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Protestos

Mahsa Amini morreu há 40 dias e o Irão não quer esquecer

No dia que marca o fim do luto tradicional no Irão, a morte da jovem iraniana está bem presente nos protestos espalhados por todo o país, que não têm fim à vista.

Praça Valiasr no centro de Teerão, capital iraniana.

Praça Valiasr no centro de Teerão, capital iraniana. © Créditos: AFP

A cada madrugada, um novo protesto. É assim há exatos quarenta dias, desde que Mahsa Amini, 22 anos, morreu nas mãos da polícia da moral iraniana e o povo insurgiu-se contra o regime e a opressão das mulheres.

Esta quarta-feira é um dia particularmente perigoso porque marca o fim do período de luto no Irão. São esperadas tensões na eminência de uma cerimónia fúnebre em homenagem à jovem iraniana no Curdistão, como seria habitual. A família avançou que, por questões de segurança, seria melhor não cumprir a tradição, no que muitos apontam como uma decisão tomada sob pressão das forças de segurança.

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As autoridades também pediram às pessoas para não se deslocarem ao cemitério neste dia, para evitar mais confrontos.

No entanto, a vontade de marcar a data superou o medo e centenas de pessoas reuniram-se no cemitério de Aichi, em Saghez, gritando palavras de ordem como "Mulher, vida, liberdade" ou "Morte ao ditador".

Em vídeos publicados nas redes sociais, vê-se a multidão que chega a Saghez caminhando pelos campos e estradas, em carros ou motocicletas.

Há mais de um mês que o país não dorme e são sobretudo as mulheres e jovens que estão na vanguarda dos protestos desencadeados com a morte de Mahsa no mês passado, por não usar corretamente a hijab (o veu islâmico). Gestos simbólicos como cortar o cabelo ou circular sem o véu (colocando em risco a própria vida) são prova da coragem das iranianas.

Escalada de violência

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Também os estudantes têm protestado contra o regime e as mortes de jovens como Nika Shahkarami (17 anos), Sarina Esmailzadeh (16), ou Asra Panahi, (16), que morreu depois de ter sido espancada na sua sala de aula por se recusar a cantar um hino de apoio ao regime.

"Um estudante pode morrer, mas não aceitará humilhação", ouve-se em vídeos verificados pela AFP na Universidade Shahid Chamran de Ahvaz, província do Cuzistão.

A repressão das forças de segurança contra os protestos já fez, pelo menos, 241 mortes, incluindo crianças, de acordo com um novo balanço da Iran Human Rights (IHR).

Houve também uma campanha de detenções em massa de manifestantes, incluindo académicos, jornalistas e estrelas pop. Os meios de comunicação estatais afirmaram na terça-feira que mais de 210 pessoas foram acusadas de ligação com os protestos no Curdistão.