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Ucrânia

O que leva Zelensky da excursão europeia?

O ucraniano quer resultados imediatos das conversas. Armas, jatos, e a promessa de começar as negociações este ano para a adesão à UE.

O presidente ucraniano fez em dois dias uma visita a Londres, Paris e Bruxelas para pedir mais apoio, numa deslocação que foi considerada histórica.

O presidente ucraniano fez em dois dias uma visita a Londres, Paris e Bruxelas para pedir mais apoio, numa deslocação que foi considerada histórica. © Créditos: AFP

Jornalista

O presidente ucraniano fez em dois dias uma visita a Londres, Paris e Bruxelas para pedir mais apoio, numa deslocação que foi considerada histórica. É fácil ver nesta incursão apenas uma campanha de relações públicas, mas Zelensky insistiu que não tem “o direito de voltar a casa sem resultados”.

Disse isto na conferência de imprensa conjunta com Charles Michel, presidente do Conselho, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ao fim da sessão da manhã, em que se encontrou na mesma sala que os 27 líderes europeus.

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“É importante que todas as conversas levem a resultados, não são momentos de emoções. O tempo das emoções parou a 24 de fevereiro de 2022. Isto é pragmático. Para sobreviver, precisamos de armas, de financiamento, de fundos”, considerou.

Michel revelou que convidou Zelensky para se sentar em Bruxelas com os líderes europeus “não só para lhe dar mais uma tribuna. As palavras são importantes, mas é preciso medidas concretas. Estou convencido que mais pode ser feito e mais vai ser feito para apoiar a Ucrânia”.

Reino Unido. Afinal há receios de entregar os jatos

Depois da sessão com todos na mesma sala, Zelensky teve ao longo da tarde quatro reuniões parcelares com os líderes de 25 países – foram excluídos Macron e Olaf Scholz, porque jantaram no dia anterior no Palácio do Eliseu, em Paris. Na última das sessões, no edifício Europa, estiveram Portugal e o Luxemburgo, bem como Malta, Irlanda, Bélgica e Lituânia.

O que Zelensky veio pedir a Bruxelas foi material militar, sobretudo aviões de combate, a rapidez na adesão e mais sanções contra a Rússia. Antes de começar as reuniões da tarde, Zelensky contou que na visita a Londres conseguiu resultados. Os ingleses disseram inicialmente que iriam enviar caças standard da NATO, mas segundo uma declaração de há poucas horas do porta-voz de Downing Street, o Reino Unido está ainda a avaliar se o envio de jatos não poderá envolver “riscos de escalada” da guerra, incluindo o de arrastar a NATO para o conflito. O porta-voz de Rishi Sunak disse que o governo britânico não irá enviar aviões de combate se for considerado que isso coloca riscos de segurança para o próprio Reino Unido.

Sobre o jantar de quarta-feira em Paris, Zelesnky disse: “Tivemos uma reunião muito importante e poderosa e vejo a reunião como positiva”. Mas em relação a medidas concretas que tenham sido assumidas pelo presidente francês ou pelo chanceler alemão especificou que “há medidas qua não vão ser anunciadas publicamente”. Também em relação ao Reino Unido disse que foram assumidos compromissos que “não são do conhecimento do público”.

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No que diz respeito a todos os países, os da UE, e o Reino Unido, o presidente ucraniano defendeu que tem que “agradecer a todos pelas palavras e pelo contributo. O que nos deram foi coisas concretas para garantir a defesa da sociedade ucraniana, dos milhões de refugiados. E tudo serviu para garantir a resiliência do nosso Estado”, que, acrescentou permitiu aos ucranianos enfrentar a guerra.

Armas com urgência

Depois de há umas semanas ter conseguido a promessa de vários países europeus do envio dos Leopard 2 que pedira, Zelensky está agora a apressar a entrega dos tanques. E também está a pedir que os países da UE entreguem o mais depressa possível caças F-16, para aquilo que se teme ser a ofensiva de primavera que a Rússia está a preparar. Além disso, os ucranianos querem mais artilharia pesada, munições e mísseis de longo alcance.

Von der Leyen sublinhou que desde o primeiro dia a UE comprometeu-se a ajudar o país, mas que é uma decisão de cada Estado-membro dar armas. No entanto, há brechas neste discurso. A primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, sugeriu que a UE deveria comprar armas em conjunto (como fez com as vacinas para a covid-19) para entregá-las à Ucrânia.

Na sua passagem por Bruxelas, Zelensky reafirmou que não há tempo a perder. Charles Michel, o presidente do Conselho, contou que todos os líderes perceberam a necessidade de dar armas à Ucrânia. Von der Leyen acrescentou que “percebe a urgência” dos pedidos do presidente ucraniana.

Adesão à União Europeia. Abertura de negociações em 2023

Charles Michel prometeu que no final do ano quando a Comissão entregar um relatório sobre o processo de candidatura, fará tudo para ter o consenso dos líderes europeus para dar o passo seguinte. “A Ucrânia está a fazer e vai continuar a fazer reformas muito importantes, a Comissão está a fazer uma avaliação e o Conselho Europeu irá pronunciar-se até ao fim do ano. Comprometo-me a garantir isto pessoalmente”.

Zelensky também pediu, há uma semana, que este ano começassem as negociações para a adesão da Ucrânia à UE, num regime ultra-acelerado. “É claro que precisamos este ano, Charles, quando eu digo este ano, refiro-me a 2023”, perguntou Zelesnky, na conferência de imprensa, para ter a certeza.

Os encontros tête-à-tête com os líderes europeus servem também para os convencer a abrir as portas à Ucrânia o mais depressa possível. A Ucrânia entregou o seu pedido de adesão pouco depois da invasão russa e em junho de 2022 – juntamente com a Moldávia e a Geórgia – obteve o estatuto de país candidato.

A justificação de Zelesnky para precisar deste processo acelerado é porque, disse, “é a esperança que nos dá a todos alento para travar esta batalha” que, insistiu, é também de “defesa da Europa, não só dos valores mas de coisas muito concretas”. Líderes como o português António Costa, Macron ou Mark Rutte têm uma posição cética em relação a esta corrida da Ucrânia em guerra para o clube europeu.

No entanto, tanto a presidente da Comissão, como Charles Michel, já disseram várias vezes que ficaram impressionados com o ritmo a que a Ucrânia fez as reformas que lhe foram pedidas como condição para entrar na UE, e que foram divulgadas há uma semana.