Comuna de Mont-Saint-Martin critica Bausch por suspensão de autocarros RGTR
O município francês refere que o encerramento das linhas 703 e 732, após as 18h30, mostra uma "flagrante falta de coordenação" entre o Luxemburgo e as cidades transfronteiriças, e acredita que é possível encontrar soluções que asseguram a segurança de motoristas e passageiros.
Serge De Carli (segundo da esquerda para a direita), autarca da comuna francesa, diz que as linhas em causa são "cruciais" para os trabalhadores da região © Créditos: Claude Piscitelli
Desde 19 de setembro, as linhas transfronteiriças de autocarros RGTR 703 e 732, que ligam a comuna francesa de Mont-Saint-Martin ao Luxemburgo, foram suspensas por motivos de segurança. Uma decisão repudiada pela autarquia do município francês, que diz não ter sido consultada a propósito da redução deste serviço.
"Sejamos claros, a comuna de Mont-Saint-Martin não é, de modo algum, responsável pelo encerramento das linhas do RGTR após as 18h30", começa por dizer o presidente da câmara da cidade transfronteiriça francesa, para por fim aos rumores que têm circulado nas redes sociais nos últimos meses.
Serge De Carli reconhece a existência de episódios de violência nos autocarros destas linhas. "Condeno veementemente estes atos. A segurança de todos os utilizadores destes autocarros, bem como dos motoristas, não é discutível. Não foi por acaso que Mont-Saint-Martin foi a primeira cidade da região a estar protegida com dezenas de câmaras. Os eventos com que estamos hoje a lidar sugerem que devemos reforçar este sistema de videovigilância. Já fomos confrontados com problemas semelhantes no passado, nas linhas TGL (Transport du Grand Longwy), e conseguimos contê-los graças à polícia."
Município defende criação de paragens alternativas
O autarca acredita que existem soluções para retomar a circulação nestas linhas "cruciais", garantindo a segurança dos condutores e utilizadores. Serge De Carli terá, mesmo, tentado apresentá-las ao ministro da Mobilidade, François Bausch (déi Gréng), que está por detrás da decisão de suspender o serviço. Mas, segundo diz, deparou-se com uma parede. "Nunca me consultaram sobre esta decisão. Após vários pedidos, conseguimos finalmente marcar uma reunião com o ministro Bausch, na sexta-feira passada, em Kirchberg."
Um encontro que não decorreu como planeado. "Disseram-me que o ministro estaria ausente. Como eu estava em Paris para o Congresso de Presidentes de Câmara, foi o meu primeiro vereador que lá foi. Foi recebido por um "técnico" do gabinete de Mobilidade do Luxemburgo (Sergio Prado, da Administração dos Transportes Públicos, responsável pelos autocarros RGTR), o que não nos permitiu encontrar quaisquer soluções concretas."
Os trabalhadores transfronteiriços têm, literalmente, medo de perder os seus empregos porque não se podem deslocar.
Para dar resposta ao problema, o município apela, nomeadamente, à instalação de paragens alternativas que evitem as ruas onde os ataques tiveram lugar. "Estou a pensar numa paragem no boulevard de Metz e perto da loja Auchan. Claro que os utilizadores teriam de andar um pouco mais, mas isso seria muito menos restritivo do que agora. Os trabalhadores transfronteiriços têm, literalmente, medo de perder os seus empregos porque não se podem deslocar".
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Situação difícil para os 30% dos habitantes que trabalham no Luxemburgo
A situação é de, facto, urgente para os 30% dos habitantes da comuna francesa que trabalham no Luxemburgo. "E, entre esta população de trabalhadores transfronteiriços, há muitas mulheres a viver sozinhas e a fazer limpezas à noite em empresas no Luxemburgo", argumenta Serge De Carli. "Centenas delas foram privadas de mobilidade desde setembro e têm de encontrar diariamente soluções para chegar ao seu local de trabalho."
Para o autarca, a situação espelha uma "flagrante falta de coordenação entre o Estado luxemburguês e as cidades transfronteiriças". "Especialmente tendo em conta a mobilidade suave, defendida na aglomeração das três fronteiras, como parte da transição ecológica", salienta. "Do nosso lado, estamos a trabalhar ativamente nesta questão transfronteiriça. É claro que beneficiamos do poder de compra dos luxemburgueses e dos trabalhadores transfronteiriços, mas o Luxemburgo também beneficia da nossa mão-de-obra. O que está a acontecer hoje é injusto e constitui um verdadeiro golpe nesta esperança de cooperação entre as cidades da zona transfronteiriça e o Luxemburgo."
Desta forma, o município de Mont-Saint-Martin tomou várias medidas fim de se fazer ouvir perante o Luxemburgo e, mais particularmente, pelo Ministério da Mobilidade. A mais importante é uma petição para o restabelecimento destas linhas. Paralelamente, a autarquia contactou a presidência do pólo metropolitano transfronteiriço, que articulará o contacto com François Bausch para transmitir as propostas do lado francês. "Tencionamos também abordar o assunto com a Assembleia Nacional e, portanto, com a primeira-ministra, Elisabeth Borne", garante.
Luxemburgo diz estar à procura de soluções
Contactado pelo Virgule, o Ministério da Mobilidade do Luxemburgo não pareceu estar a par das medidas postas em prática pelo município de Mont-Saint-Martin. Contudo, fez questão de reiterar desde o início que "a segurança dos condutores e passageiros de autocarros é a prioridade absoluta". "Tendo em conta um aumento das agressões desde o verão de 2022, tomámos a decisão de remover temporariamente duas rotas RGTR para Mont-Saint-Martin", disse o ministério. "No entanto, estamos atualmente à procura da melhor solução juntamente com o município, a fim de permitir que os habitantes de Mont-Saint-Martin viajem de autocarro para o Luxemburgo. "
(Este artigo foi originalmente publicado no Virgule e adaptado para o Contacto por Maria Monteiro.)