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Guerra Ucrânia

Mais de metade das crianças da Ucrânia deixaram as suas casas ou o país

Na Ucrânia, pelo menos 144 menores foram mortos desde o início da invasão russa. “Salvem a vida das nossas crianças ucranianas. Parem a guerra”, pede o jogador ucraniano do Benfica, Roman Yaremchuck. Também a Unicef alerta para o enorme trauma infantil.

Uma criança dentro de um carro com a palavra "criança" em ucraniano, à chegada a um ponto de evacuação em Zaporizhzhya, a 29 de março de 2022.

Uma criança dentro de um carro com a palavra "criança" em ucraniano, à chegada a um ponto de evacuação em Zaporizhzhya, a 29 de março de 2022. © Créditos: Emre Caylak/AFP

As crianças têm sido a face mais marcante deste conflito na Ucrânia, obrigadas a deixar os seus pais, as suas casas e a fugirem com as mães, outros familiares ou sozinhas. As que permanecem do lado de dentro da fronteira estão em perigo e a “viver um verdadeiro pesadelo”, alertou a Unicef em comunicado.

Um mês de guerra na Ucrânia provocou a fuga de 4,3 milhões de crianças das suas casas e cerca de um milhão e 800 mil deixaram mesmo o país, atravessando a fronteiras, indica a Unicef, realçando que tal representa mais de metade da população infantil da Ucrânia, estimada em 7,5 milhões de menores.

Portugal recebeu até ao momento 6.200 crianças da Ucrânia anunciou, ontem, o primeiro-ministro António Costa. No total são mais de 24 mil os refugiados da Ucrânia com proteção temporária em Portugal, segundo os dados do SEF.

Ao Luxemburgo, serão mais de mil os menores acolhidos no Grão-Ducado, num universo de 3.870 pedidos de proteção temporária. A cada dia chegam entre 70 a 80 destes pedidos feitos por refugiados ucranianos, informou na segunda-feira o Ministério de Jean Asselborn.

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Metade dos refugiados ucranianos que fugiram do país são menores, indica a diretora-geral da Unicef, Catherine Russell, incidindo sobre o trauma destas crianças, como a própria presenciou numa visita à Roménia.

“Muitas chegam apenas com uma mochila com a pouca roupa que puderam apanhar, estão preocupadas por estarem a perder dias de escola e por não saberem onde está o pai. Estão traumatizadas", contou, citada pela agência EFE. Esta guerra, acrescentou, "causou um dos deslocamentos de crianças em larga escala mais rápidos desde a Segunda Guerra Mundial”.

A ONU estima o número de pessoas deslocadas internamente na Ucrânia em quase 6,5 milhões. Cerca de 90% dos que fugiram da Ucrânia são mulheres e crianças.

"Assassinato brutal das nossas crianças"

As crianças que partem precisam de ajuda e as crianças que continuam no país encontram-se em grande perigo. Pelo menos 144 crianças já morreram e 220 ficaram feridas durante a invasão russa, revelou o Ministério Público da Ucrânia. Também a diretora-geral da Unicef denunciou os ataques militares russos contra escolas, orfanatos, creches, hospitais e maternidades, que têm vitimado menores. “Ninguém está livre de ser atacado”, alerta.

De Portugal ouviu-se ontem mais um apelo para salvar as crianças ucranianas, feito pelo jogador do Benfica, o ucraniano Roman Yaremchuk, através das redes sociais. “Todos os dias, cidades estão a ser destruídas e civis morrem. Mais de 100 crianças estão mortas”, diz o avançado num vídeo divulgado na página Zorya Londonsk, onde mostra imagens de crianças vítimas daquilo que chama de “genocídio real” da invasão russa.

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“Alice, de Okhtyrka, tinha oito anos. A sua família foi morta a tiro. Kirill, de Mariupol, tinha dois anos. Sofia, de Nova Kakhovka, tinha seis anos e o seu irmão tinha um mês. Infelizmente, a lista de crianças mortas nesta guerra é atualizada diariamente. Nós temos de parar Putin e defender a Ucrânia. Quando digo “nós”, digo cada um de nós. Não fiquem em silêncio, informem sobre a guerra na Ucrânia, falem do assassinato brutal das nossas crianças. Parem a guerra. Salvem a vida das nossas crianças ucranianas", pede Yaremchuk.

O futebolista diz que é “ucraniano, pai, filho, uma pessoa cujo coração está partido porque o meu país natal está a sofrer com a guerra”. Um conflito gerado pelo "exército russo" que define como “cruel e [que está] a destruir os ucranianos de propósito, criando uma catástrofe humanitária nas nossas cidades”. “Isto é um genocídio real” diz este ucraniano.

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Também Catherine Russell, da Unicef, apela à proteção dos menores ucranianos. “Em poucas semanas a guerra provocou um verdadeiro desastre para as crianças da Ucrânia”, diz a responsável, sublinhando que “as crianças precisam de paz e de proteção com a máxima urgência”.