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Ucrânia

Dia da Independência e seis meses em guerra celebrados na Europa

Enquanto que em Kiev as celebrações dos 31 anos de independência são feitas com receio de ataques piores no dia simbólico, a Europa alia-se ao país em guerra, com promessa de ajuda enquanto for preciso.

A presidente da Comissão elogiou a coragem dos ucranianos e prometeu que a UE ficará ao lado da luta da Ucrânia.

A presidente da Comissão elogiou a coragem dos ucranianos e prometeu que a UE ficará ao lado da luta da Ucrânia. © Créditos: UE, 2022

Jornalista

É uma dupla efeméride e nos dois casos, relacionadas com a Rússia. A primeira marca o dia da Independência, passados 31 anos desde que em 1991, na sequência da queda da União Soviética, a Ucrânia conquistou a sua autonomia como país. A segunda efemérida marca os seis meses desde que (a 24 de fevereiro) a Federação Russa invadiu o país, iniciando uma campanha mortífera que chocou o mundo e não dá sinais de abrandar. Nesta quarta-feira, por isso, e temendo os ataques ordenados por Putin, as manifestações públicas estão canceladas na Ucrânia.

Volodymyr Zelensky avisou que se Moscovo decidir ações especiais contra os cidadãos ucranianos para criar o pânico no dia da Independência teria uma resposta à altura, mas a posição é de cautela. Até porque, neste momento, os ânimos estão particularmente exaltados após um atentado à bomba a 40 km de Moscovo que no sábado matou Darya Dugin, filha de um ideólogo ultranacionalista muito próximo de Putin. No funeral da filha, esta terça-feira, Alexander Dugin prometeu e incitou os russos a vingarem-se dos ucranianos até à vitória final.

Também esta terça-feira, a Ucrânia promoveu a segunda cimeira da "Plataforma da Crimeia", num formato virtual, onde vários líderes mundiais prometeram nunca reconhecer a anexação do território pela Rússia e ajudar Kiev a recuperar a província ocupada desde 2014.

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Andrzej Duda, presidente da Polónia (um dos países que mais solidariedade ofereceu à Ucrânia, recebendo milhares de refugiados desde os primeiros dias) esteve sentado ao lado de Zelensky, em Kiev, enquanto vários líderes mundiais apresentavam o seu apoio, desde o primeiro-ministro demissionário Boris Johnson ao secretário de Estado norte-americano Antony Blinken. Macron salientou que Paris continuaria a apoiar a Ucrânia no longo prazo.

A Ucrânia para o longo prazo. “Há muito a fazer”.

E no seu discurso hoje também Von der Leyen falou no longo prazo. Numa mensagem em vídeo publicada esta quarta-feira, a presidente da Comissão elogiou a coragem dos ucranianos, e prometeu que a UE ficará ao lado da luta da Ucrânia. “Vocês mobilizaram-se a todos os níveis para defender o vosso país. Nós nunca poderemos igualar os sacrifícios que estão a fazer todos os dias, mas podemos e iremos ficar ao vosso lado. A União Europeia ficou ao vosso lado nesta luta desde o princípio, fornecendo apoio económico, financeiro e humanitário . Apoiamos os vossos corajosos soldados na linha da frente e a sociedade civil e acolhemos as vossas famílias que procuraram os países da UE. As nossas escolas abriram as portas a mais de 3 milhões de crianças ucranianas para que elas possam continuar a aprender e voltar a casa quando esta guerra acabar”.

E, tal como tem vindo a ser dito, as instituições da União Europeia prometeram mobilizar fundos para a gigante reconstrução de que o país precisará no pós-guerra. “Juntamente convosco vamos reconstruir as vossas cidades tijolo a tijolo e replantar os vossos jardins e campos semente a semente. Graças ao vosso sacrifício, as vossas crianças irão viver numa Ucrânia que será justa e livre. Há muito a fazer, mas podemos fazê-lo juntos”.

Recorde-se que a Ucrânia está a caminho de aderir à União Europeia. A 28 de fevereiro, o país apresentou a candidatura, a 17 de junho a Comissão Europeia deu a sua opinião favorável e a 23 de junho, o Conselho Europeu concedeu à Ucrânia o estatuto de país candidato. Um processo que decorreu a uma velocidade histórica. No entanto, como foi dito pelos responsáveis europeus, a entrada de facto da Ucrânia no clube europeu poderá levar ainda uns anos. No fim da sua mensagem gravada, von der Leyen garantiu que “A Europa está convosco hoje e no futuro”.

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9,5 mil milhões de euros e aliança energética

Desde o começo da invasão, A União Europeia, os seus países e as instituições financeiras reuniram 7 mil milhões de euros entregues à Ucrânia sob a forma de apoio macro-económico, ajuda humanitária e de resposta à crise. Além disso, ultrapassando um “tabu” europeu de não fornecer armas a países terceiros, e ao abrigo de um novo fundo, o Fundo de Paz Europeu, estão a ser canalizados um total de 2,5 mil milhões de euros para as forças armadas ucranianas.

Um dos aspetos importantes do apoio da UE, e que poderá revelar-se crucial no inverno, é a ligação da rede elétrica ucraniana à rede elétrica europeia. E o bloco europeu prometeu garantir que a Ucrânia também irá beneficiar das compras conjuntas (que ainda estão em curso) de gás natural, gás natural liquefeito (LNG) e hidrogénio para o país (no caso de a Rússia desligar o fornecimento ao gasoduto que atravessa a Ucrânia).

Comemorações em várias cidades europeias e na Grand Place, em Bruxelas

Mas se em Kiev, as comemorações são feitas em contenção e angústia, no resto das cidades europeias demonstra-se abertamente o apoio à luta dos ucranianos.

Várias atividades em Bruxelas marcam o dia nacional da Ucrânia, desde a iluminação dos edifícios das instituições europeias com as cores azul e amarelo da bandeira ucraniana. E, como é hábito, o Manneken Pis - literalmente “o menino que faz chichi” - e que é uma atração turística, na zona histórica de Bruxelas, também foi vestido com um traje ucraniano. Ao princípio da tarde, Ursula von der Leyen, vestida de azul e amarelo, participou ao lado de cidadãos ucranianos no desembrulhar da bandeira ucraniana de 30 metros na Grand Place.

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A sede da Comissão, no edifício Berlaymont, que desde ontem à noite é iluminada a azul e amarelo, tem em exposição “Irin. Invicible”, dedicado à resistência da cidade que viveu sob ocupação russa e que foi vítima de algumas das maiores atrocidades da guerra infligidas aos seus habitantes.