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Colômbia. Pedaços de corpos de opositores aparecem em várias partes do país

O horror está, uma vez mais, a tomar conta de um país em que protestar contra o Governo pode significar arriscar a vida.

© Créditos: AFP

Bruno Carlos Amaral De Carvalho

Segunda-feira, 21 de julho, vai marcar a história da Colômbia. O dia em que o horror voltou a bater à porta daquele país da América do Sul. Primeiro apareceram dois pés decepados num canal de esgoto a céu aberto na cidade de Cali. Depois, um corpo da cintura para cima dentro de uma bolsa no meio de detritos. No mesmo dia, imagens de um cadáver a ser levado pela corrente do rio Cauca apareceram nas redes sociais quando não muito longe dali, em Tuluá, apareceu um saco de plástico preto numa praça. Dentro, tinha a cabeça do jovem Santiago Ochoa que terá desaparecido durante uma manifestação contra o Governo colombiano. Mas o terror e o cheiro a morte não deram descanso. Ao fim do dia, outro manifestante foi assassinado pela polícia nos arredores de Bogotá e um líder sindical anunciou que abandonava o país depois de várias ameaças de morte.

No dia em que o número de mortes devido à covid-19 ultrapassou as 100 mil pessoas, houve quem questionasse a preocupação do Governo com a pandemia quando há opositores assassinados praticamente todos os dias. Partes de corpos de opositores estão a aparecer em vários pontos do país. O assassinato através de motosserra é prática comum de paramilitares, polícias e soldados num país em que as execuções extrajudiciais fazem parte do dia-a-dia.

Com uma luta sem precedente nas ruas da Colômbia, milhares de jovens ocupam as ruas e reclamam o fim da violência de Estado e direitos sociais. A um ano das eleições presidenciais a tensão é palpável. Depois das vagas de protestos que resultaram na eleição de um Presidente de esquerda no Peru e na possível vitória de um candidato de esquerda no Chile, a direita teme o efeito dominó.

Em 2017, as FARC entregaram as armas depois de um acordo de paz que não foi cumprido. Desde então, já foram assassinados mais de 200 ex-guerrilheiros. Mulheres e homens que acreditaram na palavra do Governo e que acabaram sepultados pela violência.

Agora, após 50 dias de protestos, o regime colombiano já matou meia centena de manifestantes. Organizações como a Human Rights Watch relatam que há ainda 84 pessoas cujo paradeiro é desconhecido e 2 mil feridos. As acusações de abusos policiais chamaram a atenção da comunidade internacional e a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos realizou uma visita, cujas conclusões ainda se aguardam. O Governo assegura que os abusos foram casos isolados e não uma prática sistemática. Mas a realidade demonstra o contrário.

A última metade do século XX e as primeiras décadas deste mostram que a violência estatal está absolutamente normalizada. Segundo o El País, 8 mil colombianos terão sido assassinados durante os governos de Alvaro Uribe, entre 2002 e 2010. Os dados são “especialmente incríveis” se comparados com o número de assassinados e desaparecidos durante a ditadura de Pinochet. No Chile, em 17 anos, foram executadas 3200 pessoas.

Apesar de a Colômbia ser vista pela grande parte dos países do mundo como tendo um regime democrático, entre 1988 e 1990, só do partido União Patriótica, foram assassinados dois candidatos presidenciais, 5 deputados, 11 deputados regionais, 8 presidentes de câmara e 109 vereadores. No total, 4153 militantes assassinados.

Em apenas cinco anos, desde 2016, pelo menos 904 líderes sociais e 276 ex-combatentes das FARC foram mortos, de acordo com um relatório da Jurisdição Especial para a Paz (JEP).