Efeito Greve Geral. França pára até, pelo menos, segunda-feira
Contra a reforma das pensões, cerca de 806 mil pessoas saíram em protesto em todo o país. A ordem é "parar tudo" até, pelo menos, segunda-feira. Há sindicatos dispostos a prolongar.
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Só em Paris mais de 250 mil trabalhadores responderam ao apelo da CGT. O objetivo é claro. O maior sindicato francês acredita que só a pressão nas ruas pode travar a reforma das pensões.
A reivindicação serviu de rastilho em todo o país. Nas contas oficiais do governo 25 mil concentraram-se em Marselha. Mais de 70 mil protestaram em Nantes, Rennes, Bordéus. Só em Metz foram mais de 8 mil. Os sindicatos falam numa mobilização com mais de um milhão e meio de trabalhadores.
No primeiro dia da greve que os trabalhadores pretendem prolongar, pelo menos, até segunda-feira sete em cada oito depósitos de combustível foram bloqueados. Salvo raras excepções, as escolas encerraram. Em média, 20% dos voos de e para França foram cancelados.
De resto, os transportes mal circularam. Mais de metade dos autocarros e dos comboios foram suprimidos. Até o TGV andou a meio-gás. Na capital, 11 das 16 linhas de metro estiveram encerradas.
O Le Monde conta que, pela primeira vez, 15% dos funcionários do parlamento aderiam à greve geral. Num balanço provisório, a imprensa francesa garante que 26% da função pública parou esta quinta-feira.
"Foi uma mobilização muito forte, tanto no setor público como no privado", regozijou-se Philippe Martinez, secretário-geral do maior sindicato francês.
“Hoje é convergência. ‘Coletes Amarelos’, sindicatos, todos os trabalhadores! É o que andamos a pedir há um ano, mas é principalmente uma convergência que vem da base e que segue as centrais sindicais”, vincou uma trabalhadora citada pelo Republicain Lorrain.
Professores, bombeiros, médicos, estudantes, advogados e até coletes amarelos deram corpo às manifestações. Nem os "black blocks" faltaram à chamada. Perto de 500 protagonizaram confrontos violentos com as autoridades nas ruas de Paris. A polícia de choque foi chamada a intervir. Lançou gás lacrimogéneo contra as barricadas de caixotes de lixo em chamas. Respondeu com balas de borracha ao protesto do grupo das máscaras que consideram violento.
Pelo menos 11 mil pessoas foram identificadas. 87 foram detidas, pelo menos 57 ficaram em prisão preventiva.
Jean-Luc Melénchon, do França Insubmissa, criticou severamente o prefeito de Paris pela atuação das autoridades. "O prefeito Didier Lallement organizou a desordem e a confusão. Paris é a única cidade com violência e uso maciço de gás lacrimogéneo", vincou.
A Greve continua
Depois dos ferroviários, os professores também já avisaram que pretendem prolongar o protesto.
A convicção dos dirigentes sindicais ouvidos é que o protesto só acaba quando o Governo recuar no projeto de reforma do sistema de pensões, ideia reforçada pelo facto de a greve se ter generalizado a todos os setores da sociedade francesa.
"Em 1995 partimos dos mesmos princípios, mas não tivemos o tempo de preparação que tivemos agora. Nessa altura era muito mais os regimes especiais e hoje está toda a gente na rua. Estamos muito mais num modelo 1968 do que em 1995", afirmou Bertrand Hammache, secretário-geral da CGT-RATP em declarações à Agência Lusa, que já trabalhava na empresa de transportes de Paris em 1995 quando houve uma greve que durou três semanas também devido a uma proposta do Governo para mudar o sistema de pensões.
"O Governo não recuou na sua proposta apresentada em julho, portanto o que aconteceu foi que fomos angariando mais apoio para a nossa causa em todo o país. A reforma não é só dos regimes especiais, é de todos como se pode ver", indicou o secretário-geral da empresa que gere os transportes de Paris e que esteve na vanguarda desta greve.