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Trabalho

Falta de trabalhadores leva Alemanha a facilitar atribuição de vistos

Os trabalhadores de fora da UE vão deixar de precisar de apresentar contrato de trabalho para viverem no país.

© Créditos: Jan Woitas/dpa

Fonte: AFP

Natural da ilha de Reunião, no oceano Índico, Steven Maillot, de 23 anos, juntou-se recentemente à fábrica da gigante luxemburguesa ArcelorMittal em Eisenhüttenstadt, na Alemanha, para fazer um estágio nas instalações da gigante siderúrgica.

Este setor é um dos mais afetados pela escassez de trabalhadores qualificados, que está a atingir a maior economia da Europa e a tornar-se uma grande ameaça ao seu futuro.

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Face a este desafio, o Governo de Olaf Scholz apresentou na quarta-feira um projeto de lei que visa flexibilizar as regras de obtenção de vistos e de autorizações de trabalho para pessoas de países de fora da União Europeia (UE).

Por exemplo, em breve deixará de ser necessário apresentar um contrato de trabalho para poder residir no país, e este será substituído por um sistema de pontos que mede o "potencial" de integração dos candidatos, modelo que já é praticado no Canadá.

O objetivo é atrair mais trabalhadores. Berlim está, assim, a ir contra a tendência geral na Europa de fechar as fronteiras à imigração.

"Vamos assegurar a entrada dos trabalhadores qualificados de que a nossa economia necessita urgentemente há anos", disse a ministra do Interior, Nancy Faeser ao apresentar a proposta, que ainda não foi aprovada pelo Parlamento.

O novo sistema irá "remover obstáculos burocráticos" e "permitir que os trabalhadores qualificados venham rapidamente para a Alemanha e possam começar a trabalhar", assegurou.

Geração baby-boomer a reformar-se em massa

Foram as perspetivas de um salário melhor e de progressão na carreira que levaram Steven a decidir trocar a sua ilha longínqua por esta cidade perto da fronteira com a Polónia, no extremo oriental da Alemanha.

Um alívio para a ArcelorMittal, cujo responsável alemão, Reiner Blaschek, admite que é "cada vez mais difícil" atrair jovens estagiários.

A falta de trabalhadores qualificados tornou-se uma verdadeira dor de cabeça. Dois milhões de postos de trabalho estão atualmente por preencher na Alemanha, numa altura em que a geração baby-boomer se está a reformam em massa.

Devido ao envelhecimento da população, o mercado de trabalho deverá perder sete milhões de pessoas até 2035 se o Governo nada fizer, segundo um estudo do Instituto de Investigação sobre o Mercado de Trabalho (IAB, na sigla alemã).

Em todos os setores, 44% das empresas alemãs inquiridas pelo Instituto de Pesquisa Económica (Ifo, na sigla alemã) afirmaram ter sido afetadas pela escassez de trabalhadores em janeiro.

Face a esta situação crítica, o chanceler alemão encorajou os trabalhadores a não se reformarem antecipadamente.

No entanto, o recurso único à população alemã "não será suficiente" para colmatar o défice, admitiu Olaf Scholz no Parlamento no início deste mês.

A própria indústria está a tentar enfrentar o desafio da escassez, disponibilizando as suas próprias formações a estrangeiros.

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Formação orientada para transição energética

A nova cidade de Eisenhüttenstadt (literalmente "cidade da siderurgia") foi construída na década de 1950 durante a época da Alemanha Oriental comunista.

A ArcelorMittal emprega 2.700 pessoas nesta localidade e todos os anos recebe cerca de 50 estagiários como Steven Maillot.

"Para bem da minha carreira profissional, tenho de ficar aqui", disse à AFP na fábrica, muito longe de Reunião, admitindo que sente falta da sua ilha natal.

Uma formação adequada é importante para evitar "que os jovens nos escapem por entre os dedos", admitiu o ministro do Trabalho Hubertus Heil durante uma recente visita à siderúrgica, onde conheceu vários aprendizes.

Mas é particularmente difícil encontrar candidatos na Alemanha Oriental, devido aos rendimentos mais baixos do que no Ocidente e à reputação de que é uma área menos hospitaleira.

A escassez pode também "dificultar importantes tarefas de transição" alemã para a "mobilidade elétrica ou para as energias renováveis", alertou Achim Dercks, vice-diretor das Câmaras de Comércio alemãs (DIHK, na sigla em alemão), no início do ano.

A ArcelorMittal, por exemplo, planeia substituir um alto-forno de combustível fóssil nas instalações alemãs por uma nova unidade de hidrogénio e eletricidade até ao final de 2026.

A mudança para processos de produção mais ecológicos resultará na perda de alguns postos de trabalho, mas criará novos que terão de ser preenchidos.

"Estamos perante uma grande mudança tecnológica", diz Blaschek. "Se queremos converter as nossas instalações nos próximos quatro anos temos de começar já a mudar a nossa formação".