Manuel Valls, um “social-liberal” nascido na Catalunha à frente do governo francês
Manuel Valls, nascido em Barcelona há 51 anos e designado primeiro-ministro de França, é um poliglota que conseguiu enorme popularidade nos últimos dois anos, com a pasta do Interior no anterior Governo de François Hollande.
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Identificado com a ala direita do Partido Socialista (PSF), Valls define-se como um “social-liberal à francesa” e um admirador da “terceira via” do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.
O novo primeiro-ministro substitui à frente do Executivo francês Jean-Marc Ayrault, que ontem apresentou a sua demissão e do seu governo ao Presidente François Hollande após a derrota história do PSF nas municipais.
Nascido em Barcelona e capaz de falar com fluidez castelhano, catalão, francês e italiano, é filho do pintor catalão exilado em França Xavier Valls, quando os seus pais se encontravam na Catalunha.
Apenas com 17 anos, e em Paris, filia-se no Partido Socialista e inicia uma carreira meteórica, regista a agência noticiosa EFE.
Entre outros cargos, foi responsável pelo gabinete de imprensa de Lionel Jospin, edil de Évry e candidato às primárias socialistas, ganhas por Hollande, que lhe ofereceu o ministério do Interior quando ocupou o Eliseu.
Apesar de ideologicamente afastados, apesar de integrarem o mesmo partido, Valls e Hollande aproximaram-se durante a campanha para as presidenciais de 2012.
O seu conhecimento dos bairros mais sensíveis e a sua gestão da segurança em Évry, nos arredores de Paris, concederam-lhe os créditos para ocupar a pasta do Interior, num governo onde incarnou os valores mais conservadores do PSF, centrando-se no combate à criminalidade com a criação de zonas de segurança especiais em bairros sensíveis e multiplicando as intervenções nos media.
Em 2007 esteve perto de integrar o primeiro governo conservador de Nicolas Sarkozy, que pretendia integrar “políticos de esquerda” no seu governo de “abertura”, mas preferiu optar pela disciplina do partido, apesar de nunca ter abandonado as suas críticas face à direção do PSF.
Valls refere-se com orgulho às suas origens catalãs, e nos contactos mantidos com Barcelona exprime-se em catalão, língua que domina com a mesma fluidez do castelhano. Exprime-se ainda em italiano porque a sua mãe, Luisangela Galfetti, é natural da zona suíça onde se fala este idioma.
O seu pai, que emigrou para França no final da década de 1940 e faleceu em 2006, foi um artista que explorou o cubismo e abstracionismo em centenas de retratos, paisagens e naturezas mortas.
Para mais, Manuel Valls i Gorina, um primo de seu pai, compôs a música do hino do FC Barcelona, de quem é adepto, apesar de também ser aficionado do Paris Saint German (PSG).
Valls mantém desde há anos uma boa relação com o líder do Partido Socialista catalão (PSC), Pere Navarro, e o que os conhecem definem-no como um homem sério, perfeccionista, correto no trato e com grande vocação de Estado.
Também se declara amigo do ministro do Interior de Espanha, Jorge Fernández Díaz, com quem fez frente comum contra o terrorismo nos dois lados da fronteira, e desde há anos que mantém contactos regulares com Jordi Pujol, o ex-presidente da Generalitat da Catalunha e fundador da Convergència (CiU).
Apesar dos seus vínculos com a Catalunha, o político francês sempre evitou posicionar-se sobre o debate em torno da consulta de autodeterminação da Catalunha, e já considerou que “a diversidade de Espanha deveria ser a sua força e não um problema”.