso, os prejuízos difíceis de calcular.

De acordo com o jornal O Globo foram destruídos os ponteiros e números do relógio e a estátua de Neptuno que ornamentava o topo da peça foi arrancada.

O mesmo jornal acrescenta que o relógio tinha sido restaurado em 2012, depois de ter sido retirado de um depósito do governo federal. Na altura, a peça, que foi avaliada em 250 mil reais (cerca de 44 mil euros), apresentava uma fissura na parte superior e faltava-lhe a estátua original de Neptuno.

Estragos irreparáveis

Os danos que os bolsonaristas que invadiram o Planalto provocaram na peça dificultam a sua recuperação.

Na nota à imprensa, publicada no site da Presidência, o diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, afirma que será possível recuperar a maioria das obras vandalizadas, mas estima como “muito difícil” a restauração do relógio de Balthazar Martinot.

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"O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK [Juscelino Kubitschek]. É este o seu valor histórico", explica o responsável.

No domingo, um grupo de militantes de extrema-direita e bolsonaristas invadiram e vandalizaram as sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem. Atos que suscitaram a condenação da comunidade internacional e levaram a comparações com a invasão do Capitólio, por apoiantes de Donald Trump, a 6 de janeiro de 2021.

A invasão começou depois de os apoiantes do ex-Presidente, derrotado nas últimas eleições por Lula da Silva, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios.

A Polícia Militar brasileira recuperou, entretanto, o controlo das sedes dos três poderes, numa operação de que resultaram pelo menos 300 detidos, segundo a agência Lusa.

O juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou já o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, durante 90 dias, considerando que este e o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, terão atuado com negligência e omissão.