Portugal diz que pode ser a salvação da Europa na crise do gás
Governo português quer ser a “porta de entrada” de energia na Europa e um produtor barato para reduzir a dependência da Rússia. Chanceler alemão quer avançar já com a solução.
Os dias frios estão a aproximar-se e os governos europeus, como o do Luxemburgo, estão já a anunciar medidas restritivas no consumo de energia, especialmente do gás, no outono e inverno, para fazer frente aos cortes russos de abastecimento.
Mas isso não chega. São precisas medidas de fundo e Portugal apresenta-se à Europa como a solução para esta crise energética. Em sintonia com Espanha e com a aprovação total da Alemanha, um dos países europeus muito dependente do gás russo.
O Governo português não tem dúvidas: Portugal e o porto de Sines podem vir a ser a “porta de entrada de energia” na Europa, de “proveniências muito diversas”, para reduzir a dependência do gás russo. A afirmação foi feita esta terça-feira pelo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes, durante o Summer CEmp da Comissão Europeia 2022 que decorre nos Açores.
Este é o “momento” ideal para avançar com o projeto. A “concretização das interligações energéticas entre Portugal, Espanha e o resto da Europa" é “uma coisa quase óbvia no contexto geopolítico” atual, lembrou o governante, defendendo que a União Europeia precisa de “encontrar alternativas ao fornecimento de matérias-primas energéticas vindas do leste, designadamente da Rússia”.
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A Europa precisa de ser autónoma nesta matéria e Portugal pode ser essencial nesta conquista. Além de ser a porta de entrada da UE, no futuro, o país tem “um potencial enorme para a produção de gases renováveis em particular de hidrogénio verde, que podemos produzir de forma barata e de forma bastante eficiente em Portugal e que podemos exportar para o resto da Europa”, vinca o secretário de Estado.
“Só deixaremos de ter essas dependências e essas vulnerabilidades energéticas a que agora estamos a assistir quando tivermos um verdadeiro mercado europeu de energia, plenamente integrado e para isso temos de ter ligações”, reforçou.
O apoio da Alemanha
O desígnio antigo de Portugal e Espanha de abastecerem a Europa e que tem encontrado entraves, nomeadamente de França, é agora saudado pelo chanceler alemão Olaf Scholz que apelou à construção de um gasoduto pan-europeu a partir de Portugal para a UE, nomeadamente para a Alemanha.
Esta terça-feira Olaf Scholz voltou a manifestar o seu apoio e vincou a urgência na construção do gasoduto para tornar a União Europeia e sobretudo o seu país menos dependente do gás russo.
A Alemanha fará "o possível" para concretizar os projetos relacionados com as interconexões europeias de energia e para que se aproveitam mais as capacidades e possibilidades de Portugal e Espanha nesta matéria, reforçou Scholz, numa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que foi hoje convidado a participar numa reunião do Conselho de Ministros da Alemanha, em Meseberg, perto de Berlim.
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A aliada Espanha
Pedro Sánchez, por seu turno, reiterou que Portugal e Espanha pedem há anos que se acelerem as ligações para transporte de energia entre a Península Ibérica e o resto da Europa e lembrou também os obstáculos de França.
Contudo, o governante espanhol adiantou que se o projeto do gasoduto dos Pirenéus "não se desenvolver ao ritmo adequado", por obstáculos franceses, a própria UE definiu "outra possibilidade", que é a de uma ligação com Itália. O mesmo já tinha anunciado o primeiro-ministro português António Costa.
Pedro Sanchez é claro: A ligação europeia tem de ser construída e também Espanha está disposta a ser solidária e a responder à chamada" de países como a Alemanha "que estão a sofrer a chantagem de Putin".
Recorde-se que a crise energética na Europa foi desencadeada por Moscovo que ameaça cortar o fornecimento do gás à Europa como represália pelas sanções impostas pela UE devido à invasão russa da Ucrânia.
*com agência Lusa